quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Economia estagnada e governo trapalhão


Semana de 17 a 23 de fevereiro de 2020

Nelson Rosas Ribeiro[i]
           
Com a situação de estagnação da economia era de se esperar que o governo estivesse concentrando todas as suas forças para ultrapassar a difícil situação. Mas não foi isto que ocorreu. A semana que passou esteve muito agitada, mas não por razões econômicas. Os grandes acontecimentos, ou melhor, as grandes trapalhadas foram causadas pelos membros do próprio governo a começar pelo insensato presidente, ao fazer grosseiras e machistas referências a uma jornalista, perante sua claque imbecil, paga para rir e aplaudir seus medíocres comentários na porta do palácio. Não satisfeito, acusou o governador da Bahia pelo assassinato do miliciano Adriano da Nóbrega e, em vez de aplausos, recebeu uma carta assinada por 20 governadores repudiando a maldosa e descabida insinuação. A bola passou então para o poderoso sinistro da Economia Paulo Guedes. Depois de declarar-se satisfeito com a alta do dólar, afirmou que, com o dólar baixo, qualquer pé rapado, como as empregadas domésticas, podia ficar viajando para a Disneylândia em vez de ir ver as belezas de Cachoeiro do Itapemirim. Mas ainda foi pouco. Foi preciso a ratazana velha mostrar seus dentes e rosnar um “foda-se” contra o Congresso Nacional, chamado de chantagista. O general Heleno, iminência parda do governo, encabeça agora a tropa de generais na convocação das manifestações de março em apoio ao governo.
Outro acontecimento que ocupou a semana foi a revolta das polícias que ocorre em vários estados e atingiu níveis de motim no Ceará, estado governado pelo PT. A rebelião culminou com os disparos de arma de fogo que atingiram o senador Cid Gomes e levou ao decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) com envio de tropas federais.
Estes acontecimentos tiraram o foco do cenário econômico onde se agravam as tendências por nós apontadas até agora. No panorama internacional, no Japão, no último trimestre de 2019, o Produto Interno Bruto (PIB) sofreu a maior contração em cinco anos. Em relação ao trimestre anterior a queda foi de 6,3% e espera-se nova queda no primeiro trimestre de 2020. Os gastos com bens de capital caíram 14,1% e as exportações 0,4%. Cingapura e Coréia do Sul começaram a tomar medidas emergenciais contra a desaceleração. A ameaça do corona vírus fez algumas grandes companhias, como a Apple, informar que não atingirá suas metas de produção e lucratividade, provocando pânico nas bolsas.
Embora estas ressacas internacionais ainda não tenham atingido nossas praias, a economia do país continua a arrastar-se para desespero do super sinistro da Economia Guedes que levou um puxão de orelhas do presidente, que exige resultados. Depois de desmoralizar as previsões oficiais de crescimento em torno de 3%, o PIB cresceu 1,3% em 2017 e 2018. Agora em 2019, a previsão que era de 2,5% já está rebaixada para 1%, apesar das reformas trabalhistas e da previdência, que prometiam milagres. Nem a atração dos capitais estrangeiros se confirmou.
Segundo Renato Baumann, secretário de Investimentos Estrangeiros da Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex) ligada ao Ministério da Economia, só 15% dos investimentos estrangeiros diretos vieram para abertura de novos negócios. 85% se destinaram a compra de empresas existentes e a preço de banana. Além disso, não vieram para atividades industriais, mas sim para serviços.
Os fracos resultados econômicos provocam lamentações gerais. Segundo estudo feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) esta é a mais lenta recuperação que o país já conheceu. Há 22 trimestres que a produção está abaixo dos níveis de 2014 a 2016. Lamentavelmente a pouca demanda existente está sendo suprida pelas importações, apesar da indústria estar trabalhando com 70,6% da capacidade instalada. O Ibre da FGV calcula que o PIB no último trimestre cresceu apenas 0,6% e que a FBCF encolheu 0,8%. Estimou ainda, para 2019, um crescimento de 1,2%. A produção de bens de capital caiu 0,4% e as importações subiram 18,2%. O Banco Central publicou o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) para 2019: 0,89%.  É para apoiar estes resultados que o governo está convocando as manifestações para meados de março.

[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).

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