Semana de 04 a 10 de janeiro de 2021
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Caro
leitor, 2021 começou e não há o menor sinal de que iremos pôr a cabeça para
fora do esgoto que tem sido nossa vida. Faço coro com os que pensam que
qualquer palavra de baixo calão é insuficiente para (des)qualificar o que tem
feito o chefe do Poder Executivo brasileiro para enfrentar os problemas da
pandemia de Covid-19. De negar sua gravidade a dificultar a vacinação em massa,
os malfeitos são inumeráveis.
Na
semana que passou, o presidente Jair Bolsonaro insistiu que quem deve tomar a
iniciativa para o início da vacinação em massa no Brasil são as empresas
farmacêuticas, não o Estado. Novamente, se isenta da responsabilidade que um
líder deve ter, de se esforçar o mínimo para que seus representados tenham suas
necessidades básicas atendidas. Na realidade, isto nos mostra outra coisa,
revelada pelos fatos em torno da fala do presidente.
No dia
3 de janeiro, a Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVac), que
afirma representar 70% do mercado privado, anunciou estar negociando com a
empresa indiana Bharat Biotech para o fornecimento de 5 milhões de doses de
vacina. No dia 7 de janeiro, Bolsonaro afirmou: “Não vamos criar problema no
tocante a isso aí. Quem quiser comprar lá fora e vender aqui, tudo bem. Da
nossa parte, vamos oferecer de forma universal, gratuita e não obrigatória”.
Isto significa que os cidadãos do Brasil que puderem pagar, terão acesso à
vacinação contra Covid-19 independentemente dos “esforços” do governo federal
em imunizar a população em geral.
Tal
fato, além de ser mais um símbolo da brutal desigualdade social existente no
nosso país e um privilégio ao setor privado, será também um problema de saúde
pública. Segundo a epidemiologista Ethel Maciel, “Se você comprar, se vacinar e
todo seu entorno não vacinar, o vírus pode fazer uma mutação e sua vacina não
servir para nada (…) Vacina não é remédio. Vacinação é estratégia coletiva”.
Este é o motivo pelo qual o Brasil é o único país no mundo que está discutindo
a vacinação via setor privado, ao invés de vacinação em massa pelo sistema
público de saúde. A informação é da diretora de Acesso a Medicamentos da
Organização Mundial da Saúde, Mariângela Simão. Até nos EUA a vacinação tem
sido pública e gratuita. Nem a Pfizer, empresa pioneira na aprovação da vacina,
com eficácia de 95%, planeja vender seu produto para o setor privado, pelo
menos por enquanto.
Como
se não bastasse, a situação da pandemia no Brasil está piorando. Há exatamente
um mês Bolsonaro disse que “estamos vivendo um finalzinho de pandemia”. Pois
bem, no dia 9 de janeiro de 2021 a média móvel semanal de novos casos no país
ultrapassou os 50 mil por dia pela primeira vez desde o início da pandemia.
Além disso, desde o dia 10 de janeiro a média móvel semanal de mortos voltou a
ser superior a 1 mil óbitos diários. No mundo, pela primeira vez morreram mais
de 15 mil pessoas, enquanto mais de 800 mil se infectaram. Isto em apenas um
dia, em 9 de janeiro de 2021.
Para
bem ou para o mal, como tem acontecido, é no Congresso Nacional que está a
esperança do brasileiro. Há duas propostas para se estender o decreto de estado
de calamidade pública para junho de 2021, uma na Câmara e outra no Senado. Isto
permitiria ao poder executivo, por exemplo, “furar” o teto dos gastos e
descumprir a meta fiscal. Poderia, claro, criar saídas menos dolorosas para a
crise, ao invés de deixar a população ao relento e à morte, com o fim do
auxílio emergencial.
Mas, a
cada semana o bolo fecal da semana anterior é renovado. No dia 06 de janeiro, o
líder do desgoverno disse: “o Brasil está quebrado, chefe. Eu não consigo fazer
nada”. Não foram poucos os que sugeriram o que fazer, desde candidatos
derrotados no pleito de 2018 a economistas ortodoxos... De todas as propostas,
uma única parece ser aquela que permitirá ao país tirar a cabeça do esterco:
“#RenunciaBolsonaro”.
Adaptando a música dos Titãs: “Bichos Escrotos voltem para o esgoto / Bichos, Baratas, Ratos e o cidadão de bem civilizado”.
[i] Professor
do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto
Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula, Monik H.
Pinto e Daniella Alves.
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