quinta-feira, 8 de julho de 2021

Economia global ainda em perigo

Semana de 28 de junho a 04 de julho de 2021

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

As manifestações do dia 3 foram maiores que as anteriores, mas ainda não suficientes para amedrontar a canalha do centrão no congresso e nem a matilha dos loucos bolsominions. Estes, quanto mais desesperados, mais furiosos ficam e Bolsonaro mais ameaças vomita. A nossa débil democracia continua a correr sério perigo, ainda subestimado pelas forças políticas, que continuam a agir como se a situação fosse normal. Numa grotesca e trágica caricatura do passado, forças de centro, centro esquerda e social-democratas, acovardadas toleram as ameaças e avanços de uma direita histérica e golpista repetindo uma história do passado que custou um elevado preço humano e material no período do nazismo e fascismo na Alemanha e Itália.

Do ponto de vista da economia, tudo caminha na mesma direção apontada nas últimas análises. A prolongada abstinência faz com que surjam convulsões de crescimento que encontram sérios obstáculos na combinação covid-Bolsonaro. A política do governo contra a pandemia arrasta-se com a falta de vacina. Os escândalos revelados pela CPI da covid vão mostrando a intencionalidade e a perversidade das ações implementadas pelo Ministério da Saúde que comprometem a honra e a credibilidade dos militares que se arvoram em grandes salvadores da nação. A cada dia que passa o general Pazuello vai ficando mais sujo do que pau de galinheiro.

Por outro lado, as novas revelações feitas expõem ainda mais o governo com o envolvimento nas “rachadinhas” dos gabinetes da família Bolsonaro. Até a direita do MBL envergonha-se do beco em que se meteu e o Kim Kataguiri quer fazer manifestações contra o governo. O vacilante PSDB, timidamente, também resolve participar dos protestos. Como era de se esperar, grupelhos de ultraesquerda e provocadores ameaçam as manifestações com suas atitudes agressivas, o que passa a exigir das forças democráticas mais cuidado com medidas de autodefesa contra tais atos.

O quadro político é preocupante e está claro que o presidente não pretende largar o osso continuando insistentemente a preparar seu golpe. A situação internacional não lhe é muito favorável, mas até 2022 alguma coisa pode mudar se as forças de direita assumirem o poder em países como Itália e França.

No campo da economia a situação mundial mostra a recuperação que se inicia nos EUA e União Europeia, mas enfrenta entraves no fornecimento de insumos diante do avanço da covid-19 na Ásia. Países como Malásia, Vietnam, Índia, Coreia do Sul e Taiwan, fornecedores de insumos e equipamentos, enfrentam forte expansão da pandemia desorganizando a produção e as cadeias produtivas. A queda na oferta encarece os produtos elevando os custos de produção. O Banco de Compensação Internacional (BIS) alerta para a manutenção dos mecanismos de estímulo e pede cautela na política monetária diante da manifestação de alguns BCs de suprimir estes estímulos como o Banco da Inglaterra (BoE) o do Canadá (BoC) e o da Nova Zelândia (RBNZ). O BIS alerta ainda os países emergentes, entre os quais se inclui o Brasil, que o pior ainda está por vir quando ocorrer a fuga de capitais de retorno às suas origens.

No Brasil, o IBGE divulgou os resultados das Contas Nacionais para o primeiro trimestre deste ano. Em relação ao último trimestre de 2019, último trimestre antes da pandemia, cresceram a agropecuária 5,8% e a indústria 1,9%. Nos serviços a queda foi de -1,9%. No consumo a queda foi geral: nas famílias -3,1% e no governo -4,9%. O crescimento surpreendente foi a Formação Bruta do Capital Fixo 19,3%, puxado pela construção civil e pela produção de implementos agrícolas para atender a supersafra. Infelizmente a ducha de água fria veio logo em abril com uma queda de 18% segundo o Ipea. Embora o mesmo Ipea tenha elevado sua previsão de crescimento para o ano de 3% para 4,8% está difícil saber como isso ocorrerá. O número de desempregados ultrapassa os 14 milhões e o total da população subutilizada chega a 33,2 milhões. Além disso no primeiro quadrimestre de 2021, em relação a 2020, os investimentos do governo federal caíram 62%, dos estaduais 2% e dos municipais 20%. Com desemprego, sem investimentos, sem produção, o que será que nos espera?


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.

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