Semana de 09 a 15 de novembro de 2020
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Os
mais antigos já ouviram falar em diversas ocasiões que o Brasil é um gigante. A
depender da conjuntura de cada época, dizia-se que ele estava ora adormecido,
ora acordado. Os mais novos, claro, podem recorrer aos livros (físicos ou
digitais) para confirmar e ver que vez ou outra alguém afirma: “O Brasil é o
país do futuro”.
Há
exatamente uma década, em 2010, uma empresa de uísque veiculou uma inspiradora
peça comercial onde os morros do Pão de Açúcar, na Enseada de Botafogo no Rio
de Janeiro, se transformavam em um gigante de pedra, que se levantava e
começava a caminhar. Belos arranjos audiovisuais dão ares colossais ao reclame.
Por fim, o vídeo traz a seguinte frase: “O gigante não está mais adormecido”.
Para
entender essa história recente do país, é preciso ter em mente que as economias
oscilam entre momentos de maior e menor intensidade de crescimento,
irremediavelmente. Ou seja, as economias capitalistas se desenvolvem sob um
movimento cíclico e recorrentemente são acometidas por crises. Isto é algo que
já foi tratado por nós em textos passados. Dissemos que, apesar das intervenções
através das políticas econômicas, o Estado não é capaz de impedir a crise de se
manifestar. Contudo, se a forma como o Estado atua na economia não impede uma
virada para baixo, quero destacar três coisas que a política econômica pode
fazer: 1) intensificar/prolongar a fase de bonança da economia; 2)
intensificar/prolongar a fase de crise, ou seja, pode piorar a situação que já
é ruim; e 3) perder o crescimento que seria puxado pela economia mundial.
Nos
últimos 30 anos, tivemos os três casos na economia brasileira. O exemplo onde a
intervenção estatal piorou a crise ocorreu entre 1990 e 1992, quando, ainda sob
as consequências da chamada “Crise da Dívida Externa”, veio o Plano Collor e
iniciou-se um conjunto de reformas de orientação neoliberal. Como consequência,
a economia que já vinha mal desde 1987 apresentou queda de 4,2% em 1990 e de
0,5% em 1992. Nos anos seguintes, quando o mundo passou a crescer de forma
consistente, a economia brasileira foi junto, pero no mucho...
Entre
os anos de 1994 e 2000, as economias avançadas apresentaram crescimento
consistente. Contudo, o crescimento do Brasil só foi relevante até 1997, quando
cresceu 3,4%. Nos anos de 1998 e 1999 a economia brasileira cresceu apenas 0,3%
e 0,5%, respectivamente. Já as economias avançadas cresceram 2,9% e 3,6% nos
mesmo anos. A principal responsável por isso foi a desastrosa política
econômica implementada por Fernando Henrique Cardoso, como continuidade do
Plano Real. Ou seja, o Brasil perdeu dois anos de crescimento da economia mundial
como resultado da política implementada.
O
único caso onde a expansão da economia mundial foi aproveitada com políticas
econômicas que intensificaram o crescimento foi no Governo Lula, sobretudo a
partir de 2006. Por outro lado, a política econômica foi utilizada para
amenizar a crise. Tanto que em setembro de 2009, mesmo com um PIB de -0,1% ao
fim do ano, a revista britânica The Economist disse que o Brasil tinha
“decolado”. Eles até trouxeram uma imagem de capa onde o Cristo Redentor
ascendia igual um foguete. Em 2010, a taxa de crescimento do PIB brasileiro foi
de 7,5%, maior do que os 3,1% dos países avançados e os 7,4% das economias
emergentes. Nesse mesmo ano, a economia mundial cresceu 5,4%.
Essa
foi a última vez que o gigante andou para frente. Entre 2011 e 2013 andou de
lado, mas, ainda assim, oscilamos entre 6ª e 7ª maior economia do mundo. Já de
2014 para frente, foi só para trás. O motivo fundamental é que as políticas
econômicas implementadas no Brasil a partir de 2015, por um lado, aprofundaram
a crise e, por outro, impediram o país de seguir a fragilíssima recuperação da
economia mundial. Como resultado, se as estimativas do FMI estiverem certas, o
Brasil sairá da lista das 10 maiores economias do mundo já em 2020, caindo da
9ª para a 12ª posição.
A sina se repete, o gigante se deita em seu berço esplêndido e agoniza sem saída diante de dirigentes tão medíocres e de uma política econômica neoliberal caduca.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Raissa Tôca, Monik H. Pinto e
Daniella Alves.
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