sexta-feira, 13 de novembro de 2020

A difícil recuperação

Semana de 02 a 08 de novembro de 2020

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Como referimos em Análise anterior, a economia global está enfrentando uma “longa covid econômica”. Quanto à covid-19, a segunda onda propaga-se pelo mundo favorecida pelo inverno no hemisfério norte que obriga as pessoas a viverem em ambientes fechados. A pandemia voltou a se espalhar e crescem novamente as restrições ao contato social e movimento das pessoas com o agravamento da paralização das empresas e negócios. A União Europeia decrescerá -7,4% este ano e para 2021 os números foram reduzidos de 6,1% de crescimento para 4,1%. Outras previsões para este ano mostram decrescimento para todos os países do bloco. Como exemplo citamos a Espanha -12,4%, a Itália -9,9%, a Croácia -9,6%, a França -9,4% a Alemanha -5,6% e a Irlanda -2,3%. Nos EUA o covid-19 espalha-se atingindo novos recordes de mortos e contaminados. A situação é ainda mais grave pelas posições do troglodita Trump, considerado o pior presidente de todos os tempos, que, além de desrespeitar as medidas de prevenção à doença, teima em não reconhecer sua derrota, com o apoio de alguns conservadores do Partido Republicano. A judicialização dos resultados eleitorais, que pode se arrastar por meses, aumenta a instabilidade e paralisa os investimentos. As previsões para a queda do PIB, para este ano, já estão em -3,7%. O desemprego deverá subir para 7,6% e o déficit fiscal aumentará para 15,2%.

Apesar do agravamento da situação internacional, a economia brasileira continua seu processo de recuperação. Já tínhamos visto que por volta de março/abril atingimos o fundo do poço. A partir daí, assistimos aos tropeços de uma lenta recuperação. Prometida que teria a forma de V, pelo sinistro da economia Paulo Guedes, outras letras foram sendo sugeridas. Agora um importante dirigente de uma instituição bancária lança uma nova ideia: recuperação em K. Alguns setores se recuperam e outros continuam a afundar.

Alguns dados mostram a continuação da recuperação. O Boletim da Receita Federal destaca que a média diária de vendas, em setembro, em relação a agosto, aumentou 10,2%. Mostra também que setores como supermercados, farmacêuticos e construção civil não foram afetados. Segundo o Ipea, os investimentos também cresceram em agosto. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) que havia crescido 4,3% em julho, embora com redução, cresceu, 2,2% em agosto. Alguns setores importantes como Construção Civil (3,2%) e Máquinas e Equipamentos (1,3%) também cresceram. O IBGE informou que a indústria, em setembro, cresceu pelo quinto mês consecutivo, com uma taxa de 2,6%. Contribuíram para isto 22 dos 26 setores estudados. Diz o IBGE que tal crescimento foi ajudado pelo auxílio emergencial, pelos recursos do FGTS e pelas políticas contra o desemprego, mas a recuperação em V não vem se dando em todos os setores. Afirmou ainda que há fortes dúvidas em relação a 2021 diante das incertezas. Empresários também reconhecem a contribuição dos auxílios do governo. As empresas de materiais de construção afirmam que estes auxílios garantiram a expansão do setor. 89% das empresas afirmam que 75% do seu crescimento se deveu ao auxílio, e 44% delas operam no limite de suas capacidades. Os 4 maiores bancos Itaú-Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco e Santander também comemoram o crescimento de 29% dos lucros, no terceiro trimestre, em relação ao trimestre anterior. 

Apesar desses dados a confiança empresarial teve a primeira queda desde o fundo do poço, diz a FGV. O Índice de Confiança Empresarial (ICE) caiu 0,4 pontos em setembro e outubro. Temem o fim do auxílio emergencial e a instabilidade do governo.

Enquanto isso o país prepara-se para as eleições municipais. A derrota de Trump nas eleições dos EUA deixa o governo órfão. O vice-presidente Mourão organiza uma viagem ao Amazonas com uma comitiva de embaixadores para mostrar que não está pegando fogo, e lamenta não ter conseguido um resultado melhor com o seu Conselho Nacional da Amazônia. A equipe econômica continua a sua busca desesperada dos R$20 bilhões necessários para o programa Renda Cidadã que deve substituir o auxílio emergencial. Mas o governo, enquanto teme os resultados eleitorais, é obrigado ainda a enfrentar a denúncia feita pelo Ministério Público contra o Flávio Bolsonaro, o Queiroz e outros. Até que enfim!


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula, Monik H. Pinto e Daniella Alves.

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