Semana de 31 de agosto a 06 de
setembro de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Na semana passada comentamos a trágica
queda de 9,7% do PIB no segundo trimestre. Foi um desastre geral. A economia
foi toda abaixo. Já estamos no último mês do terceiro trimestre que se encerra
no final de setembro. Provavelmente não assistiremos à repetição do mesmo
desastre. Pode até haver crescimento. A mediana das previsões dos analistas é
de 5% de crescimento. Afinal não temos muito mais para cair. Com o levantamento
da quarentena passo a passo as atividades econômicas vão sendo retomadas embora
com um certo grau de irresponsabilidade. Vivemos sob a ameaça da segunda onda
da covid-19. Com a condução desastrosa de um presidente sem moral e sem
princípios que explora a ignorância e os sentimentos mais primitivos da
população a irresponsabilidade tem se generalizado. Em 14 dias já saberemos as
consequências.
Diante do resultado desastroso o super
sinistro da economia Paulo Guedes foi obrigado a inventar desculpas. A primeira
delas foi afirmar que o mau resultado representava o passado, mas que o futuro
era brilhante e a recuperação em marcha seria em V. Já falamos destas letras em
Análises anteriores. Os economistas falam em recuperação em V, U, W, L e já
houve quem propusesse a recuperação “serrote”, com a forma dos dentes de uma
serra. Os dados mostram que o pior já passou, mas infelizmente a recuperação
começou muito lentamente e com muita sorte terá a forma de U. Que o sinistro
Guedes é um mentiroso não é mais novidade. Aliás parece que este atributo pertence
a todos os ministros de pastas econômicas. É resultado das ideologias
econômicas que eles praticam. Eles pensam que economistas enganam capitalistas
e com isto podem criar boas expectativas que os levam a investir. Segundo
Guedes a economia do país estava crescendo no primeiro trimestre. Os dados de
2019 mostram os seguintes resultados por trimestres: 0,6%, 0,5%, 0,1%. Nos 3
primeiros a economia está encolhendo. No quarto trimestre o crescimento foi de
0,5%, houve crescimento. Em 2020, no entanto, o resultado foi -2,5% no primeiro
trimestre e agora -9,7% no segundo. No conjunto temos decrescimento geral.
Guedes está mentindo e a culpa não foi do Coronavirus, mas da política
econômica por ele praticada.
Obrigado a apresentar qualquer coisa,
Guedes além de prometer recuperação em V, sob pressão, apresentou o projeto de
reforma administrativa que já está provocando a maior celeuma por não tocar nas
categorias de elite e membros do Judiciário, Legislativo, Ministério Público e
Forças Armadas. Concordou também com a promessa de extensão do auxílio
emergencial até dezembro, mas reduzindo o valor para R$300,00. Mas, nada disso
pode fazer milagre. A economia segue seu curso e as estimativas para o PIB do
ano variam entre -4,5% e -7,3%. Para o IBGE a previsão é de queda de -6,1%, a
maior queda em 120 anos.
Há outros dados preocupantes. Entre janeiro
e agosto as importações caíram 12,3% e as exportações, 6,6%. As grandes
montadoras continuam com as medidas de suspensão de contratos, redução das
jornadas, demissões voluntárias e não pensam em empregar novos trabalhadores. A
capacidade ociosa permanece elevada. Enquanto isso a Covid-19 continua a sua
atividade de ceifar vidas e o número de mortos já ultrapassa os 125.000, número
um pouco maior que os 800 previstos pelo presidente com a sua “gripezinha”. Não
satisfeito Bolsonaro agora prega a liberdade dos brasileiros de não tomar a
vacina que está sendo produzida. Não é por acaso que uma pesquisa da
Universidade Federal do Rio de Janeiro mostrou que o número de afetados pela
Covid-19 é maior nos municípios onde Bolsonaro foi o mais votado no primeiro
turno das eleições.
Encerrando a semana o Banco Central (BC)
lançou a nova nota de R$200,00 com a figura do lobo guará, e o governo propõe a
extensão por mais 6 meses, em 2021, da desoneração da folha de pagamento das
empresas.
Apesar de todo este caos Bolsonaro continua a contar com o apoio de sua tropa de fanáticos, mas também do sistema financeiro, dos capitalistas e do agronegócio, além do centrão. Até no PSDB há apoios. Em um seminário deste partido, FHC lamentou que parte do partido namora com o Bolsonaro, daí a dificuldade de haver uma oposição consequente. Juntando a isto a desunião da esquerda corremos o risco de uma reeleição do monstro. O resultado das eleições municipais será um ótimo indicador. Aguardemos.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Daniella Alves, Ingrid Trindade, Matheus Quaresma e Monik H.
Pinto.
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