Semana de 19 a 25 de abril de 2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
As previsões sobre o crescimento da
economia para este ano continuam a girar em torno dos 3%. As divergências são
grandes quando se referem ao primeiro e segundo trimestres. Em relação ao
primeiro trimestre, as opiniões variam entre o positivo e o negativo. Para o
Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) haverá
um decréscimo de -0,2% e não será pior por causa do setor agro que crescerá
4,8%. A indústria cai -0,2%, os serviços -1,3% e os investimentos (FBCF) -7%.
Para o segundo trimestre as previsões são mais negativas. Ainda segundo o
Ibre/FGV, estão com dívidas em atraso 25% dos consumidores das grandes cidades
e 44,4% dos consumidores de menor renda. Ao mesmo tempo a inflação disparou
rondando acima da meta do Banco Central (BC). A desordem nas contas públicas, o
agravamento da pandemia e a falta de vacinas, pioram o quadro impedindo que as
ondas da frágil recuperação internacional cheguem ao país.
Armando Castelar, coordenador de Economia
Aplicada e Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro, ambos do Ibre/FGV
alertam que “No curto prazo temos um cenário de estagflação, com piora na
atividade econômica e no mercado de trabalho, mas com uma inflação muito
pressionada, rondando bem acima da meta do BC.”
Como já comentamos em primeira mão, estamos
novamente diante do monstro “estagflação” (inflação com estagnação), que a
ideologia econômica oficial não sabe o que é. Segundo esta ideologia, falou em
inflação só há um único remédio: taxa de juros. Assim o BC reagiu como um
macaco, obedecendo ao manual que lhe serve de bíblia: elevou a taxa Selic (taxa
de juros de referência) em 0,75%, na última reunião, e programa uma nova
elevação na próxima. Com uma economia debilitada esta elevação funciona para
uma desaceleração ainda mais forte.
Com esta situação econômica quem mais sofre
são as classes mais desfavorecidas. Segundo um estudo feito pela Tendências
Consultoria Integrada com a diminuição da renda cai a demanda. Os domicílios
das classes D e E (com renda mensal até R$2,6 mil) aumentaram 1,2 milhão e
serão 54,7% do país. A previsão do PIB caiu de 2,9% para 2,7%. O auxílio
emergencial que em 2020 atingiu um total de R$293 bilhões agora, com os 4
pagamentos de R$250, chegará a um total de R$44 bilhões. A queda nos
rendimentos é agravada pela pandemia, pela vacinação lenta, pela fraqueza do
mercado de trabalho e subemprego e pelo auxílio emergencial baixo.
Mas as notícias econômicas não foram a
única tragédia da semana. Os membros do (des)governo continuaram a meter os pés
pelas mãos. Dessa vez o sinistro da economia Paulo Guedes, sem saber que era
transmitido, abriu a boca para falar do vírus produzido na China, o que
provocou uma retaliação da embaixada chinesa lembrando que quase a totalidade
das vacinas aplicadas no Brasil são de lá. Guedes teve de vir a público para se
desculpar. O falastrão gasta seu tempo para tentar desfazer as confusões por
ele mesmo provocadas ao mesmo tempo em que demite auxiliares tentando
justificar a tremenda desorganização do seu ministério e a vergonha da proposta
do orçamento apresentada. Para não ficar por baixo, o general Luís Eduardo
Ramos, ministro chefe da casa civil, agindo como um menino safado que rouba
doce da cozinha, declarou que havia tomado a vacina “as escondidas”, para não
desagradar o chefe, coisa que o Guedes, mais ousado, já havia feito, sem
disfarce.
Como continua verdadeira a afirmação do grande sociólogo Darcy Ribeiro feita há muitos anos: “O maior e único problema do Brasil são as suas elites: apátridas e parasitas, vivem da venda do patrimônio nacional e mantém o povo escravizado, ignorante, feito gado”. Esta elite, aliada a militares reacionários, que batem continência a uma bandeira estrangeira e traem os interesses nacionais, em pânico, colocou o bode na sala. Só que o bode era pior do que eles imaginavam. Escolheu uma equipe a sua imagem e semelhança. Cada vez mais encurralado vive ameaçando com um golpe militar achincalhando o país e envergonhando a todos. Agora, quem vai tirar o bode da sala?
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.
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