quarta-feira, 17 de março de 2021

Ele voltou

Semana de 08 a 14 de março de 2021

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

É dever de ofício tratar da Conjuntura Econômica e devemos fazê-lo. Temos mostrado que o ano de 2021 será difícil e os acontecimentos continuam a confirmar nossas previsões. Embora os dados sejam poucos, pois a economia foi ofuscada pelos acontecimentos políticos que trataremos a seguir, alguns dados merecem citação. As insolvências crescem 47% neste ano e o total deverá atingir 3.000 empresas. As estimativas de crescimento continuam negativas: -0,8% para o primeiro trimestre e -0,5% para o segundo. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), feita pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em fevereiro, 66,7% das famílias estavam endividadas e 10,5% delas não tinham condições de pagar. A situação do desemprego agravou-se. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, a média nacional de desempregados é de 13,5%, a pior desde o início da pesquisa em 2012. Em 15 dos 27 estados os ocupados são menos de 50% da população. Em 20 das 27 unidades o desemprego bateu recordes. A situação é pior entre negros, mulheres e jovens. A participação das mulheres na população ocupada caiu de 53,1%, em 2019, para 48%, em 2020. Já em fevereiro deste ano a taxa de desocupação subiu para 13,9%.

A piora da situação econômica, no entanto, não se refletiu nos preços. Para desespero dos economistas oficiais e sua ideologia econômica, a queda na demanda não provocou a queda dos preços. A inflação voltou a crescer para terror do Banco Central (BC). O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou uma subida de 0,86%, o que representa uma inflação anualizada de 5,2%, chegando ao teto da meta (3,75%, com variação de 1,5 para mais ou menos). São apontados como causas os combustíveis, transportes, educação, queda do real. Os eletrodomésticos, entre fim de janeiro e início de março, aumentaram entre 4% e 15%. Os veículos, em 12 meses (até fevereiro) subiram 8,5%. O Índice Nacional da Construção Civil (INCC) subiu 11,07%.

Parece que voltamos ao velho problema da “estagflação”, estagnação com inflação, inexplicável pela teoria econômica oficial e que todos procuram ocultar. A reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), órgão do BC, que está acontecendo neste preciso momento, deverá tomar uma difícil decisão sobre a Selic. Infelizmente esta Análise estará terminada quando a decisão for divulgada. Será assunto para a próxima.

Mas, estes fatos perderam a importância diante dos acontecimentos políticos.

Acossado por todos os lados o presidente decidiu finalmente demitir o General intendente que se sentava na cadeira de ministro da saúde com o lema de “um manda e o outro obedece”. O difícil foi escolher um substituto tão capacho quanto o general. Finalmente surgiu um fanático bolsominion de carteirinha que, para nossa vergonha, é paraibano. Nas poucas vezes que abriu a boca nada disse, exceto que pretende prosseguir a orientação do presidente. Fugiu de todas as perguntas embaraçosas e prometeu vacinar todos, mas sem explicitar como. É esperar para ver.

Outra bomba da semana foi a decisão do ministro Fachin, do STF, considerando nulas as condenações de Lula pela República de Curitiba e seu comandante Moro. Não inocentou Lula, mas anulou todas as condenações por considerar a Lava-Jato incompetente para o julgamento. O processo foi enviado para o Distrito Federal para ser retomado do início. Foi uma tentativa de impedir o julgamento de um outro processo que corria na 2ª turma do STF presidida por Gilmar Mendes. Não conseguiu, e o processo foi retomado. Como resultado Lula readquiriu a elegibilidade e fez um brilhante discurso de estadista. O meio político tremeu e o panorama para 2022 foi tumultuado. Desde os generais saudosistas, que passaram a afiar suas espadas para a marcha das pelancas, até os partidos e os candidatos. Só o macaco velho Delfim Neto, tranquilo, declarou o seu voto no Lula e afirmou que a Faria Lima também nada teme. Ele sabe que o leão não passa de um gatinho social-democrata muito competente para gerir o capitalismo. Só esquece que está pontificando para militares broncos e uma burguesia reacionária e estúpida que nem sequer sabe o que é social-democracia.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.

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