quinta-feira, 4 de março de 2021

Covid + Bolsonaro: a economia sofre

Semana de 22 a 28 de fevereiro de 2021

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

            

A situação da pandemia é desesperadora. O sistema de saúde entra em ruptura em um número cada vez maior de estados. O número de infectados cresce junto com o de internados e mortos. Nem adianta citar números pois ficarão desatualizados no dia seguinte. Já ganhamos o segundo lugar em número de mortos no mundo liderados pelo campeão, os EUA. Embora tenhamos 3% da população mundial temos 10% dos mortos pela covid. Nada comove o monstro que nos governa, sedento de sangue. Na comédia macabra que encena continua provocando aglomerações, combatendo as medidas sanitárias ditadas pelo seu próprio governo repudiando o uso de máscaras, recomendando cloroquina e outros medicamentos condenados pela ciência e pregando o descrédito nas vacinas. Além destas atitudes criminosas não se vê nenhuma ação do governo central. Ele não existe. A figura repugnante quando aparece é para vomitar impropérios.

Cada vez mais, entidades, empresários, analistas, economistas, políticos reconhecem que sem o combate à pandemia não há recuperação, o que é visível. No final de 2020 a economia já vinha desacelerando. No início deste ano as coisas pioraram. Já há previsões para crescimento negativo no primeiro e segundo trimestres. A ASA Investments, cujo diretor é Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro, prevê queda de -0,8% no primeiro trimestre e de -0,3% no segundo. Teremos assim uma “recessão técnica” no primeiro semestre. A ASA revisou sua previsão de crescimento do PIB, no ano, de 2,4% para 2%. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) observa um “novo recuo da atividade econômica” e seu presidente Isaac Sidney reconheceu que “sem acelerarmos o ritmo da vacinação o crescimento continuará deprimido”.

O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), através de Armando Castelar (coordenador de economia aplicada) e Silvia Matos (coordenadora do Boletim Macro) reconhecem que o primeiro semestre será muito fraco, que o primeiro trimestre haverá uma queda de -0,4% no PIB e que a recuperação depende da vacinação. Ainda a FGV divulgou a queda de 3,1 pontos no Índice de Confiança Industrial (ICI) que chegou a 108,2 pontos, menor patamar desde setembro.

O Banco Central (BC), depois de fazer um balanço do papel do crédito para sustentar a economia em 2020, reconheceu que o crédito será mais fraco e a inadimplência deve aumentar. Haverá menor oferta, descontinuidade das linhas especiais, retração do BNDES e tudo isto agravado pela segunda onda da covid-19 e a vacinação lenta. Só em janeiro/dezembro a concessão de crédito caiu 27,7%.

Mas Bolsonaro não pode ficar ofuscado pelo desastre dos números da pandemia. Pressionado pela sua claque de caminhoneiros demitiu o presidente da Petrobrás, homem de confiança do Paulo Guedes, diante do aumento do preço dos combustíveis, resultado da política de preços praticada pela empresa. O novo indicado, o general Joaquim Silva e Luna, trazido da Itaipu Binacional ficou com o abacaxi dos preços do diesel para resolver sem desagradar os caminhoneiros que ameaçam grave.

A desastrada intervenção na Petrobrás teve consequências imediatas no “mercado” com a queda de 3% na Bolsa e subida do dólar acima de R$5,51, apesar de duas intervenções do BC e injeção de US$1,53 bilhões. A pior consequência foi a fuga de capitais estrangeiros, a pior em 10 anos: R$9,2 bilhões. As ações da petroleira caíram 20% a perda em valor de mercado foi R$6,8 bilhões. Além disso o Fundo Soberano da Noruega, o maior do mundo, retirou do país US$2,7 bilhões

Na semana duas pesquisas foram divulgadas. A do Ipespe, por encomenda da XP Investimentos: 53% são favoráveis à intervenção na economia; 59% são contra as privatizações; 42% consideram o governo ruim e 30% bom. A do Instituto Travessia, por encomenda do Valor: 66% não confiam no presidente no combate à pandemia, 83% querem a vacina.

Estava concluindo estas linhas quando foi anunciado pelo IBGE a queda de 4,1% do PIB no ano de 2020 número que comentaremos na próxima Análise.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.

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