quinta-feira, 22 de julho de 2021

Presidente encurralado e hospitalizado

Semana de 12 a 18 de julho de 2021

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

A semana começou com a divulgação da pesquisa Datafolha pela Folha de São Paulo. O assunto pesquisado foi a corrupção no governo Bolsonaro. O resultado é esmagador. 70% dos entrevistados pensam que há corrupção no governo e 63% no Ministério da Saúde. 64% acreditam que o presidente sabia de tudo. Só 33% pensam que não há corrupção. Até entre os empresários 50% acreditam que há corrupção e 48% que não há. 68% dos que têm curso superior acreditam que há corrupção.

Este é o governo que foi eleito contra a corrupção. Não engana mais ninguém e à medida que as investigações da CPI do Senado avançam a coisa fica ainda mais desmoralizante. Já há 2 inquéritos em andamento na Polícia Federal para investigar o próprio presidente apesar de todos os esforços do Procurador Geral da República (PGR) Augusto Aras para impedir. Aliás, a bajulação do presidente pelo Aras já foi recompensada com sua nova indicação para ocupar o cargo por mais 2 anos, uma vez mais desrespeitando a lista tríplice onde não constava o nome dele.

Outra notícia preocupante foi a indicação do novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), em substituição ao Marco Aurélio Melo, que se aposenta. Como havia prometido, Bolsonaro indicou um “terrivelmente evangélico”, o Advogado Geral da União André Luiz Mendonça.

Tais atos, juntamente com os pronunciamentos no curral do Alvorada, desviaram de tal forma os fluxos intestinais que o presidente entupiu o que o obrigou a um internamento em um hospital de São Paulo. Claro que a gangue aproveitou a oportunidade para recriar a imagem de mártir da facada atacando o PSOL, o PT, o comunismo etc. Pelo menos por enquanto, parece que o curso do fluxo intestinal foi restabelecido, embora continue fluindo também pelas palavras e ações.

No mundo, a situação segue seu curso. Temos recuperação e controle da pandemia embora o banco Central dos EUA, o Fed., alerte para as políticas monetárias restritivas que devem ser usadas com moderação. A pressa pode estragar tudo e a variante Delta anda a solta. É preciso vacinar o resto do mundo. A economia da China ameaça reduzir o ritmo, crescendo apenas 6% pois, no primeiro trimestre, cresceu 0,4% e no segundo 1,3%. Nos EUA, a economia vai bem, apesar da preocupante alta da inflação que ameaça ultrapassar a meta de 2%. A explosão da construção civil eleva os preços dos materiais, o que aumentou em 12,7% as exportações do Brasil de aço, cimento e madeira no primeiro semestre. A União Europeia (UE) continua sua recuperação e já se defende com medidas para reduzir 55% das emissões de carbono até 2030. Para isto aprovou um protocolo que atinge suas empresas e criou uma taxação progressiva chamada CBAM mecanismo de ajuste de carbono na fronteira. Este mecanismo considerado “antidumping climático” afetará países como Rússia, Turquia, China, Ucrânia, Índia etc. Dificulta também o “carbon linkage”, a transferência para estes países das indústrias mais poluentes da própria UE. Claro que a CNI já arrepiou o pelo pois as exportações de produtos de ferro, aço, cimento, alumínio e fertilizantes serão atingidas.

No Brasil a alta das commodities favorecem as exportações que batem recordes no setor do agronegócio. Voltamos a ser um país agroexportador com a China absorvendo 38,7% de tudo. Em junho, apesar da queda de 4,1% do volume exportado, o índice das cotações subiu 30,4%, em relação à 2020. O superávit comercial cresceu 21,2%.

Apesar desta euforia e do crescimento do setor de serviços, em abril, dos 177,1 milhões de pessoas aptas ao trabalho, apenas 85,9 milhões estavam empregadas. 14,8 milhões estão desocupados e 33,3 milhões estão subutilizados, 29,7% da força de trabalho disponível. Outra ducha fria para os otimistas: o Banco Central (BC) divulgou o IBC-Br de maio: queda de -0,43% sobre abril. E a preocupação com a inflação acima da meta elevou a previsão da Selic para 7,5%.

Tudo isto enquanto o residente ameaça novos passeios de moto e o sinistro Guedes faz discurso desastroso que derruba as ações da CSN e da Usiminas na bolsa.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.

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