Semana de 01 a 07 de novembro de 2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Em Análise anterior dissemos que “o que
está ruim sempre pode piorar”. Foi uma profecia. Está mesmo piorando. Além da
situação interna temos agora a vergonha externa. Triste o papel do Brasil nos
dois encontros internacionais que ocuparam a semana: a reunião do G-20, reunião
dos países que representam as 20 maiores economias do mundo, na Itália, e a
COP26, 26ª Conferência das Nações Unidas Sobre as Mudanças Climáticas, em
Glasgow, na Escócia. No G-20 o presidente ficou acuado pelos cantos sem que
ninguém lhe desse atenção. Deu a cara e saiu para fazer turismo em Roma
provocando conflitos e sendo vaiado nas ruas com os seus seguranças agredindo
os jornalistas que se aproximavam. Em afronta aos brasileiros que morreram na
segunda guerra lutando contra os nazifascistas, foi visitar o cemitério de
Pistoia onde estão sepultados os que faleceram, acompanhado por um membro de um
partido neofascista italiano. Na COP26 nem apareceu e seus representantes nada
tinham a dizer e tiveram de aguentar calados as críticas. Vergonha
internacional. O país foi criticado pelos grandes jornais do mundo.
Enquanto passamos vergonha lá fora, por cá
a situação continuou a deteriorar-se.
A inflação ameaça sair de controle, se já
não saiu. Fala-se em estagflação, o terror dos economistas: inflação com
estagnação o que é incompatível com a teoria oficial do Banco Central (BC). O
Comitê de Política Monetária (Copom) já corrigiu sua estimativa para o IPCA do
ano, que era de 8,5%, para 9,5%. Na última reunião a Selic foi elevada de 6,25%
para 7,75% e declarou-se que ela subirá mais 1,5%, passando a 8,25%, em
dezembro. Nas sondagens feitas o BC apurou que 80% dos analistas consideram que
a situação fiscal piorou e o risco de desancoragem da inflação aumentou.
No entanto, os aumentos da Selic fazem
elevar o custo da dívida pública mobiliária, que ronda os R$5 trilhões. Este
custo passará a ser de R$360 bilhões por ano. Com a rolagem de R$1,1 trilhão,
que vencerá em 2022, se a Selic estiver em 11%, o custo aumentará mais R$270
bilhões por ano. O BC pretende lançar títulos NTN-Bs indexados à inflação. Se
esta estiver em 9,5% (e não os 3,75% da meta atual) o custo da dívida crescerá
mais R$90 bilhões por ano. E nada disto detém o BC que se mantém fiel à sua
ideologia de combater a inflação com juros. Lembremos que todos são unanimes em
apontar como causas da inflação atual a crise hídrica, a elevação dos preços da
energia, os preços dos combustíveis ligados ao preço do petróleo, a valorização
do dólar, os preços das commodities, a escassez de insumos, a crise dos
transportes e dos portos, a pandemia do covid-19. A elevação dos juros não tem
qualquer efeito sobre nenhum destes fatores. Pelo contrário, a elevação dos
juros prejudica a produção e o funcionamento dos negócios o que impulsiona o
aumento dos preços. Vejam o tamanho da loucura!
O desemprego continua elevado e os salários
baixos. Aliás, os foguetes que o sinistro Guedes soltou comemorando a criação de
empregos em 2020 devem ser recolhidos. Os dados foram corrigidos e em vez de um
saldo de 142.690 empregos com carteira assinada foram criados somente 75.883.
Cometeu-se um erro de 46,8%.
Esta situação reflete-se no desempenho da
indústria. Na balança comercial da indústria o déficit foi de US$37,3 bilhões.
A indústria de alta tecnologia participou apenas com 3,8% do total e a de
média-alta tecnologia com 23,4%. A produção industrial caiu -0,4% em setembro,
em relação a agosto, e no terceiro trimestre em relação ao segundo a queda foi
de -1,7%. Em 4 meses a queda foi de -2,6%.
O agravamento da situação econômica e o
desespero do Bolsonaro em eleger-se para escapar das punições agravou a
situação política. A tentativa de substituir o Bolsa Família pelo Auxílio
Brasil, com a distribuição de R$400 e aumento do número de famílias atendidas,
sem espaço no orçamento, levou à criação da PEC dos precatórios, uma
autorização para adiar o pagamento dos precatórios criando um espaço fiscal de
R$91,6 bilhões, suficiente para pagar o Auxílio Brasil, a bolsa diesel aos
caminhoneiros e sobraria dinheiro para as emendas do relator, hoje contestadas
pelo STF. Há uma grande tensão dentro do parlamento. Não se sabe o que ocorrerá
na segunda votação.
Desmoralização internacional, estagflação na economia, crise política, governo em desagregação. A situação anda difícil para a família Bolsonaro!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
Colaboraram os pesquisadores: Carolina Nantua, Daniella Alves, Guilherme de
Paula e Maria Cecília Fernandes.
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