quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Bichos escrotos, voltem para os esgotos

Semana de 04 a 10 de janeiro de 2021

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Caro leitor, 2021 começou e não há o menor sinal de que iremos pôr a cabeça para fora do esgoto que tem sido nossa vida. Faço coro com os que pensam que qualquer palavra de baixo calão é insuficiente para (des)qualificar o que tem feito o chefe do Poder Executivo brasileiro para enfrentar os problemas da pandemia de Covid-19. De negar sua gravidade a dificultar a vacinação em massa, os malfeitos são inumeráveis.

Na semana que passou, o presidente Jair Bolsonaro insistiu que quem deve tomar a iniciativa para o início da vacinação em massa no Brasil são as empresas farmacêuticas, não o Estado. Novamente, se isenta da responsabilidade que um líder deve ter, de se esforçar o mínimo para que seus representados tenham suas necessidades básicas atendidas. Na realidade, isto nos mostra outra coisa, revelada pelos fatos em torno da fala do presidente.

No dia 3 de janeiro, a Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVac), que afirma representar 70% do mercado privado, anunciou estar negociando com a empresa indiana Bharat Biotech para o fornecimento de 5 milhões de doses de vacina. No dia 7 de janeiro, Bolsonaro afirmou: “Não vamos criar problema no tocante a isso aí. Quem quiser comprar lá fora e vender aqui, tudo bem. Da nossa parte, vamos oferecer de forma universal, gratuita e não obrigatória”. Isto significa que os cidadãos do Brasil que puderem pagar, terão acesso à vacinação contra Covid-19 independentemente dos “esforços” do governo federal em imunizar a população em geral.

Tal fato, além de ser mais um símbolo da brutal desigualdade social existente no nosso país e um privilégio ao setor privado, será também um problema de saúde pública. Segundo a epidemiologista Ethel Maciel, “Se você comprar, se vacinar e todo seu entorno não vacinar, o vírus pode fazer uma mutação e sua vacina não servir para nada (…) Vacina não é remédio. Vacinação é estratégia coletiva”. Este é o motivo pelo qual o Brasil é o único país no mundo que está discutindo a vacinação via setor privado, ao invés de vacinação em massa pelo sistema público de saúde. A informação é da diretora de Acesso a Medicamentos da Organização Mundial da Saúde, Mariângela Simão. Até nos EUA a vacinação tem sido pública e gratuita. Nem a Pfizer, empresa pioneira na aprovação da vacina, com eficácia de 95%, planeja vender seu produto para o setor privado, pelo menos por enquanto.

Como se não bastasse, a situação da pandemia no Brasil está piorando. Há exatamente um mês Bolsonaro disse que “estamos vivendo um finalzinho de pandemia”. Pois bem, no dia 9 de janeiro de 2021 a média móvel semanal de novos casos no país ultrapassou os 50 mil por dia pela primeira vez desde o início da pandemia. Além disso, desde o dia 10 de janeiro a média móvel semanal de mortos voltou a ser superior a 1 mil óbitos diários. No mundo, pela primeira vez morreram mais de 15 mil pessoas, enquanto mais de 800 mil se infectaram. Isto em apenas um dia, em 9 de janeiro de 2021.

Para bem ou para o mal, como tem acontecido, é no Congresso Nacional que está a esperança do brasileiro. Há duas propostas para se estender o decreto de estado de calamidade pública para junho de 2021, uma na Câmara e outra no Senado. Isto permitiria ao poder executivo, por exemplo, “furar” o teto dos gastos e descumprir a meta fiscal. Poderia, claro, criar saídas menos dolorosas para a crise, ao invés de deixar a população ao relento e à morte, com o fim do auxílio emergencial.

Mas, a cada semana o bolo fecal da semana anterior é renovado. No dia 06 de janeiro, o líder do desgoverno disse: “o Brasil está quebrado, chefe. Eu não consigo fazer nada”. Não foram poucos os que sugeriram o que fazer, desde candidatos derrotados no pleito de 2018 a economistas ortodoxos... De todas as propostas, uma única parece ser aquela que permitirá ao país tirar a cabeça do esterco: “#RenunciaBolsonaro”.

Adaptando a música dos Titãs: “Bichos Escrotos voltem para o esgoto / Bichos, Baratas, Ratos e o cidadão de bem civilizado”.


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula, Monik H. Pinto e Daniella Alves.

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog