Semana de 15 a 21 de novembro de 2021
Nelson Rosas Ribeiro[i]
As notícias econômicas da semana não são
das melhores. O Banco Central (BC) divulgou o Índice de Atividade Econômica do
Banco Central (IBC-Br) para o mês de setembro, considerado um indicador
antecedente para o PIB. Este índice mostrou uma queda da atividade econômica de
-0,27%. A economia já vinha caindo em agosto -0,29% e no trimestre -0,14%. Foi
o resultado das quedas de -0,4% na indústria, -1,3% no varejo restrito, -1,1%
no varejo ampliado e -0,6% nos serviços. O BC apontou como causas o crescimento
dos juros e da inflação, a queda da renda das famílias, além do rompimento nas
cadeias de suprimentos, os ruídos e incertezas políticas e a queda de confiança
de consumidores e empresas. Concluiu o BC que a retomada no terceiro trimestre
será “morna”. O V do voo da galinha do sinistro Guedes está se confirmando.
Na agricultura as coisas também não estão
boas. O Índice de Produção Agroindustrial Brasileira (PIMAgro) calculado pelo
Centro de Estudos em Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Agro) aponta
uma queda de 7% para 2%. Eles apresentam como causas a fragmentação das cadeias
produtivas, a inflação, a elevação dos custos e a queda na economia. Conclusão:
a agroindústria perde fôlego.
O próprio ministério da economia reduziu
suas estimativas. Para o crescimento do PIB, em 2022, a redução foi de 2,5%
para 2,1%, enquanto o mercado propõe valores inferiores a 1%. Para 2021 a
redução foi de 5,3% para 5,1%. Em sentido contrário a correção para o IPCA, que
mede a inflação, foi de 7,9% para 9,7% no ano atual. Além disso o ministério
adiantou que as condições externas não são boas diante da crise de energia, do
rompimento das cadeias produtivas, da piora das condições financeiras e da
inflação.
Este panorama externo adverso é reforçado
pelas declarações da Organização Mundial do Comércio (OMC). O Barômetro do
Comércio de Mercadorias, por ela calculado, mostrou uma desaceleração de 110,4
pontos, em agosto, para 90,5 pontos, em novembro (100 pontos é o equilíbrio).
Esta desaceleração é reforçada pela Conferência das Nações Unidas para o
Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD), em seu relatório sobre transporte
marítimo. Esta organização constatou uma desaceleração nas trocas ocasionada
pelo congestionamento dos portos, falta de navios e de contêineres, de trabalhadores
e a desorganização das cadeias produtivas.
A situação em geral é muito adversa e
perigosa. Em sua ignorância o governo nada vê e continua investindo como louco
tendo diante dos olhos apenas a sua reeleição. Violando todas as regras que ele
mesmo criou com seu cinismo moralista atropela todas as normas legais. É
preciso ter dinheiro para comprar deputados e senadores, para o aumento do
funcionalismo, para os caminhoneiros, para a Renda Brasil e tudo o que lhe
puder render votos. O sistema financeiro está em polvorosa, os capitais fogem,
o dólar dispara. A inflação aumenta o que é mostrado em todos os índices. O BC
em sua cegueira ideológica, para enfrentá-la, aplica a solução que está em
todos os manuais de economia: aumento de juros. No entanto todos reconhecem que
aumento de juros só tem algum efeito se a inflação for causada por excesso de
demanda o que não o caso atual. A disparada dos preços tem por base a
desorganização da economia causada pelo coronavirus o que é uma característica
singular. É uma particularidade da crise atual. Nestas condições, a elevação
dos juros nada vale, pelo contrário, agrava o problema ao restringir mais ainda
a oferta. Vivemos a estagflação, o que já temos apontado há mais de 3 meses.
Agora os economistas ortodoxos começam a admitir e chorar. Affonso Celso
Pastore, ex-presidente do BC, lamenta “Vamos assistir uma coisa dramática: a
subida de taxa de juros com economia encolhendo”. Mas aconselha o BC a subir os
juros “o suficiente para contrair a demanda agregada”, mesmo admitindo que “o
cenário provável é que ocorra em 2022 uma recessão”.
Que venha a recessão! A teoria econômica é sagrada. É isto que dizem os atuais manuais e é esta a receita recomendada. Amém!
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Daniella Alves e João Carlos da Silva.
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