Semana de 02 a 08 de março de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Em várias Análises anteriores chamamos a
atenção para a aproximação de uma nova fase de crise do ciclo econômico
mundial. Como os leitores sabem, nossas análises de conjuntura estão baseadas
na teoria dos ciclos econômicos. A economia move-se impulsionada pelas leis que
regem este fenômeno.
Já vínhamos apontando os sinais e dados que
mostravam que esta nova fase de crise do ciclo estava em gestação. A última
crise foi em 2008/2009 e já se passaram 10 anos, que é um tempo mais que
suficiente para a repetição da fase de crise. Desde 2008 o comportamento do
ciclo teve algumas particularidades a começar pela intervenção maciça dos
bancos centrais para conter o estouro, com a injeção de trilhões de dólares e o
endividamento acelerado dos estados. A duras penas a economia mundial se
recuperou embora o crescimento tenha se dado a taxas mais modestas.
Passados 10 anos as tensões se acumularam e
estava chegando a hora de novo estouro. O coronavírus foi a salvação dos
economistas. Encontraram uma nova desculpa, uma nova causa da crise. A crise
que se inicia ficará conhecida como a crise do coronavírus.
As bolsas estão em pânico. Em um só dia a Petrobrás perdeu R$91 bilhões
em valor de mercado. A semana passada foi a pior semana desde 2008. As bolsas
no mundo estouraram US$ 6 trilhões, segundo o Banco de Compensações
Internacionais (BIS) espécie de Banco dos Bancos Centrais. A queda das ações na
bolsa de Nova York foi pior que nas crises de 2000 e 2008. A Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE) reduziu suas estimativas de crescimento
da economia mundial de 2,9% para 2,4% admitindo que esta queda poderá ser para
1,5%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) já disponibilizou US$ 50 bilhões
para ajudar os países atingidos pela epidemia e enviou um comunicado que está
pronto para atender a demanda de ajuda. O Banco Mundial (BM) também enviou
comunicado com conteúdo semelhante. Prepara-se uma articulação mundial para uma
ação coordenada dos bancos centrais e o Federal Reserve (Fed) Banco Central dos
EUA já declarou sua intenção de fazer uma redução dos juros de 0,5%. O Banco
Central do Japão (Boj) comunicou que agirá para estabilizar os mercados e o
Banco Central Europeu afirmou estar preparado para tomar as medidas necessárias
para enfrentar a crise.
Por cá a situação foi ainda mais agravada
pela divulgação, pelo IBGE, do PIB de 2019. O crescimento foi de 1,1%. A
previsão do governo de crescer 2,5% foi reduzida a este pibinho, para desespero
da “equipe dos pesadelos” do sinistro Guedes. A construção civil que era a
grande esperança caiu 2,5% no quarto trimestre de 2019. O investimento também
caiu 3,3% e o consumo do governo cresceu apenas 0,4%. A participação da
indústria de transformação no PIB atingiu 11%, o menor nível da série histórica
do IBGE iniciada em 1996.
O pânico explodiu a bolsa e o Circuit
Breaker, sistema automático que desliga os computadores do pregão, disparou
paralisando os negócios. Isto acontece quando a queda nos valores negociados
atinge 10% em um só dia. Na contramão, o dólar subiu chegando aos R$ 4,79
obrigando o Banco Central a vender R$ 3 bilhões em um só dia.
Além do coronavírus e do pibinho um novo
fator, a queda dos preços do petróleo contribuiu para agravar a situação. Do
exterior importamos os efeitos do covid19 que ao atacar os trabalhadores e
provocar as quarentenas impediu as pessoas de trabalhar parando a produção.
Empresa que não produz não fatura e não pode pagar suas dívidas. A ameaça de
quebradeira provoca correria para a venda das ações. As quarentenas impedem o
turismo e as viagens. A queda dos preços do petróleo afeta a lucratividade de
todo o setor petroleiro. A austeridade fiscal de Guedes impede os investimentos
do Estado, sem demanda os investimentos privados param. Só faltavam as
trapalhadas ditatoriais e conclamações do governo contra os outros poderes para
completar.
Estão assim dadas as condições para a
tempestade perfeita. Preparemo-nos.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
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