Semana de 17 a 22 de março de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Fazer esta afirmação agora é muito fácil.
Todos concordam. Jim O’Neil, o criador do temo BRICS, afirmou em entrevista ao
jornal Valor: “Nós estamos quase definitivamente em recessão”. Claudia Safatle,
colunista deste jornal, também afirmou: “A recessão é inevitável”. Para
Kristalina Georgieva, diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI) a crise
será pior que a de 2008.
E a causa já foi identificada, para a
felicidade dos economistas: é o coronavírus. O maldito vírus criado pelos
chineses (segundo o filho do presidente) para conquistar o mundo.
Consequentemente a culpa é do comunismo e o clã bolsominio está em festa.
Os economistas também comemoram. Há uma
causa da crise. Esta é a crise do coronavírus como já havíamos batizado 2
semanas atrás em nossa Análise. Na verdade, já vínhamos acompanhando a
aproximação da crise desde meados de 2019. Outros analistas também
identificavam a marcha do fenômeno. No dia 13 de agosto do ano passado a
colunista e editora do Financial Times, em Nova York, em um artigo publicado no
Valor Econômico intitulado “A caminho da desaceleração global”, afirmava: “Não
acho que seja uma questão de se veremos um “crash” – a questão é porque ainda
não começou”. E concluia: “a retração global já começou”.
Todos se recusavam a ver a aproximação da
tempestade apoiados pela ideologia econômica dominante. Como não conseguem
encontrar uma explicação para o fenômeno tentam desesperadamente negar sua
existência.
Segundo a teoria do ciclo econômico quando
as tensões atingem um determinado nível, inevitavelmente a fase de crise
começará. O problema é saber quando e qual o agente deflagrador. Deflagrador,
repito, e não causador. Para dificultar as análises e prognósticos tivemos
agora 2 agentes deflagradores: o preço do petróleo (preço de monopólio) e o
coronavírus, um fator não econômico. Se a questão dos preços de monopólio já
complica a análise, o fator não econômico, um vírus, absolutamente imprevisível
e inusitado, não está considerado em nenhuma teoria e nem seria possível
incluí-lo. Esta é a grande novidade que complica as análises e que exigirá
muita criatividade dos analistas para fazer prognósticos.
O quadro atual é desolador quer no plano
mundial como interno. A propagação do vírus, além dos mortos, enche os
hospitais de enfermos e leva à ruptura dos sistemas hospitalares.
Frequentemente os médicos são obrigados a definir a quem darão assistência e
quem morrerá por falta de recursos. Os governos são obrigados a decretar
quarentenas e confinar as populações às residências provocando a paralisação da
produção e destruindo as cadeias de valor e de abastecimento. Em um mundo globalizado caminhamos para a
catástrofe econômica. As pessoas confinadas não trabalham. Sem trabalho não há
produção nem salários. Sem salários não há demanda e as fábricas e comércio
param. Instala-se o caos social e econômico.
Os dados enchem os jornais e seria
cansativo citá-los. As fábricas fecham e demitem ou dão férias coletivas ou
fazem layoff dos operários. O comércio fecha e age da mesma forma. Sem
faturamento as empresas não pagam seus compromissos e a inadimplência se
alastra. As ações perdem o valor e as bolsas despencam provocando o efeito
manada e o caos financeiro. Para exemplificar, só 3 empresas, CVC, Gol e Azul
perderam 81% de seu valor de mercado.
Os governos tomam medidas desesperadas para
conter o caos. Socorro às empresas (quantitative easing – QE – novamente) ou
mesmo nacionalizações. Fala-se em QE para os trabalhadores (jogar dinheiro de
helicóptero) para as pessoas poderem consumir. Já há exemplos disso em Hong
Kong, Macau, Singapura. Nos EUA programam pagar US$1.000 a cada pessoa. O FMI
já prepara US$1 trilhão para injetar na economia e o Banco Mundial outros
US$150 bilhões. Os Bancos Centrais preparam-se. E enquanto o mundo desaba, o
presidente Bolsonaro, como um demente, chama a pandemia de gripezinha,
desautoriza seu ministro da Saúde, convoca manifestações de rua contra a
república e os demais poderes e namora com a ditadura. Até quando?
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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