Semana de 08 a 14 de março de 2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
É dever de ofício tratar da Conjuntura
Econômica e devemos fazê-lo. Temos mostrado que o ano de 2021 será difícil e os
acontecimentos continuam a confirmar nossas previsões. Embora os dados sejam
poucos, pois a economia foi ofuscada pelos acontecimentos políticos que
trataremos a seguir, alguns dados merecem citação. As insolvências crescem 47%
neste ano e o total deverá atingir 3.000 empresas. As estimativas de
crescimento continuam negativas: -0,8% para o primeiro trimestre e -0,5% para o
segundo. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do
Consumidor (Peic), feita pela Confederação Nacional do Comércio de Bens,
Serviços e Turismo (CNC), em fevereiro, 66,7% das famílias estavam endividadas
e 10,5% delas não tinham condições de pagar. A situação do desemprego
agravou-se. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua
(Pnad Contínua), do IBGE, a média nacional de desempregados é de 13,5%, a pior
desde o início da pesquisa em 2012. Em 15 dos 27 estados os ocupados são menos
de 50% da população. Em 20 das 27 unidades o desemprego bateu recordes. A
situação é pior entre negros, mulheres e jovens. A participação das mulheres na
população ocupada caiu de 53,1%, em 2019, para 48%, em 2020. Já em fevereiro
deste ano a taxa de desocupação subiu para 13,9%.
A piora da situação econômica, no entanto,
não se refletiu nos preços. Para desespero dos economistas oficiais e sua
ideologia econômica, a queda na demanda não provocou a queda dos preços. A
inflação voltou a crescer para terror do Banco Central (BC). O Índice de Preços
ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou uma subida de 0,86%, o que representa uma
inflação anualizada de 5,2%, chegando ao teto da meta (3,75%, com variação de
1,5 para mais ou menos). São apontados como causas os combustíveis,
transportes, educação, queda do real. Os eletrodomésticos, entre fim de janeiro
e início de março, aumentaram entre 4% e 15%. Os veículos, em 12 meses (até
fevereiro) subiram 8,5%. O Índice Nacional da Construção Civil (INCC) subiu
11,07%.
Parece que voltamos ao velho problema da
“estagflação”, estagnação com inflação, inexplicável pela teoria econômica
oficial e que todos procuram ocultar. A reunião do Conselho de Política
Monetária (Copom), órgão do BC, que está acontecendo neste preciso momento,
deverá tomar uma difícil decisão sobre a Selic. Infelizmente esta Análise
estará terminada quando a decisão for divulgada. Será assunto para a próxima.
Mas, estes fatos perderam a importância
diante dos acontecimentos políticos.
Acossado por todos os lados o presidente
decidiu finalmente demitir o General intendente que se sentava na cadeira de
ministro da saúde com o lema de “um manda e o outro obedece”. O difícil foi
escolher um substituto tão capacho quanto o general. Finalmente surgiu um
fanático bolsominion de carteirinha que, para nossa vergonha, é paraibano. Nas
poucas vezes que abriu a boca nada disse, exceto que pretende prosseguir a
orientação do presidente. Fugiu de todas as perguntas embaraçosas e prometeu
vacinar todos, mas sem explicitar como. É esperar para ver.
Outra bomba da semana foi a decisão do ministro Fachin, do STF, considerando nulas as condenações de Lula pela República de Curitiba e seu comandante Moro. Não inocentou Lula, mas anulou todas as condenações por considerar a Lava-Jato incompetente para o julgamento. O processo foi enviado para o Distrito Federal para ser retomado do início. Foi uma tentativa de impedir o julgamento de um outro processo que corria na 2ª turma do STF presidida por Gilmar Mendes. Não conseguiu, e o processo foi retomado. Como resultado Lula readquiriu a elegibilidade e fez um brilhante discurso de estadista. O meio político tremeu e o panorama para 2022 foi tumultuado. Desde os generais saudosistas, que passaram a afiar suas espadas para a marcha das pelancas, até os partidos e os candidatos. Só o macaco velho Delfim Neto, tranquilo, declarou o seu voto no Lula e afirmou que a Faria Lima também nada teme. Ele sabe que o leão não passa de um gatinho social-democrata muito competente para gerir o capitalismo. Só esquece que está pontificando para militares broncos e uma burguesia reacionária e estúpida que nem sequer sabe o que é social-democracia.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.
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