quinta-feira, 29 de abril de 2021

Apátridas e parasitas puseram o bode na sala

Semana de 19 a 25 de abril de 2021

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

As previsões sobre o crescimento da economia para este ano continuam a girar em torno dos 3%. As divergências são grandes quando se referem ao primeiro e segundo trimestres. Em relação ao primeiro trimestre, as opiniões variam entre o positivo e o negativo. Para o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) haverá um decréscimo de -0,2% e não será pior por causa do setor agro que crescerá 4,8%. A indústria cai -0,2%, os serviços -1,3% e os investimentos (FBCF) -7%. Para o segundo trimestre as previsões são mais negativas. Ainda segundo o Ibre/FGV, estão com dívidas em atraso 25% dos consumidores das grandes cidades e 44,4% dos consumidores de menor renda. Ao mesmo tempo a inflação disparou rondando acima da meta do Banco Central (BC). A desordem nas contas públicas, o agravamento da pandemia e a falta de vacinas, pioram o quadro impedindo que as ondas da frágil recuperação internacional cheguem ao país.

Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada e Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro, ambos do Ibre/FGV alertam que “No curto prazo temos um cenário de estagflação, com piora na atividade econômica e no mercado de trabalho, mas com uma inflação muito pressionada, rondando bem acima da meta do BC.”

Como já comentamos em primeira mão, estamos novamente diante do monstro “estagflação” (inflação com estagnação), que a ideologia econômica oficial não sabe o que é. Segundo esta ideologia, falou em inflação só há um único remédio: taxa de juros. Assim o BC reagiu como um macaco, obedecendo ao manual que lhe serve de bíblia: elevou a taxa Selic (taxa de juros de referência) em 0,75%, na última reunião, e programa uma nova elevação na próxima. Com uma economia debilitada esta elevação funciona para uma desaceleração ainda mais forte.

Com esta situação econômica quem mais sofre são as classes mais desfavorecidas. Segundo um estudo feito pela Tendências Consultoria Integrada com a diminuição da renda cai a demanda. Os domicílios das classes D e E (com renda mensal até R$2,6 mil) aumentaram 1,2 milhão e serão 54,7% do país. A previsão do PIB caiu de 2,9% para 2,7%. O auxílio emergencial que em 2020 atingiu um total de R$293 bilhões agora, com os 4 pagamentos de R$250, chegará a um total de R$44 bilhões. A queda nos rendimentos é agravada pela pandemia, pela vacinação lenta, pela fraqueza do mercado de trabalho e subemprego e pelo auxílio emergencial baixo.

Mas as notícias econômicas não foram a única tragédia da semana. Os membros do (des)governo continuaram a meter os pés pelas mãos. Dessa vez o sinistro da economia Paulo Guedes, sem saber que era transmitido, abriu a boca para falar do vírus produzido na China, o que provocou uma retaliação da embaixada chinesa lembrando que quase a totalidade das vacinas aplicadas no Brasil são de lá. Guedes teve de vir a público para se desculpar. O falastrão gasta seu tempo para tentar desfazer as confusões por ele mesmo provocadas ao mesmo tempo em que demite auxiliares tentando justificar a tremenda desorganização do seu ministério e a vergonha da proposta do orçamento apresentada. Para não ficar por baixo, o general Luís Eduardo Ramos, ministro chefe da casa civil, agindo como um menino safado que rouba doce da cozinha, declarou que havia tomado a vacina “as escondidas”, para não desagradar o chefe, coisa que o Guedes, mais ousado, já havia feito, sem disfarce.

Como continua verdadeira a afirmação do grande sociólogo Darcy Ribeiro feita há muitos anos: “O maior e único problema do Brasil são as suas elites: apátridas e parasitas, vivem da venda do patrimônio nacional e mantém o povo escravizado, ignorante, feito gado”. Esta elite, aliada a militares reacionários, que batem continência a uma bandeira estrangeira e traem os interesses nacionais, em pânico, colocou o bode na sala. Só que o bode era pior do que eles imaginavam. Escolheu uma equipe a sua imagem e semelhança. Cada vez mais encurralado vive ameaçando com um golpe militar achincalhando o país e envergonhando a todos. Agora, quem vai tirar o bode da sala?


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.

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