Semana de 24 a 30 de agosto de 2020
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Saiu o
resultado do PIB brasileiro dos meses de abril a junho de 2020. Nesse período,
a pandemia já estava de vento em popa aqui no país (a nossa quarentena começou
em meados de março). Em 1º de abril, a média diária de novos casos no Brasil
era de 630, enquanto o número de mortos diários ficou em 26. No dia 30 de
junho, na média diária, estavam morrendo 993 e se contaminando 36.591 pessoas.
Este foi o período de maior crescimento nos números da Covid-19 no Brasil, até
chegar ao auge em meados de julho.
Não
que os dados de hoje tenham melhorado significativamente. Diariamente, o número
médio de novos casos oscila entre 35 e 40 mil. As mortes só reduziram, de fato,
agora no fim de agosto, mas a média continua acima dos 850 óbitos diários.
Apesar disso, e de ainda termos um não-Ministro na pasta da Saúde, o Brasil
sobe ao “pódio dos imbecis” de “um dos países com maior número de curados”.
Claro, além da existência do SUS, isto se deve ao fato de que somos “um dos
países com maior número de contaminados”, com mais de 3,9 milhões de pessoas
infectadas pelo novo coronavírus (2º lugar no ranque mundial).
Desenhado
o cenário que contextualiza os dados, passemos aos números do PIB do Brasil no
2º trimestre de 2020. Como era de se esperar, as medidas de combate à pandemia
trouxeram um forte efeito negativo sobre a atividade econômica, que apresentou
os piores números desde quando começaram a ser calculados, em 1996.
Pelo
lado da produção, dentre as 12 atividades que o IBGE classifica para acompanhar
o PIB trimestral, apenas 3 apresentaram crescimento entre o primeiro e o
segundo trimestre de 2020: Atividades financeiras, de seguros e serviços
relacionados (+0,8%), Atividades Imobiliárias (+0,5%) e Agropecuária (+0,4%).
Elas já haviam sido as únicas a crescer no primeiro trimestre em relação aos
três últimos meses de 2019, mostrando uma bruta força econômica diante do maior
desastre das últimas décadas. As três atividades que apresentaram maior queda
foram: Outras atividades de serviço (-19,8%), Transporte, armazenagem e correio
(-19,3%) e Indústria de transformação (-17,5%). Pelo lado da demanda, apenas o
comércio externo contribuiu positivamente para o PIB: as exportações cresceram
1,8% e as importações caíram 13,2%. Já os investimentos caíram 15,4%, o consumo
das famílias 12,5% e o consumo do governo 8,8%.
No
agregado, tudo isso resultou em uma redução total de 9,7% do PIB brasileiro nos
meses de abril a junho de 2020, quando comparamos com aquilo que foi produzido
pelo país entre janeiro e março do mesmo ano. É um valor ligeiramente pior do
que a expectativa do mercado, que previa uma queda de 9,2%.
Este
resultado da economia brasileira é semelhante ao observado nas economias dos
EUA (-9,1%) e da Alemanha (-9,7%). A nossa é uma situação bem melhor do que a
observada no Reino Unido (-20,4%), Espanha (-18,5%) e México (-17,1%). Porém,
ainda estamos longe de Finlândia (-3,2%), Coreia do Sul (-3,3%) e Noruega
(-5,1%). Os mais apressados logo perguntariam, “mas e a Suécia”? Não muito
melhor do que nós. A tão badalada, pelos negacionistas brasileiros, teve uma
redução de 8,8% em seu PIB no 2º trimestre. A China, que teve o auge da pandemia
no primeiro trimestre, cresceu 11,5%.
Só o
que nos resta aqui no Brasil é esperar que o veterinário indicado pelo
não-Ministro da Saúde, com a missão de organizar uma futura vacinação das
pessoas, consiga dar conta de imunizar o rebanho que aos poucos vai se soltando
(com a flexibilização das medidas de isolamento social) e se juntando ao gado
outrora fugido do lockdown. Isso tudo no meio de um platô, ou seja, numa fase
onde os dados agregados de mortes e novas contaminações ainda estão em um patamar
consideravelmente elevado.
Isso não deve trazer uma nova onda de contaminação ao país, pois nem saímos da primeira. Mas, a se manter a política adotada pelo governo, para as pessoas que serão obrigados a voltar ao novo-velho-normal, isso não resultará em dias melhores.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Matheus Quaresma, Monik H. Pinto
e Guilherme de Paula.
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