sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Incompetência, ignorância e economia: nada mudou


Semana de 27 de janeiro a 02 de fevereiro de 2020

Rosângela Palhano Ramalho [i]

Caro leitor, o desgoverno brasileiro continua. As demonstrações de incompetência e desconexão da realidade tornaram-se uma prática corriqueira da atual administração federal. Com teses gerais que podem ser desmontadas por uma criança de 5 anos, olavistas terraplanistas e o incapaz ministro da Educação, continuam a produzir lambanças na pasta. A credibilidade do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) foi comprometida à medida que os estudantes passaram a detectar as falhas na divulgação dos resultados que culminaram em intervenção do Poder Judiciário. A trapalhada rendeu um convite do Senado ao ministro para que ele preste explicações sobre o ocorrido.
A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, continua a confundir posições religiosas com aplicação de políticas públicas e vai pôr em ação peças publicitárias que aconselham abstinência para prevenir a gravidez na adolescência. Especialistas da área da Saúde pediátrica e obstétrica já lançaram uma série de protestos, pois segundo eles, os resultados desta ação serão nulos.
Outra incompetência colossal foi registrada no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Renato Vieira, presidente do órgão, demitiu-se após a polêmica sobre a fila de 2 milhões de pedidos de benefícios, que se formou e que poderia ter sido prevista, a partir das discussões iniciais sobre a Reforma da Previdência. Agora, para resolver o problema, serão contratados militares da reserva e servidores civis aposentados. O problema não foi criado pelo PT nem pelos comunistas que, segundo os seres inteligentes que compõem o governo, pretendem solapar o país e o mundo. O secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, disse que cerca de 1.500 servidores que se aposentaram recentemente atuavam como concessores de benefícios e o órgão optou por não contratar novos servidores.
Para fechar as indecências semanais, finamente abriram a caixa preta do BNDES. E? Nada. Indivíduos racionais já sabiam que este seria o resultado. Joaquim Levy, inclusive, foi demitido do órgão por não ter autoziado a abertura imediata da caixa de Pandora. O BNDES pagou R$ 48 milhões à consultoria da Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLP, para analisar as operações realizadas entre 2005 e 2018. O atual presidente da instituição Gustavo Montezano, teve que admitir: “não há nada mais a se esclarecer a respeito...”. Em vez de bradar seu fracasso, mostrou-se inconformado por não ter encontrado irregularidades: “A verdade é que a gente concluiu que não houve nada de ilegal. A gente construiu leis, normas e aparatos legais e jurídicos que tornaram legal esse esquema de corrupção.” Que esquema? Não houve esquema algum!
Em meio à ignorância e a incompetência, esperanças são lançadas à melhora da conjuntura econômica. Mas, aí não há novidades. Embora se alardeie que a economia está em recuperação, nada de concreto temos para confirmar esta informação.
O Ministério da Economia divulgou que as empresas estatais federais investiram R$ 58,3 bilhões no ano passado. Comparado aos valores de 2018, os investimentos são 31,3% inferiores. A Petrobras foi a estatal que mais investiu no País (R$ 50,9 bilhões), número 36% menor que o de 2018.
No mercado de trabalho, foram criadas em 2019, segundo o Ministério da Economia, 644 mil vagas de trabalho com carteira assinada no país. A contratação foi puxada pelas micro e pequenas empresas, que terminaram o ano com um saldo de 731 mil pontos de trabalho. Em contrapartida, as médias e grandes empresas fecharam 88 mil vagas no ano passado. O resultado veio como alento para a conjuntura. O secretário do Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Dalcolmo, afirmou que o “...emprego tem dado mostras de vigor e sustentabilidade. A tendência é de alta.”
Mas os dados trazem um alerta. A este ritmo, serão necessários mais dois anos para o país recuperar o total de vagas perdidas com a recessão, pois entre 2015 e 2017, o Brasil fechou 2,9 milhões de empregos formais e entre 2018 e 2019, foram abertas 1,2 milhão de vagas, insuficientes para a reposição da perda.
Pouco a pouco, os indicadores de 2019 estão sendo divulgados. E ao contrário do que se propagou, eles novamente lançam incerteza sobre a nossa recuperação.

[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com.br) Contato: rospalhano@yahoo.com.br

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