Semana de 08 a 14 de junho de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A fase de crise do ciclo econômico em que
nos encontramos continua em marcha, agravada fortemente pela covid-19. Este é a
novidade da crise atual. Não é uma crise provocada pelo coronavírus, mas
deflagrada e aprofundada por ele. Esta particularidade facilita a vida dos
economistas oficiais pois os absolvem de qualquer culpa. O capitalismo foi
atacado por uma enfermidade que lhe é externa. Foi um capricho da natureza ou
uma punição divina pelos pecados da humanidade, a exemplo de Sodoma e Gomorra.
Nestas circunstâncias, analisar a
conjuntura torna-se muito fácil. É só consultar o manual e lá está o que
costuma ocorrer. Continuamos a lembrar que a crise já se apresentava a partir
de janeiro, com a desaceleração da economia, que continuou em fevereiro e
março. Como sabemos, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que em 2019
foi de 1,1%, no primeiro trimestre de 2020, caiu para -1,5%. Esta queda não se
deveu ao vírus que só começou seu ataque a partir de março. A partir daí, a
covid-19 manifestou-se e a situação se precipitou. O curioso é que o “mercado”
não viu isto. As previsões sobre as taxas de crescimento do PIB, feitas pelo
Banco Central (BC), sem seu Boletim Focus, foram de 2,3% em 10 de janeiro,
manteve-se em 2,3% em 7 de fevereiro, em 2,0% em 6 de março e só a partir de 10
de abril caiu para -2,0%. Parece que a ficha finalmente caiu. Estava instalado
o terror. Em 8 de maio a previsão foi para -4,1% e em 5 de junho para -6,5%.
Por todos os lados o pessimismo cresce.
Para o Banco Mundial (BM), a queda do PIB anual será de -8,8%. A Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE) prevê uma queda de -7,4% mas, se
houver uma segunda onda da covid-19, a queda será de 9,1%. No Brasil, os bancos
estimam em -7,7%. O Ipea, em sua Carta de Conjuntura, propõe -6% sendo só no
segundo trimestre uma queda de -0,5%. Para o segundo trimestre as quedas
atingem quase todos os setores: Indústria -13,8%, serviços -13,8%,
Investimentos -18,7%, Importações -14,9%, Exportações -10,9%, consumo das
famílias -11,2% e do governo -0,8%. As consequências disto para o emprego são
visíveis. Só em maio foram feitos 960,3 mil pedidos de seguro desemprego. Um
crescimento de 53% em relação ao mês anterior.
Para o agronegócio a situação não é melhor.
O Centro de Estudos em Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Agro)
divulgou a queda de -5,1% no seu Índice de Produção Agroindustrial Brasileira
(PIMAgro), em abril. As quedas foram de -5,8% para produtos alimentícios e
bebidas, de -27,4% para produtos não-alimentícios e de -16,5% para a
agroindústria.
A nível interacional a situação é
igualmente adversa. O Federal Reserve (Fed), Banco Central americano, afirma
que manterá suas taxas de juros próximas a zero diante da catástrofe econômica.
A retração para a economia dos EUA é estimada entre -5,5% e - 7,5%, para o ano,
e não se atingiu ainda o fundo do poço. O desemprego cresce e permanecerá
elevado mesmo depois da retomada.
Tal quadro adverso deveria levar o governo
a concentrar todas suas forças no combate à pandemia e na tomada de decisões
para minorar os efeitos da crise econômica o que tem sido feito em todo o
mundo. Infelizmente tal não ocorre. O presidente diverte-se continuando a
sabotar o combate à enfermidade contribuindo com sua atitude irresponsável para
a morte de milhares de brasileiros. Ainda lhe sobra tempo para fazer todo tipo
de provocações aos outros poderes da república. Executa seu projeto de instalar
uma ditadura, sob seu comando, apoiado por um bando de fanáticos fascistoides,
cada vez mais armado, e por parte de uma burguesia extremamente reacionária.
Chantageia ainda a sociedade com o apoio de um grupo de generais de pijama
saudosista dos anos da ditadura militar dos anos 64 e que ainda não lavaram as
mãos do sangue dos torturados e assassinados na época em que o exército esteve
no poder.
Fácil é prever a evolução da economia: vai
piorar. Difícil é saber o que ocorrerá com a nossa débil democracia tutelada
por forças armadas reacionárias.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Daniella Gonçalo, Ingrid Trindade, Matheus Quaresma e Monik
H. Pinto.
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