Semana de 07 a 13 de setembro de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A formidável queda de 9,7% do PIB no
segundo trimestre continua a provocar grandes polêmicas. O sinistro da economia
Paulo Guedes permanece na berlinda e precisando dar explicações. Precisa também
encontrar soluções que melhorem o panorama para a reeleição do presidente. Como
parte deste esforço foi apresentada a reforma da administração e prometida a
recuperação em V, segundo ele, já iniciada. Foi anunciado o programa “Renda
Brasil” para substituir o Bolsa Família e a extensão do auxílio emergencial até
dezembro, mas com o valor reduzido para R$300.
No entanto, as coisas não andam bem.
Continuam os atritos dentro do governo como o choque com Marinho, ministro do
Desenvolvimento Regional que deseja verbas para obras pensando também nos seus
interesses eleitorais. Além disso, paira
sobre todos a lei do teto dos gastos que o Guedes quer manter a todo custo e
que não previu a pandemia da covid-19 e as despesas decorrentes dela que
agravaram o orçamento e aumentaram o déficit, para desgosto do ministro. Paulo
Guedes está desesperado. Como atingir o equilíbrio fiscal, coisa que, segundo
sua crença ideológica, está no centro de sua política econômica?
Bolsonaro está nervoso e pressiona pelo
lançamento do Renda Brasil, mas o Guedes não sabe de onde tirar o dinheiro. Na
sua lógica de defensor do capital financeiro ele só pensa em tirar dos pobres e
aposentados. Bolsonaro não concordou e declarou irritado que não vai tirar dos
pobres para favorecer os miseráveis.
A tensão geral manifestou-se também na
última sessão dirigida pelo presidente do STF o ministro Toffoli. Críticas
sutis ao presidente foram feitas pelos ministros Gilmar Mendes, Alexandre de
Moraes e Edson Fachin. Bolsonaro retrucou afirmando estar ali por ter sido
eleito e os ministros indicados.
Do lado da economia a notícia preocupante
foi o aumento da inflação nos produtos alimentícios que se repercutiu na cesta
básica. O grande vilão foi o arroz. O governo intimou os supermercados a
reduzirem os lucros provocando a reação das entidades representativas que não
pretendem sair como os culpados no caso.
Da prometida recuperação em V feita pelo
Guedes apenas o comércio deu sinais positivos. Com o empurrão do auxílio
emergencial o varejo teve alta forte em julho. O varejo restrito cresceu 5,2% e
o varejo ampliado, 7,2%. Esta recuperação não foi sentida nos supermercados
pois a injeção do auxílio emergencial conseguiu manter a demanda elevada. A
indústria apenas em 4 estados recuperou as perdas da crise. 12 dos 15 estados
pesquisados apresentaram crescimento na produção, mas, segundo o Iedi, este
crescimento não é consistente e “o Brasil ainda vai ficar todo o ano de 2020
sem um crescimento consistente na indústria”.
Nenhum grande impulso externo deve ser
esperado. A recuperação mundial também se arrasta, é instável e desigual. Nos
EUA o processo é mais lento que se estimava.
A União Europeia encontra grandes dificuldades e o crescimento previsto
para a China deve ficar nos 2,3% este ano. Para a América Latina e Caribe o
Banco de Desenvolvimento para a América Latina (CAF) prevê que a renda per
capita só volta a crescer em 5 anos. Em 2020 a contração será de 9% e a
retomada será lenta. Teremos uma década perdida. Só o setor de turismo perderá
US$5,5 trilhões e 12,4 milhões de empregos.
No congresso, os partidos de oposição não dão trégua. Uma solicitação do PT obrigou o setor econômico a explicar a razão da taxação de 12% para o novo imposto a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) que substituirá o PIS e a Cofins. A solicitação foi respondida pela Secretaria da Receita Federal em nota com argumentação primária. Não apresentaram justificação e admitiram a possibilidade de reduzir. Apenas garantiram que não haveria aumento da carga fiscal. Neste tema enfrentam críticas dos setores de Educação, Saúde e Transportes. Ficam claras as deficiências da “equipe dos pesadelos” comandada pelo sinistro Guedes. Mas, com a economia estagnada como fica a reeleição?
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Daniella Alves, Guilherme de Paula, Ingrid Trindade, Matheus
Quaresma e Monik H. Pinto.
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