quinta-feira, 17 de setembro de 2020

A reeleição e a economia

Semana de 07 a 13 de setembro de 2020

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

A formidável queda de 9,7% do PIB no segundo trimestre continua a provocar grandes polêmicas. O sinistro da economia Paulo Guedes permanece na berlinda e precisando dar explicações. Precisa também encontrar soluções que melhorem o panorama para a reeleição do presidente. Como parte deste esforço foi apresentada a reforma da administração e prometida a recuperação em V, segundo ele, já iniciada. Foi anunciado o programa “Renda Brasil” para substituir o Bolsa Família e a extensão do auxílio emergencial até dezembro, mas com o valor reduzido para R$300.

No entanto, as coisas não andam bem. Continuam os atritos dentro do governo como o choque com Marinho, ministro do Desenvolvimento Regional que deseja verbas para obras pensando também nos seus interesses eleitorais.  Além disso, paira sobre todos a lei do teto dos gastos que o Guedes quer manter a todo custo e que não previu a pandemia da covid-19 e as despesas decorrentes dela que agravaram o orçamento e aumentaram o déficit, para desgosto do ministro. Paulo Guedes está desesperado. Como atingir o equilíbrio fiscal, coisa que, segundo sua crença ideológica, está no centro de sua política econômica?

Bolsonaro está nervoso e pressiona pelo lançamento do Renda Brasil, mas o Guedes não sabe de onde tirar o dinheiro. Na sua lógica de defensor do capital financeiro ele só pensa em tirar dos pobres e aposentados. Bolsonaro não concordou e declarou irritado que não vai tirar dos pobres para favorecer os miseráveis.

A tensão geral manifestou-se também na última sessão dirigida pelo presidente do STF o ministro Toffoli. Críticas sutis ao presidente foram feitas pelos ministros Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e Edson Fachin. Bolsonaro retrucou afirmando estar ali por ter sido eleito e os ministros indicados.

Do lado da economia a notícia preocupante foi o aumento da inflação nos produtos alimentícios que se repercutiu na cesta básica. O grande vilão foi o arroz. O governo intimou os supermercados a reduzirem os lucros provocando a reação das entidades representativas que não pretendem sair como os culpados no caso.

Da prometida recuperação em V feita pelo Guedes apenas o comércio deu sinais positivos. Com o empurrão do auxílio emergencial o varejo teve alta forte em julho. O varejo restrito cresceu 5,2% e o varejo ampliado, 7,2%. Esta recuperação não foi sentida nos supermercados pois a injeção do auxílio emergencial conseguiu manter a demanda elevada. A indústria apenas em 4 estados recuperou as perdas da crise. 12 dos 15 estados pesquisados apresentaram crescimento na produção, mas, segundo o Iedi, este crescimento não é consistente e “o Brasil ainda vai ficar todo o ano de 2020 sem um crescimento consistente na indústria”.

Nenhum grande impulso externo deve ser esperado. A recuperação mundial também se arrasta, é instável e desigual. Nos EUA o processo é mais lento que se estimava.  A União Europeia encontra grandes dificuldades e o crescimento previsto para a China deve ficar nos 2,3% este ano. Para a América Latina e Caribe o Banco de Desenvolvimento para a América Latina (CAF) prevê que a renda per capita só volta a crescer em 5 anos. Em 2020 a contração será de 9% e a retomada será lenta. Teremos uma década perdida. Só o setor de turismo perderá US$5,5 trilhões e 12,4 milhões de empregos.

No congresso, os partidos de oposição não dão trégua. Uma solicitação do PT obrigou o setor econômico a explicar a razão da taxação de 12% para o novo imposto a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) que substituirá o PIS e a Cofins. A solicitação foi respondida pela Secretaria da Receita Federal em nota com argumentação primária. Não apresentaram justificação e admitiram a possibilidade de reduzir. Apenas garantiram que não haveria aumento da carga fiscal. Neste tema enfrentam críticas dos setores de Educação, Saúde e Transportes. Ficam claras as deficiências da “equipe dos pesadelos” comandada pelo sinistro Guedes. Mas, com a economia estagnada como fica a reeleição?


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Daniella Alves, Guilherme de Paula, Ingrid Trindade, Matheus Quaresma e Monik H. Pinto.

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