Semana de 16 a 22 de novembro de 2020
Nelson Rosas Ribeiro[i]
O sinistro da economia Paulo Guedes
continua fazendo das suas. Desta vez foi em um congresso da Abrapp, Associação
que reúne os fundos de pensão. Depois de afirmar que o Brasil caminha para uma
sociedade de mercado e que as eleições foram ganhas pela coalizão da centro
direita prometeu fazer a reforma tributária e “transformar a recuperação cíclica
em sustentável”. Além disso estimou o crescimento do PIB no próximo ano em até
4,5%. O ministério da economia vinha negando a existência da segunda onda do
Covid-19 e o consequente fim do auxílio emergencial em dezembro. Mas previa uma
injeção de R$110 bilhões na economia, antes do final do ano com a liberação do
FGTS e dos auxílios emergenciais represados além das poupanças feitas pela
população. Apesar de poucos, os dados divulgados na semana continuam a mostrar
o processo de lenta recuperação nas vendas e na produção. A agroindústria
apresenta uma recuperação mais forte. O Índice de Produção Agroindustrial
Brasileira (PIMAgro) calculado pelo Centro de Estudos em Agronegócios da FGV
(FGVAgro) apontou, em setembro, um crescimento de 7,2% em relação a 2019. No
entanto o crescimento da produção agrícola não acompanhou o aumento da demanda
por conta do auxílio emergencial e ocasionou a subida dos preços dos alimentos.
O aumento dos preços estendeu-se aos bens industriais pressionando os índices
da inflação. O fim do auxílio emergencial vem aumentando o temor de que 25% das
famílias voltem à situação de pobreza e o desemprego suba para 20%.
Toda a ação do ministério da economia tem
por base o seu plano A que supõe não existir a segunda onda do Covid-19.
Enquanto eles não conseguem ver, a segunda onda já se espalha pelo país
atropelando o Ministério da Saúde que deixa caducar milhões de testes em
depósitos. Por seu lado o presidente continua com o discurso anti-vacina e
contra as medidas de isolamento social, internamente e, para nossa vergonha,
nos fóruns internacionais nas reuniões dos BRICS e do G-20.
No mundo a segunda onda torna-se
devastadora. O pânico começa a espalhar-se exigindo a intervenção de organismos
internacionais. A reunião do G-20 realiza-se sob tensão. Para o FMI a atividade
econômica, que vinha se acelerando desde junho, perdeu força. O
seguro-desemprego nos EUA cresceu em 720 mil pessoas, na semana. A Unctad,
(Agência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento) avisou que o otimismo
acabou e o empobrecimento retornou. Onze grandes ONGs pediram ações contra a
fome e a má nutrição e que as medidas dos juros baixos e aumento da liquidez
não devem ser retiradas. O Banco Mundial calculou que, em 2021, 150 milhões de
pessoas cairão na extrema pobreza. Na União Europeia o Banco Central Europeu
calcula que a inadimplência pode chegar a 1,4 trilhão de Euros segundo a
presidente Christine Lagarde e propõe novas medidas contra um novo mergulho
recessivo para manter a economia viva até a chegada da vacina. Anuncia que o
BCE comprará títulos de emergência e fornecerá empréstimos de longo prazo.
Apelou ainda para que os governos criem estímulos fiscais sem demora.
Depois da derrota do Trump nas eleições dos
EUA a estratégia internacional dos americanos sofreu novas derrotas. A China e
mais 14 países da zona do Pacífica firmaram o maior pacto comercial do mundo a
Parceria Regional Abrangente (RCEP) que reúne 30% do PIB mundial. Além de
China, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia são mais 10 do Sudeste Asiático
entre os quais Indonésia, Vietnã, Tailândia e Singapura. Os EUA pretendiam
criar o TPP, Parcerias Trans Pacífico deixando a China fora. Ficaram isolados.
Além disso, a China anunciou que encerrará o ano com um crescimento de 2% e com
forte aceleração. Para completar o Banco dos BRICS que reúne Brasil, Rússia,
Índia e África do Sul pretende ampliar sua ação admitindo novos membros como
Uruguai, Filipinas, Emirados Árabes Unidos e no futuro Bangladesh, Nigéria,
Egito e Botswana. Este panorama internacional mostra a difícil situação em que
se meteu o governo Bolsonaro. Apostou no cavalo errado ao jogar todas as suas
fichas no Trump e sua política. Com suas declarações idiotas transforma-se no
bufão da humanidade.
Como poderá o gigante levantar-se com tanta incompetência e estupidez juntas?
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Daniella Alves, Guilherme de Paula, Ingrid Trindade, Monik H.
Pinto e Raissa Toca.
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