Semana de 25 a 31 de maio de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Continuamos sob o impacto do coronavirus
que se espalha pelo mundo. Enquanto em alguns países o pico do contágio ficou
para trás e eles iniciam a abertura, outros intensificam o isolamento social.
Este é o nosso caso. Os números de mortos e infectados continua a aumentar, mas
a pressão dos empresários e governo federal está levando, em alguns lugares, ao
início do relaxamento das medidas restritivas ao movimento das pessoas. O risco
da situação piorar é grande e não estamos livres da calamidade. O pior é que,
apesar de toda a tragédia ainda aparecem os que tentam tirar proveito da
situação com ações fraudulentas.
Além dos problemas humanos, o vírus traz
consequências econômicas. Com a quarentena as pessoas não podem trabalhar, as
empresas fecham, os salários caem, a demanda é esmagada. A crise estoura pelos
dois lados: o da demanda e o da oferta.
É importante destacar, porém, dois
aspectos. Primeiro, a responsabilidade pela desaceleração da economia não é do
isolamento social, mas do covid-19. O isolamento social é a única alternativa
existente hoje para combater o vírus. Não há outra solução. Em segundo lugar, a
responsabilidade pela crise econômica não é apenas do vírus. Antes da pandemia
se instalar, a economia mundial e local já estavam entrando em uma fase de
crise conforme vínhamos anunciando e acompanhando em nossas Análises
anteriores. O vírus precipitou a explosão.
Agora, a realidade objetiva da qual não
podemos fugir é que estamos diante de uma pandemia que ameaça a espécie humana,
esta pandemia associou-se a uma fase de crise do ciclo econômico e não temos
remédio para combater a enfermidade exceto o isolamento social. Mas temos
caminhos para combater a crise. Isto depende da competência dos dirigentes
políticos, dos economistas e das políticas econômicas a serem implementadas.
Certamente as políticas propostas pelo super sinistro da economia Guedes não
contribuirão em nada para isto, mas, pelo contrário, agravarão o cenário.
No campo econômico, o que está ocorrendo e
vai continuar a ocorrer é perfeitamente previsível. Estamos diante de uma
desaceleração e de uma recessão com algumas peculiaridades. Todos os dias os
dados confirmam esta situação.
Segundo o Instituto Brasileiro de Economia
da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), no primeiro trimestre, em relação ao
último de 2019, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu -1,5% e os investimentos
-0,5%. Para o total do ano a previsão é de uma queda de -5,4% para o PIB.
Segundo o Caged, em abril, foram perdidos 860,5 mil postos de trabalho. Segundo
o Ipea a indústria, também em abril, encolheu 36,1% em relação a março e o
varejo ampliando 34,7%. Esta situação deve continuar piorando.
Esta crise generalizada é ainda agravada
pela crise política provocada por um governo incompetente e desequilibrado que
namora com a ditadura e prepara a todo tempo uma ruptura institucional. Claro
que a instabilidade leva a fuga dos investimentos e capitais estrangeiros. Em
abril, os Investimentos Diretos no País (IDP) foram apenas de US$234 milhões,
quando o Banco Central (BC) estimava em US$1,5 bilhões. No mês, os estrangeiros
retiraram R$24,3 bilhões aplicados no financiamento da dívida pública federal
(DPF). Atualmente apenas 9,36% desta está nas mãos desses financiadores.
Mas as preocupações do governo não se
voltam para esses assuntos. Preocupa-se mais com desfiles a cavalo ou
helicóptero em manifestações ilegais que fazem apologia da intervenção militar
e agridem os outros poderes da república. Ao mesmo tempo precisa defender-se da
ação da justiça que ronda seus filhos e apoiadores acusados de atividades
ilegais e envolvimento com as milícias. A divulgação do vídeo da reunião do
conselho de ministros feita na semana colocou mais lenha na fogueira diante dos
pronunciamentos das autoridades aí reunidas. Foi uma vergonha nacional.
Assim continuamos à espera do golpe e com a
crise em marcha enquanto assistimos a desunião das forças democráticas
incapazes de aglutinar um movimento que possa deter a barbárie e o atraso.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Daniella Alves, Ingrid Trindade, Matheus Quaresma e Monik
Helen.
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