Semana de 28 de junho a 04 de julho
de 2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
As manifestações do dia 3 foram maiores que
as anteriores, mas ainda não suficientes para amedrontar a canalha do centrão
no congresso e nem a matilha dos loucos bolsominions. Estes, quanto mais
desesperados, mais furiosos ficam e Bolsonaro mais ameaças vomita. A nossa
débil democracia continua a correr sério perigo, ainda subestimado pelas forças
políticas, que continuam a agir como se a situação fosse normal. Numa grotesca
e trágica caricatura do passado, forças de centro, centro esquerda e
social-democratas, acovardadas toleram as ameaças e avanços de uma direita
histérica e golpista repetindo uma história do passado que custou um elevado
preço humano e material no período do nazismo e fascismo na Alemanha e Itália.
Do ponto de vista da economia, tudo caminha
na mesma direção apontada nas últimas análises. A prolongada abstinência faz
com que surjam convulsões de crescimento que encontram sérios obstáculos na
combinação covid-Bolsonaro. A política do governo contra a pandemia arrasta-se
com a falta de vacina. Os escândalos revelados pela CPI da covid vão mostrando
a intencionalidade e a perversidade das ações implementadas pelo Ministério da
Saúde que comprometem a honra e a credibilidade dos militares que se arvoram em
grandes salvadores da nação. A cada dia que passa o general Pazuello vai
ficando mais sujo do que pau de galinheiro.
Por outro lado, as novas revelações feitas
expõem ainda mais o governo com o envolvimento nas “rachadinhas” dos gabinetes
da família Bolsonaro. Até a direita do MBL envergonha-se do beco em que se
meteu e o Kim Kataguiri quer fazer manifestações contra o governo. O vacilante
PSDB, timidamente, também resolve participar dos protestos. Como era de se
esperar, grupelhos de ultraesquerda e provocadores ameaçam as manifestações com
suas atitudes agressivas, o que passa a exigir das forças democráticas mais
cuidado com medidas de autodefesa contra tais atos.
O quadro político é preocupante e está
claro que o presidente não pretende largar o osso continuando insistentemente a
preparar seu golpe. A situação internacional não lhe é muito favorável, mas até
2022 alguma coisa pode mudar se as forças de direita assumirem o poder em
países como Itália e França.
No campo da economia a situação mundial mostra
a recuperação que se inicia nos EUA e União Europeia, mas enfrenta entraves no
fornecimento de insumos diante do avanço da covid-19 na Ásia. Países como
Malásia, Vietnam, Índia, Coreia do Sul e Taiwan, fornecedores de insumos e
equipamentos, enfrentam forte expansão da pandemia desorganizando a produção e
as cadeias produtivas. A queda na oferta encarece os produtos elevando os
custos de produção. O Banco de Compensação Internacional (BIS) alerta para a
manutenção dos mecanismos de estímulo e pede cautela na política monetária
diante da manifestação de alguns BCs de suprimir estes estímulos como o Banco
da Inglaterra (BoE) o do Canadá (BoC) e o da Nova Zelândia (RBNZ). O BIS alerta
ainda os países emergentes, entre os quais se inclui o Brasil, que o pior ainda
está por vir quando ocorrer a fuga de capitais de retorno às suas origens.
No Brasil, o IBGE divulgou os resultados das Contas Nacionais para o primeiro trimestre deste ano. Em relação ao último trimestre de 2019, último trimestre antes da pandemia, cresceram a agropecuária 5,8% e a indústria 1,9%. Nos serviços a queda foi de -1,9%. No consumo a queda foi geral: nas famílias -3,1% e no governo -4,9%. O crescimento surpreendente foi a Formação Bruta do Capital Fixo 19,3%, puxado pela construção civil e pela produção de implementos agrícolas para atender a supersafra. Infelizmente a ducha de água fria veio logo em abril com uma queda de 18% segundo o Ipea. Embora o mesmo Ipea tenha elevado sua previsão de crescimento para o ano de 3% para 4,8% está difícil saber como isso ocorrerá. O número de desempregados ultrapassa os 14 milhões e o total da população subutilizada chega a 33,2 milhões. Além disso no primeiro quadrimestre de 2021, em relação a 2020, os investimentos do governo federal caíram 62%, dos estaduais 2% e dos municipais 20%. Com desemprego, sem investimentos, sem produção, o que será que nos espera?
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.
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