quinta-feira, 15 de julho de 2021

BOMBA: revelada a única coisa que Bolsonaro sabe fazer

Semana de 05 a 11 de julho de 2021

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Desta vez, a presente análise de conjuntura vai iniciar com uma boa notícia vinda, pasmem, do Ministério da Economia: o Projeto de Lei que muda o Imposto de Renda enviado ao Congresso é bom!!! Talvez porque a proposta apresentada aos Deputados não tenha sido escrita pelo Paulo Guedes ou sua equipe, mas por técnicos da Receita Federal.

O principal objetivo era aumentar a tributação sobre os mais ricos do Brasil (os 2% mais ricos) e manter (mais ou menos) a mesma tributação de quem está abaixo disso. Claro, o chororô de quem ganha (ou acha que ganha) renda equivalente ao topo da pirâmide social brasileira não foi pouco. Os argumentos dos críticos da reforma são tão velhos quanto a posição do presidente Bolsonaro em relação à CPI da Covid. De fuga de capitais para o exterior à desordem econômica, é grande o mi mi mi.

Mas, como diz aquele velho ditado: o que é bom dura pouco. No início, especulava-se que o Projeto seria retirado do Congresso. Mas não. Como resposta dada pela Câmara, na relatoria do Deputado Celso Sabino (PSDB-BA), a proposta foi bastante alterada e reduziu-se significativamente a tributação sobre os lucros obtidos pelas pessoas jurídicas (empresas). Hoje, elas pagam até 25% de imposto de renda sobre seu lucro (IRPJ). A sugestão era de que essa taxa caísse para 22,5% em 2022 e para 20% em 2023. Como contrapartida desta redução, seria cobrado um percentual de 20% sobre lucros e dividendos que deixam o caixa das empresas e são distribuídos aos acionistas. Com isso e os demais pontos do Projeto, a expectativa era que houvesse um aumento na arrecadação, já que as pessoas físicas e jurídicas (realmente) mais ricas da sociedade entrariam no pagamento do Imposto de Renda.

Pois bem, a proposta do relator sugere que a taxa do IRPJ caia para 12,5% em 2022 e para 10% em 2023. Com a proposta do Deputado, já se calcula uma redução na arrecadação do IRPJ de R$ 74 bilhões em 2022 e de R$ 98 bi em 2023. No final das contas, apesar das outras propostas que elevam a tributação sobre a renda, a arrecadação total dessa fonte cairia R$ 27 bi em 2022 e R$ 30 bi em 2023. A justificativa seria a de que, com o aumento nos lucros, as empresas teriam um incentivo para expandir suas atividades, gerando emprego e renda.

Na teoria, isto é válido. Na prática, os últimos anos mostram que não. Aumentar o lucro das empresas só tem como resultado o aumento do lucro das empresas. Não é possível afirmar que elas vão se expandir apenas por isso. Se não houver uma melhora significativa nos cenários econômico e sanitário, quem vai querer ampliar suas atividades? Outro fator de risco com esta benevolente proposta (para as empresas) é o fato de que o orçamento estatal não está lá essas maravilhas todas. Afinal, “as reformas” não são para melhorar o orçamento? Por que abrir mão de um dinheiro que, por exemplo, poderia bancar quase todo o Bolsa Família por um ano em favor das empresas e desfavor do erário?

Para finalizar, é preciso mencionar que na semana passada o presidente Bolsonaro confirmou o que muitos brasileiros já sabiam: ele não está nem aí para a desordem que causou a maior parte das mais de 530 mil mortes por Covid-19. Afinal, tudo indica que ele faz parte dela. Não é pouco o desmantelo que a CPI está revelando: de parlamentar a religioso, de PM de guarita a general, esteve todo mundo organizando uma mamata para chamar de sua. Além disso, para surpresa de ninguém, uma ex-cunhada disse que a mamataria vem de longa data na vida do presidente Bolsonaro. Segundo ela, desde o fim dos anos 1990 o chefe do clã vem praticando a famigerada “rachadinha” (ou crime de peculato).

Como vemos, Bolsonaro sabe fazer poucas coisas na vida. Não sabe de economia e indicou o Paulo Guedes para o tema. O ministro tem demonstrado que também tem pouca afinidade com a coisa pública. Cuidar da maioria dos brasileiros não faz parte dos planos dos dois. Com eles a coisa é mais privada, se é que você me entende...


[i] Professor do Departamento de Economia da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.

Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Novidades

Recent Posts Widget

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog