quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Ainda o Renda Brasil. Vai ou fica?

Semana de 14 a 20 de setembro de 2020

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

A semana transcorreu assistindo aos embates entre o presidente e o super sinistro da economia Paulo Guedes, o tal do posto Ipiranga. O tema continuou a ser o programa Renda Brasil.  A insistência do presidente na implementação do programa fez o Guedes, emparedado pelo teto dos gastos, que ele considera sagrado, buscar soluções, sempre na expectativa de não atingir os ricos e o capital financeiro. Todas as soluções apresentadas tiravam recursos dos pobres: acabar a indexação do salário mínimo, das aposentadorias e pensões; restringir o Benefício de prestação continuada; acabar com o Farmácia Popular e com o seguro defeso.

Preocupado com a repercussão nos votos e pensando na reeleição Bolsonaro vetou todas as propostas: “Não vai tirar dos pobres para salvar os paupérrimos”. A explosão final ocorreu na quarta feira quando a proposta de Guedes para o Renda Brasil foi fulminada. “Renda Brasil está suspenso”, bradou o presidente. Darei cartão vermelho para quem mantiver tais propostas, são “gente que não tem o mínimo no coração”. E acrescentou: “Até 2022 está proibido falar na palavra Renda Brasil. Vamos continuar com o Bolsa Família e ponto final.” Encerrada a reunião e acossado pelos jornalistas Guedes jogou a culpa no seu secretário especial de fazenda Waldery Rodrigues, e disse que tudo não passou de “barulheira” e de uma discussão técnica mal interpretada. Mas, recebeu determinações para não dar mais declarações fora da área exclusivamente técnica.

A fúria do presidente durou pouco. A necessidade de manter algum tipo de programa depois de dezembro, quando acabar o auxílio emergencial de R$300, fez Bolsonaro encarregar o senador Marcio Bittar (MDB-AC), relator do orçamento, da elaboração de nova proposta de programa social, delegando plenos poderes para isso. O desgaste do sinistro Guedes tornou-se evidente para o mercado que ficou muito nervoso. O ministro é sustentado apenas pela promessa de que o teto dos gastos será mantido. O senador Marcio reúne-se com Guedes, sem a presença do fritado Waldery, para preparar a tal proposta. Todos aguardam a solução para conciliar o teto com o novo programa, coisa que se apresenta difícil pois, estima-se que no próximo ano o número de desempregados passará dos 20 milhões. Segundo os cálculos do Instituto Fiscal Independente do Senado Federal, em seu Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF), para isto será necessário cortar R$20,4 bilhões no orçamento em 2021 o que pode provocar “shutdown” no governo.

Bolsonaro ainda fez outra declaração importante. Na posse do General Pazuello voltou a defender a cloroquina afirmando que ela teria evitado 30% das mortes e o fechamento das escolas. Seu ministro da educação Milton Ribeiro já havia culpado os governadores e prefeitos por esse fechamento e pedido a abertura imediata das aulas.

Na economia há uma boa notícia: a siderurgia apresentou recuperação. Dos 13 fornos desligados 5 voltaram a funcionar e o uso da capacidade instalada chegou a 42% provocando a euforia do presidente do Instituto Aço Brasil que fala em recuperação em V.  O Copom aprovou a manutenção da taxa de referência Selic em 2% enquanto o Pantanal e a Amazônia continuam a arder e a fome volta a aumentar no país atingindo 10,3 milhões de pessoas, segundo pesquisa do IBGE.

Na economia mundial a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE) em seu relatório “Vivendo com a incerteza”, estima que o PIB global em 2020 cairá -4,5% o que significa a perda de US$7 trilhões. Para o Brasil está prevista uma queda de -6,5%.

Para encerrar a semana merece destaque a carta enviada ao vice-presidente Hamilton Mourão, presidente do Conselho da Amazônia Legal, assinada por 8 países europeus Dinamarca, França, Alemanha, Holanda, Reino Unido, Itália, Noruega e Bélgica demonstrando “extrema preocupação” com as “taxas alarmantes” de desmatamento e exigindo “ações reais imediatas” para não prejudicar as relações comerciais entre os países. Vai doer no bolso do agronegócio.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Daniella Alves, Ingrid Trintade, Matheus Quaresma e Monik H. Pinto.

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