Semana de 02 a 08 de novembro de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Como referimos em Análise anterior, a
economia global está enfrentando uma “longa covid econômica”. Quanto à
covid-19, a segunda onda propaga-se pelo mundo favorecida pelo inverno no
hemisfério norte que obriga as pessoas a viverem em ambientes fechados. A
pandemia voltou a se espalhar e crescem novamente as restrições ao contato
social e movimento das pessoas com o agravamento da paralização das empresas e
negócios. A União Europeia decrescerá -7,4% este ano e para 2021 os números
foram reduzidos de 6,1% de crescimento para 4,1%. Outras previsões para este
ano mostram decrescimento para todos os países do bloco. Como exemplo citamos a
Espanha -12,4%, a Itália -9,9%, a Croácia -9,6%, a França -9,4% a Alemanha
-5,6% e a Irlanda -2,3%. Nos EUA o covid-19 espalha-se atingindo novos recordes
de mortos e contaminados. A situação é ainda mais grave pelas posições do
troglodita Trump, considerado o pior presidente de todos os tempos, que, além
de desrespeitar as medidas de prevenção à doença, teima em não reconhecer sua
derrota, com o apoio de alguns conservadores do Partido Republicano. A
judicialização dos resultados eleitorais, que pode se arrastar por meses,
aumenta a instabilidade e paralisa os investimentos. As previsões para a queda
do PIB, para este ano, já estão em -3,7%. O desemprego deverá subir para 7,6% e
o déficit fiscal aumentará para 15,2%.
Apesar do agravamento da situação
internacional, a economia brasileira continua seu processo de recuperação. Já
tínhamos visto que por volta de março/abril atingimos o fundo do poço. A partir
daí, assistimos aos tropeços de uma lenta recuperação. Prometida que teria a
forma de V, pelo sinistro da economia Paulo Guedes, outras letras foram sendo
sugeridas. Agora um importante dirigente de uma instituição bancária lança uma
nova ideia: recuperação em K. Alguns setores se recuperam e outros continuam a
afundar.
Alguns dados mostram a continuação da
recuperação. O Boletim da Receita Federal destaca que a média diária de vendas,
em setembro, em relação a agosto, aumentou 10,2%. Mostra também que setores
como supermercados, farmacêuticos e construção civil não foram afetados.
Segundo o Ipea, os investimentos também cresceram em agosto. A Formação Bruta
de Capital Fixo (FBCF) que havia crescido 4,3% em julho, embora com redução,
cresceu, 2,2% em agosto. Alguns setores importantes como Construção Civil
(3,2%) e Máquinas e Equipamentos (1,3%) também cresceram. O IBGE informou que a
indústria, em setembro, cresceu pelo quinto mês consecutivo, com uma taxa de
2,6%. Contribuíram para isto 22 dos 26 setores estudados. Diz o IBGE que tal
crescimento foi ajudado pelo auxílio emergencial, pelos recursos do FGTS e
pelas políticas contra o desemprego, mas a recuperação em V não vem se dando em
todos os setores. Afirmou ainda que há fortes dúvidas em relação a 2021 diante
das incertezas. Empresários também reconhecem a contribuição dos auxílios do
governo. As empresas de materiais de construção afirmam que estes auxílios
garantiram a expansão do setor. 89% das empresas afirmam que 75% do seu
crescimento se deveu ao auxílio, e 44% delas operam no limite de suas
capacidades. Os 4 maiores bancos Itaú-Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco e
Santander também comemoram o crescimento de 29% dos lucros, no terceiro
trimestre, em relação ao trimestre anterior.
Apesar desses dados a confiança empresarial
teve a primeira queda desde o fundo do poço, diz a FGV. O Índice de Confiança
Empresarial (ICE) caiu 0,4 pontos em setembro e outubro. Temem o fim do auxílio
emergencial e a instabilidade do governo.
Enquanto isso o país prepara-se para as eleições municipais. A derrota de Trump nas eleições dos EUA deixa o governo órfão. O vice-presidente Mourão organiza uma viagem ao Amazonas com uma comitiva de embaixadores para mostrar que não está pegando fogo, e lamenta não ter conseguido um resultado melhor com o seu Conselho Nacional da Amazônia. A equipe econômica continua a sua busca desesperada dos R$20 bilhões necessários para o programa Renda Cidadã que deve substituir o auxílio emergencial. Mas o governo, enquanto teme os resultados eleitorais, é obrigado ainda a enfrentar a denúncia feita pelo Ministério Público contra o Flávio Bolsonaro, o Queiroz e outros. Até que enfim!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula, Monik H. Pinto e
Daniella Alves.
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