Semana de 22 a 28 de fevereiro de
2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A situação da pandemia é desesperadora. O
sistema de saúde entra em ruptura em um número cada vez maior de estados. O
número de infectados cresce junto com o de internados e mortos. Nem adianta
citar números pois ficarão desatualizados no dia seguinte. Já ganhamos o
segundo lugar em número de mortos no mundo liderados pelo campeão, os EUA.
Embora tenhamos 3% da população mundial temos 10% dos mortos pela covid. Nada
comove o monstro que nos governa, sedento de sangue. Na comédia macabra que
encena continua provocando aglomerações, combatendo as medidas sanitárias
ditadas pelo seu próprio governo repudiando o uso de máscaras, recomendando
cloroquina e outros medicamentos condenados pela ciência e pregando o descrédito
nas vacinas. Além destas atitudes criminosas não se vê nenhuma ação do governo
central. Ele não existe. A figura repugnante quando aparece é para vomitar
impropérios.
Cada vez mais, entidades, empresários,
analistas, economistas, políticos reconhecem que sem o combate à pandemia não
há recuperação, o que é visível. No final de 2020 a economia já vinha
desacelerando. No início deste ano as coisas pioraram. Já há previsões para
crescimento negativo no primeiro e segundo trimestres. A ASA Investments, cujo
diretor é Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro, prevê queda de -0,8% no
primeiro trimestre e de -0,3% no segundo. Teremos assim uma “recessão técnica”
no primeiro semestre. A ASA revisou sua previsão de crescimento do PIB, no ano,
de 2,4% para 2%. A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) observa um “novo
recuo da atividade econômica” e seu presidente Isaac Sidney reconheceu que “sem
acelerarmos o ritmo da vacinação o crescimento continuará deprimido”.
O Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), através de Armando Castelar (coordenador de
economia aplicada) e Silvia Matos (coordenadora do Boletim Macro) reconhecem
que o primeiro semestre será muito fraco, que o primeiro trimestre haverá uma
queda de -0,4% no PIB e que a recuperação depende da vacinação. Ainda a FGV
divulgou a queda de 3,1 pontos no Índice de Confiança Industrial (ICI) que
chegou a 108,2 pontos, menor patamar desde setembro.
O Banco Central (BC), depois de fazer um
balanço do papel do crédito para sustentar a economia em 2020, reconheceu que o
crédito será mais fraco e a inadimplência deve aumentar. Haverá menor oferta,
descontinuidade das linhas especiais, retração do BNDES e tudo isto agravado
pela segunda onda da covid-19 e a vacinação lenta. Só em janeiro/dezembro a
concessão de crédito caiu 27,7%.
Mas Bolsonaro não pode ficar ofuscado pelo
desastre dos números da pandemia. Pressionado pela sua claque de caminhoneiros
demitiu o presidente da Petrobrás, homem de confiança do Paulo Guedes, diante
do aumento do preço dos combustíveis, resultado da política de preços praticada
pela empresa. O novo indicado, o general Joaquim Silva e Luna, trazido da
Itaipu Binacional ficou com o abacaxi dos preços do diesel para resolver sem
desagradar os caminhoneiros que ameaçam grave.
A desastrada intervenção na Petrobrás teve
consequências imediatas no “mercado” com a queda de 3% na Bolsa e subida do
dólar acima de R$5,51, apesar de duas intervenções do BC e injeção de US$1,53
bilhões. A pior consequência foi a fuga de capitais estrangeiros, a pior em 10
anos: R$9,2 bilhões. As ações da petroleira caíram 20% a perda em valor de
mercado foi R$6,8 bilhões. Além disso o Fundo Soberano da Noruega, o maior do
mundo, retirou do país US$2,7 bilhões
Na semana duas pesquisas foram divulgadas.
A do Ipespe, por encomenda da XP Investimentos: 53% são favoráveis à
intervenção na economia; 59% são contra as privatizações; 42% consideram o
governo ruim e 30% bom. A do Instituto Travessia, por encomenda do Valor: 66%
não confiam no presidente no combate à pandemia, 83% querem a vacina.
Estava concluindo estas linhas quando foi anunciado pelo IBGE a queda de 4,1% do PIB no ano de 2020 número que comentaremos na próxima Análise.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.
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