Semana de 03 a 09 de fevereiro de 2020
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
O Brasil está passando por um conjunto de reformas
estruturais. Claro, como já vem sendo posto na presente coluna há tempo, tais
reformas têm apresentado um caráter negativo para a classe trabalhadora. A bola
da vez agora, é a reforma tributária.
Duas são as propostas principais em discussão na
atualidade: uma na Câmara dos Deputados (PEC 45/2019), a outra no Senado (PEC
110/2019). Segundo trecho do site da Câmara: “Em ambas as proposições, a
alteração do Sistema Tributário Nacional tem como principal objetivo a
simplificação e a racionalização da tributação sobre a produção e a
comercialização de bens e a prestação de serviços”. Isto já mostra que ambas
estão partindo do ponto errado, pois visam essencialmente simplificar os
tributos indiretos.
Basicamente esses tributos são pagos por um
indivíduo e repassados ao governo por outro (por isso são indiretos). Por
exemplo, os tributos indiretos são os que recaem sobre a aquisição de bens e
serviços em geral, como é o caso do ICMS, pago por quem compra uma mercadoria
(consumidor) e repassado ao governo por quem vende (empresário, caso este não
seja um sonegador). Por outro lado, existem os tributos diretos, que recaem
diretamente sobre o devedor. É o caso do imposto de renda, por exemplo: quem
tem renda mensal acima de R$ 1.903,98 é obrigado a pagar à Receita Federal um
percentual dessa renda como imposto. É o indivíduo pagando diretamente ao
Estado, tendo parte da sua renda retida na fonte (o que diminui a possibilidade
de sonegação).
Agora o leitor se pergunta, por que é importante se
compreender a diferença entre os dois tipos de tributos? Vamos fazer um
exercício bem simplificado.
Vamos admitir que existem duas famílias, uma que
recebe mensalmente R$ 2.000 e gasta um total de R$ 500 “na feira” todo mês, e a
outra família recebe R$ 50.000 por mês e gasta “na feira” um total de R$ 5.000
cada mês. Vamos supor que a tributação indireta média sobre “a feira” seja de
20%, ou seja, de cada R$ 100 que se gasta “na feira”, R$ 20 é imposto. Assim,
os impostos indiretos pagos “na feira” pela família mais pobre totalizam R$
100, enquanto a família mais rica paga de imposto indireto com “a feira” um
total de R$ 1.000. Colocando o pagamento de impostos de cada família como
proporção da sua respectiva renda, a gente vê a perversidade desse tipo de
tributação. Enquanto a família mais pobre gasta um percentual de 5% da renda
com impostos indiretos (R$ 100/R$ 2.000), a família mais rica, que gasta 10
vezes mais “na feira”, paga um percentual de 2% da renda em impostos indiretos
(R$ 1.000/R$ 50.000). Isto é piorado pela estrutura tributária brasileira.
Parte dos bens e serviços consumidos pelos mais ricos (bens de luxo) tem uma
incidência tributária diferenciada. É o exemplo dos iates e helicópteros, que
não pagam alguns impostos, enquanto a família que anda de moto tem que pagar o
IPVA. No exemplo acima descrito, o total arrecadado é R$ 1.100.
Agora, vejamos o caso do imposto direto sobre a
renda.
Vamos admitir as mesmas famílias, com o mesmo
rendimento mensal: R$ 2.000 e R$ 50.000. Neste caso, vamos admitir que os
impostos incidam diretamente sobre a renda e a alíquota seja de 5% (que é o
mesmo percentual pago pela família mais pobre no exemplo anterior). Desta
forma, a família mais pobre paga os mesmos R$ 100 de antes (5% sobre R$ 2.000),
enquanto a família mais rica paga um imposto total de R$ 2.500 (5% sobre R$
50.000). Como arrecadação total nesse sistema de tributação direta sobre a
renda, teríamos um valor de R$ 2.600. Além da arrecadação no exemplo ter sido
maior, temos maior equidade, pois todos pagam um valor proporcional à renda que
recebem.
Se quiséssemos ampliar as possibilidades e
introduzir as discussões que têm tomado o debate econômico em escala
internacional, poderíamos introduzir na discussão o conceito de justiça social.
Nele, como forma de amenizar as mazelas históricas e as distorções que qualquer
economia de mercado (economia capitalista) gera, discute-se formas de melhorar
a distribuição de renda para a parcela mais pobre da população.
Nesse contexto, a questão que se coloca é: a elite
brasileira está disposta a fazer isso? Se não, o que a classe trabalhadora está
disposta a fazer? À luta!
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com;
lucasmilanez@hotmail.com)
Gostei muito das referencias desse blog para o colégio zona norte SP, escolha importante esse assunto
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