quarta-feira, 10 de novembro de 2021

O que está ruim está piorando

Semana de 01 a 07 de novembro de 2021

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Em Análise anterior dissemos que “o que está ruim sempre pode piorar”. Foi uma profecia. Está mesmo piorando. Além da situação interna temos agora a vergonha externa. Triste o papel do Brasil nos dois encontros internacionais que ocuparam a semana: a reunião do G-20, reunião dos países que representam as 20 maiores economias do mundo, na Itália, e a COP26, 26ª Conferência das Nações Unidas Sobre as Mudanças Climáticas, em Glasgow, na Escócia. No G-20 o presidente ficou acuado pelos cantos sem que ninguém lhe desse atenção. Deu a cara e saiu para fazer turismo em Roma provocando conflitos e sendo vaiado nas ruas com os seus seguranças agredindo os jornalistas que se aproximavam. Em afronta aos brasileiros que morreram na segunda guerra lutando contra os nazifascistas, foi visitar o cemitério de Pistoia onde estão sepultados os que faleceram, acompanhado por um membro de um partido neofascista italiano. Na COP26 nem apareceu e seus representantes nada tinham a dizer e tiveram de aguentar calados as críticas. Vergonha internacional. O país foi criticado pelos grandes jornais do mundo.

Enquanto passamos vergonha lá fora, por cá a situação continuou a deteriorar-se.

A inflação ameaça sair de controle, se já não saiu. Fala-se em estagflação, o terror dos economistas: inflação com estagnação o que é incompatível com a teoria oficial do Banco Central (BC). O Comitê de Política Monetária (Copom) já corrigiu sua estimativa para o IPCA do ano, que era de 8,5%, para 9,5%. Na última reunião a Selic foi elevada de 6,25% para 7,75% e declarou-se que ela subirá mais 1,5%, passando a 8,25%, em dezembro. Nas sondagens feitas o BC apurou que 80% dos analistas consideram que a situação fiscal piorou e o risco de desancoragem da inflação aumentou.

No entanto, os aumentos da Selic fazem elevar o custo da dívida pública mobiliária, que ronda os R$5 trilhões. Este custo passará a ser de R$360 bilhões por ano. Com a rolagem de R$1,1 trilhão, que vencerá em 2022, se a Selic estiver em 11%, o custo aumentará mais R$270 bilhões por ano. O BC pretende lançar títulos NTN-Bs indexados à inflação. Se esta estiver em 9,5% (e não os 3,75% da meta atual) o custo da dívida crescerá mais R$90 bilhões por ano. E nada disto detém o BC que se mantém fiel à sua ideologia de combater a inflação com juros. Lembremos que todos são unanimes em apontar como causas da inflação atual a crise hídrica, a elevação dos preços da energia, os preços dos combustíveis ligados ao preço do petróleo, a valorização do dólar, os preços das commodities, a escassez de insumos, a crise dos transportes e dos portos, a pandemia do covid-19. A elevação dos juros não tem qualquer efeito sobre nenhum destes fatores. Pelo contrário, a elevação dos juros prejudica a produção e o funcionamento dos negócios o que impulsiona o aumento dos preços. Vejam o tamanho da loucura!

O desemprego continua elevado e os salários baixos. Aliás, os foguetes que o sinistro Guedes soltou comemorando a criação de empregos em 2020 devem ser recolhidos. Os dados foram corrigidos e em vez de um saldo de 142.690 empregos com carteira assinada foram criados somente 75.883. Cometeu-se um erro de 46,8%.

Esta situação reflete-se no desempenho da indústria. Na balança comercial da indústria o déficit foi de US$37,3 bilhões. A indústria de alta tecnologia participou apenas com 3,8% do total e a de média-alta tecnologia com 23,4%. A produção industrial caiu -0,4% em setembro, em relação a agosto, e no terceiro trimestre em relação ao segundo a queda foi de -1,7%. Em 4 meses a queda foi de -2,6%.

O agravamento da situação econômica e o desespero do Bolsonaro em eleger-se para escapar das punições agravou a situação política. A tentativa de substituir o Bolsa Família pelo Auxílio Brasil, com a distribuição de R$400 e aumento do número de famílias atendidas, sem espaço no orçamento, levou à criação da PEC dos precatórios, uma autorização para adiar o pagamento dos precatórios criando um espaço fiscal de R$91,6 bilhões, suficiente para pagar o Auxílio Brasil, a bolsa diesel aos caminhoneiros e sobraria dinheiro para as emendas do relator, hoje contestadas pelo STF. Há uma grande tensão dentro do parlamento. Não se sabe o que ocorrerá na segunda votação.

Desmoralização internacional, estagflação na economia, crise política, governo em desagregação. A situação anda difícil para a família Bolsonaro!


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Carolina Nantua, Daniella Alves, Guilherme de Paula e Maria Cecília Fernandes.

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