Semana de 18 a 24 de abril de 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A guerra Rússia x Ucrânia continua a ditar
os caminhos da economia mundial. Enquanto as operações militares se expandem os
países ocidentais ampliam as retaliações econômicas contra a Rússia. Para os
EUA é mais fácil impor tais restrições. Em relação à Europa a situação é mais
complexa. Os países europeus não podem prescindir do petróleo russo e muito
menos do gás e estão sendo obrigados a pagá-los em rublo o que fez a moeda
voltar a valorizar-se. Isto foi reconhecido pela própria secretária do tesouro
dos EUA Janet Yellen que recomendou cautela em relação ao boicote, pois as
consequências não serão significativas para os russos, mas catastróficas para
os próprios europeus e para o mundo. Além da desorganização do sistema
financeiro mundial, o agravamento da situação poderá trazer sérias
consequências para os países emergentes com o aumento do endividamento e
possibilidade de calotes. A dívida total do mundo que representava 28% do PIB
já subiu para 256% atualmente.
No âmbito das operações militares os russos
mudaram de tática e agora concentram suas ações no leste da Ucrânia tendo
dominado boa parte da costa do mar Negro e conquistado a cidade de Mariupol
onde o que resta de resistência é feita pelo batalhão Azov, mercenários
neofascistas financiados e treinados pelos ocidentais. Lamentavelmente os
ucranianos continuam a pagar o preço do belicismo da OTAN que age sob o comando
dos americanos.
As consequências para a economia mundial
têm sido desastrosas. A inflação disparou, o crescimento econômico abortou,
criando-se o quadro da estagflação que se espalha por todo o mundo. Está em
marcha um novo realinhamento político de países e blocos. As cadeias de
suprimento são desorganizadas e vem se instalando grande volatilidade nos
mercados financeiros.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu
suas estimativas para o crescimento do PIB mundial. Para o mundo o rebaixamento
foi de 4,4% para 3,6%. Para os EUA a previsão é de 3,7%. Para a China, de 4,4%,
para a Europa da zona do euro, de 2,8%, para a Ucrânia -35%. O FMI reviu também
as estimativas para a inflação: 5,7% para as economias ricas e 8,7% para os
emergentes. As previsões estão no “Panorama Econômico Global” onde também se
afirma que a guerra é a responsável. Destaca-se ainda a contribuição do
lockdown na China que vem provocando a formação de gargalos nas cadeias de
suprimentos globais e a elevação dos preços dos combustíveis e alimentos. Em
outro documento do FMI, o “Global Relatório de Estabilidade Financeira” é feito
um alerta para a ameaça à estabilidade financeira na economia global e o
aumento da inflação que obrigará os Bancos Centrais (BCs) a uma elevação dos
juros para o campo restritivo. É destacado o papel do Federal Reserve (Fed.)
banco central americano e do aperto monetário por ele programado que provocará
grandes fugas de capitais dos países emergentes. Que objetivos escusos a
burguesia internacional pretende atingir a tal preço?
Para agravar a situação a epidemia do
covid-19, que parecia ultrapassada, ressurge em nova onda na China provocando
medidas severas de lockdown. Só em Xangai 25 milhões de pessoas foram afetadas.
As consequências são sentidas no congestionamento dos portos e na movimentação
de contêineres com repercussão no preço dos fretes.
A situação externa contribui para o
agravamento dos problemas aqui dentro. O aumento da inflação vem provocando a
elevação dos juros pelo Banco Central que promete novas elevações da Selic. A
conjugação de juros e inflação provoca a queda na renda com o aumento da
inadimplência de consumidores e empresas. A situação econômica do país se
agrava. Acossado o presidente Bolsonaro arremete contra tudo e contra todos.
Elegeu o STF como inimigo principal deflagrando dois conflitos: decretou a
“graça” para anular a condenação do deputado Silveira e incitou o choque das
forças armadas com o ministro Barroso por causa de declarações deste em um
seminário na Alemanha. Há ainda outro atrito por causa das gravações do STM
sobre as torturas no golpe de 64 que provocou novos pronunciamentos golpistas
dos generais de pijama.
Com a derrota eleitoral no horizonte é duvidoso se chegaremos às eleições.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Ana Isadora e Roberto Lucas.