Semana de 26 de julho a 01 agosto de 2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Temos falado aqui que, em sua insanidade, o presidente Bolsonaro, se encurralado, é capaz de jogar pedra na lua. E estamos caminhando para isto. Os seus delírios grotescos explodem nas conversas com o gado no curral do planalto onde ele sempre atinge o máximo da excitação com a histeria de sua claque contratada.
Durante esta semana a pressão aumentou
muito ao ponto de produzir o acordo feito com o centrão na tentativa de
salvá-lo do impeachment na câmara. O Ciro Nogueira do PP, foi nomeado ministro
da Casa Civil, substituindo o General Luiz Eduardo Ramos que passou a ocupar a
Secretaria-Geral onde estava o Onix Lorenzoni. Este, por sua vez, recebeu como
prêmio de consolação o Ministério do Trabalho e Previdência Social, a ser
criado, deslocado do interior do Ministério da Economia, onde não passava de
uma secretaria.
Que teria provocado tal reviravolta no
governo?
O presidente vinha a cada dia sendo
acossado pelas investigações feitas pela CPI do Senado. As descobertas das
bandalheiras dentro do Ministério da Saúde passaram a atingir o Planalto e a
pessoa do presidente que perdeu o controle ao ponto de usar palavras de baixo
calão ao ser convidado a dar declarações. As manifestações voltaram as ruas mobilizando
milhares de pessoas nos 26 estados e no distrito Federal, tendo ocorrido em 120
municípios e em 11 países. E enquanto isto o governo não consegue apresentar
nenhuma realização de impacto na vida das pessoas. A inoperância é tal que o
economista conservador Afonso Celso Pastore afirmou em uma entrevista: “Não
acho que tenha governo. Tem pessoas lá dentro exercendo funções sem um
objetivo, sem estratégia, sem diretriz, sem política econômica”.
Apesar do acordo com o Centrão, Bolsonaro
não mudou o seu discurso. Continuou a pregação do voto impresso, contra as
vacinas e as medidas de restrição, ao mesmo tempo que renovou as ameaças de
golpe. Ou muda-se o processo eleitoral segundo sua vontade ou não haverá
eleições. Até o General Braga Neto, ministro da Defesa, entrou na dança
mandando um recadinho ao presidente da Câmara Artur Lira. O Jornal Folha de São
Paulo publicou o recado e estouraram os protestos por todos os lados, do STF,
do TSE, da OAB, de senadores e deputados, da CPI, dos partidos políticos e
organizações sociais. Desmoralização
total do General que passou a negar a autoria do recado.
Especula-se agora quais os rumos que o
governo seguirá. Haverá uma acomodação parlamentar ou continuará a marcha para
o golpe? Não parece restar dúvidas que o caminho do golpe é a preferência do
Bolsonaro, aliás é nisso que ele pensa desde que chegou no cargo. Mas como foi
possível um desequilibrado como este ter chegado à presidência? Em uma
entrevista ao Jornal Valor Econômico o cientista político e professor da
Universidade Federal de São Carlos João Roberto Martins Filho, especialista em
assuntos militares apresenta algumas opiniões muito pertinentes. Bolsonaro é
fruto de um plano de certo grupo de generais de tomar o poder sem golpe.
Saudosos da ditadura de 64 buscaram uma personalidade capaz de ganhar as
eleições. Pensavam que conseguiriam controlar o bruto. Em uma certa reunião o
problema foi colocado e o General Santos Cruz apresentou-se como voluntário
“para segurar o doidão”. Grande ilusão, foi demitido em poucos meses. Não foi
por acaso que Bolsonaro foi expulso do exército e agora está mostrando do que é
capaz. Nada indica que vá mudar. Só não dará o golpe se não tiver apoio militar
para isto. Poderá sim jogar pedra na lua.
É evidente que com toda esta instabilidade
a recuperação da economia encontrará terríveis obstáculos. Os investimentos
estrangeiros não virão, e mesmo os nacionais retraem-se. A inflação continua a
aumentar, o desemprego mantem-se em níveis elevados, o consumo reprimido, as
empresas reclamam da falta de insumos que demandam do exterior, o processo de
desindustrialização prossegue, a vacinação contra o covid se arrasta
prejudicando a retomada dos serviços. Corremos o risco de, mais uma vez, não
aproveitar o boom das commodities e o impulso da recuperação mundial.
[i] Professor Emérito da UFPB e Vice-Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Ingrid Trindade, Guilherme de Paula e Daniella Alves.
0 comentários:
Postar um comentário