quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

O que esperar de 2021

Semana de 18 de dezembro de 2020 a 03 de janeiro de 2021

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Como é costume desejamos aos nossos leitores sucessos, felicidades e muita saúde no ano que se inicia. Estes são os nossos mais sinceros votos. Como analistas de conjuntura, porém, temos outras obrigações. Nesta nova posição temos de trabalhar com a realidade e a ciência e aí nossos desejos não podem interferir na observação e somos obrigados a assumir uma postura fria e aparentemente perversa. Não podemos enganar nossos leitores ou tentar tapar o sol com uma peneira. Dito isto, ... ao trabalho.

Neste início de 2021 as coisas não estão caminhando pelo bom caminho. Nem podia com o desgoverno que temos. Começamos com o fim do auxílio emergencial. Combatido pelo governo e particularmente pelo super sinistro da economia Paulo Guedes, que a muito custo queria pagar R$200, graças ao congresso e às oposições o valor subiu para os R$600, pagos até novembro. Não foi uma esmola aos pobres, mas uma forma de repartição da riqueza para favorecer os mais necessitados que não podiam trabalhar por causa da pandemia. Foi também uma grande ajuda à indústria, comércio e serviços. O dinheiro circulou e foi parar nas mãos dos empresários evitando a quebradeira geral. Vão acabar também as desonerações fiscais e redução de impostos. Tudo isto significa, com certeza uma queda na demanda por produtos e serviços.

Os programas de complementação de salários serão encerrados. Como consequência o desemprego vai aumentar, aliás, já está aumentando. Em setembro a taxa de desemprego atingiu 14,6%, a pior desde 1976. Se forem somados os que não procuram trabalho (os desalentados) e os semiempregados ou subocupados esta taxa chega a 30,3%. Ou seja, 1/3 da força de trabalho do país não é utilizado.

A redução do auxílio emergencial já provocou seus efeitos. Em dezembro, entre 19 e 25, o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA) mostrou uma queda de 1,8%, em relação a 2019. É o pior Natal desde 2008. A redução da oferta de insumos, a desvalorização do real, o aumento do preço das commodities continuarão a pressionar os preços o que já pode ser observado no crescimento de 23%, do IGP-M, em 2020, a maior alta desde 2002.

Este quadro certamente será agravado pela 2ª onda do covid-19 que ameaça quebrar o sistema de saúde hoje em fase de saturação, graças à irresponsabilidade das pessoas e das autoridades. E se não forem decretadas novas quarentenas e lockdowns, viveremos o caos nos hospitais. Morrerá gente nas ruas. Em janeiro e fevereiro sofreremos as consequências da insensatez.

O quadro tende a piorar ainda mais com o adiamento da campanha de vacinação, sabotada pelo Ministério da Saúde onde caiu de paraquedas um general de intendência que nada entende de saúde e mesmo de intendência pois não descobriu que para dar vacinas são necessárias seringas que ele não é capaz de comprar. Ainda bem que não estamos em guerra pois na hora do combate poderiam faltar as munições.

O sinistro da economia também não descobriu que sem vacinas a economia para o que prejudica seu fanático projeto de ajuste fiscal, pois a receita vai cair e a despesa deverá aumentar. Aliás, muitas entidades e analistas estimam que haverá retração no primeiro trimestre. Entre elas estão banco Credit Suisse, a consultoria ACPastore & Associados e o economista Francisco Eduardo Pires de Souza.

Vamos acrescentar a paralisação do congresso, por conta das eleições das mesas das duas casas, onde o presidente batalha para não ter o prosseguimento das ações de impeachment adormecidas nas gavetas e as férias do STF.

Isto é o que nos espera em 2021.

Como agravante, este quadro será administrado por um governo liderado por “um psicopata agressivo, tosco e desprezível, cercado por um bando de patifes sem nenhum princípio moral, e de verdadeiros bufões ideológicos, que em conjunto fazem de conta que governam o Brasil há dois anos.” (Para usar as palavras de José Luís Fiori que faço minhas). Como vemos, 2021 promete ser mais um ano difícil, infelizmente.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula, Monik H. Pinto e Daniella Alves.

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