quarta-feira, 2 de setembro de 2020

O PIB da pandemia

Semana de 24 a 30 de agosto de 2020

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Saiu o resultado do PIB brasileiro dos meses de abril a junho de 2020. Nesse período, a pandemia já estava de vento em popa aqui no país (a nossa quarentena começou em meados de março). Em 1º de abril, a média diária de novos casos no Brasil era de 630, enquanto o número de mortos diários ficou em 26. No dia 30 de junho, na média diária, estavam morrendo 993 e se contaminando 36.591 pessoas. Este foi o período de maior crescimento nos números da Covid-19 no Brasil, até chegar ao auge em meados de julho.

Não que os dados de hoje tenham melhorado significativamente. Diariamente, o número médio de novos casos oscila entre 35 e 40 mil. As mortes só reduziram, de fato, agora no fim de agosto, mas a média continua acima dos 850 óbitos diários. Apesar disso, e de ainda termos um não-Ministro na pasta da Saúde, o Brasil sobe ao “pódio dos imbecis” de “um dos países com maior número de curados”. Claro, além da existência do SUS, isto se deve ao fato de que somos “um dos países com maior número de contaminados”, com mais de 3,9 milhões de pessoas infectadas pelo novo coronavírus (2º lugar no ranque mundial).

Desenhado o cenário que contextualiza os dados, passemos aos números do PIB do Brasil no 2º trimestre de 2020. Como era de se esperar, as medidas de combate à pandemia trouxeram um forte efeito negativo sobre a atividade econômica, que apresentou os piores números desde quando começaram a ser calculados, em 1996.

Pelo lado da produção, dentre as 12 atividades que o IBGE classifica para acompanhar o PIB trimestral, apenas 3 apresentaram crescimento entre o primeiro e o segundo trimestre de 2020: Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (+0,8%), Atividades Imobiliárias (+0,5%) e Agropecuária (+0,4%). Elas já haviam sido as únicas a crescer no primeiro trimestre em relação aos três últimos meses de 2019, mostrando uma bruta força econômica diante do maior desastre das últimas décadas. As três atividades que apresentaram maior queda foram: Outras atividades de serviço (-19,8%), Transporte, armazenagem e correio (-19,3%) e Indústria de transformação (-17,5%). Pelo lado da demanda, apenas o comércio externo contribuiu positivamente para o PIB: as exportações cresceram 1,8% e as importações caíram 13,2%. Já os investimentos caíram 15,4%, o consumo das famílias 12,5% e o consumo do governo 8,8%.

No agregado, tudo isso resultou em uma redução total de 9,7% do PIB brasileiro nos meses de abril a junho de 2020, quando comparamos com aquilo que foi produzido pelo país entre janeiro e março do mesmo ano. É um valor ligeiramente pior do que a expectativa do mercado, que previa uma queda de 9,2%.

Este resultado da economia brasileira é semelhante ao observado nas economias dos EUA (-9,1%) e da Alemanha (-9,7%). A nossa é uma situação bem melhor do que a observada no Reino Unido (-20,4%), Espanha (-18,5%) e México (-17,1%). Porém, ainda estamos longe de Finlândia (-3,2%), Coreia do Sul (-3,3%) e Noruega (-5,1%). Os mais apressados logo perguntariam, “mas e a Suécia”? Não muito melhor do que nós. A tão badalada, pelos negacionistas brasileiros, teve uma redução de 8,8% em seu PIB no 2º trimestre. A China, que teve o auge da pandemia no primeiro trimestre, cresceu 11,5%.

Só o que nos resta aqui no Brasil é esperar que o veterinário indicado pelo não-Ministro da Saúde, com a missão de organizar uma futura vacinação das pessoas, consiga dar conta de imunizar o rebanho que aos poucos vai se soltando (com a flexibilização das medidas de isolamento social) e se juntando ao gado outrora fugido do lockdown. Isso tudo no meio de um platô, ou seja, numa fase onde os dados agregados de mortes e novas contaminações ainda estão em um patamar consideravelmente elevado.

Isso não deve trazer uma nova onda de contaminação ao país, pois nem saímos da primeira. Mas, a se manter a política adotada pelo governo, para as pessoas que serão obrigados a voltar ao novo-velho-normal, isso não resultará em dias melhores.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Matheus Quaresma, Monik H. Pinto e Guilherme de Paula.

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