Semana de 14 a 20 de setembro de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A semana transcorreu assistindo aos embates
entre o presidente e o super sinistro da economia Paulo Guedes, o tal do posto
Ipiranga. O tema continuou a ser o programa Renda Brasil. A insistência do presidente na implementação
do programa fez o Guedes, emparedado pelo teto dos gastos, que ele considera
sagrado, buscar soluções, sempre na expectativa de não atingir os ricos e o
capital financeiro. Todas as soluções apresentadas tiravam recursos dos pobres:
acabar a indexação do salário mínimo, das aposentadorias e pensões; restringir
o Benefício de prestação continuada; acabar com o Farmácia Popular e com o
seguro defeso.
Preocupado com a repercussão nos votos e
pensando na reeleição Bolsonaro vetou todas as propostas: “Não vai tirar dos
pobres para salvar os paupérrimos”. A explosão final ocorreu na quarta feira
quando a proposta de Guedes para o Renda Brasil foi fulminada. “Renda Brasil
está suspenso”, bradou o presidente. Darei cartão vermelho para quem mantiver
tais propostas, são “gente que não tem o mínimo no coração”. E acrescentou:
“Até 2022 está proibido falar na palavra Renda Brasil. Vamos continuar com o
Bolsa Família e ponto final.” Encerrada a reunião e acossado pelos jornalistas
Guedes jogou a culpa no seu secretário especial de fazenda Waldery Rodrigues, e
disse que tudo não passou de “barulheira” e de uma discussão técnica mal
interpretada. Mas, recebeu determinações para não dar mais declarações fora da
área exclusivamente técnica.
A fúria do presidente durou pouco. A
necessidade de manter algum tipo de programa depois de dezembro, quando acabar
o auxílio emergencial de R$300, fez Bolsonaro encarregar o senador Marcio
Bittar (MDB-AC), relator do orçamento, da elaboração de nova proposta de
programa social, delegando plenos poderes para isso. O desgaste do sinistro
Guedes tornou-se evidente para o mercado que ficou muito nervoso. O ministro é
sustentado apenas pela promessa de que o teto dos gastos será mantido. O
senador Marcio reúne-se com Guedes, sem a presença do fritado Waldery, para
preparar a tal proposta. Todos aguardam a solução para conciliar o teto com o
novo programa, coisa que se apresenta difícil pois, estima-se que no próximo
ano o número de desempregados passará dos 20 milhões. Segundo os cálculos do
Instituto Fiscal Independente do Senado Federal, em seu Relatório de
Acompanhamento Fiscal (RAF), para isto será necessário cortar R$20,4 bilhões no
orçamento em 2021 o que pode provocar “shutdown” no governo.
Bolsonaro ainda fez outra declaração
importante. Na posse do General Pazuello voltou a defender a cloroquina
afirmando que ela teria evitado 30% das mortes e o fechamento das escolas. Seu
ministro da educação Milton Ribeiro já havia culpado os governadores e
prefeitos por esse fechamento e pedido a abertura imediata das aulas.
Na economia há uma boa notícia: a
siderurgia apresentou recuperação. Dos 13 fornos desligados 5 voltaram a
funcionar e o uso da capacidade instalada chegou a 42% provocando a euforia do
presidente do Instituto Aço Brasil que fala em recuperação em V. O Copom aprovou a manutenção da taxa de
referência Selic em 2% enquanto o Pantanal e a Amazônia continuam a arder e a
fome volta a aumentar no país atingindo 10,3 milhões de pessoas, segundo
pesquisa do IBGE.
Na economia mundial a Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE) em seu relatório “Vivendo com a
incerteza”, estima que o PIB global em 2020 cairá -4,5% o que significa a perda
de US$7 trilhões. Para o Brasil está prevista uma queda de -6,5%.
Para encerrar a semana merece destaque a carta enviada ao vice-presidente Hamilton Mourão, presidente do Conselho da Amazônia Legal, assinada por 8 países europeus Dinamarca, França, Alemanha, Holanda, Reino Unido, Itália, Noruega e Bélgica demonstrando “extrema preocupação” com as “taxas alarmantes” de desmatamento e exigindo “ações reais imediatas” para não prejudicar as relações comerciais entre os países. Vai doer no bolso do agronegócio.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Daniella Alves, Ingrid Trintade, Matheus Quaresma e Monik H.
Pinto.