sábado, 21 de maio de 2022

Os bancos e a Petrobrás vão bem, o resto, nem tanto

Semana de 09 a 15 de maio de 2022

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Como não poderia deixar de ser, o brasileiro tem reclamado bastante do preço dos combustíveis. Tem semana que sobe, tem semana que sobe mais ainda. Claro, isto afeta o bolso de todos nós, direta e indiretamente. Os atingidos diretamente são aqueles que têm algum automóvel e precisa adquirir o combustível para rodar. Os que são atingidos indiretamente são aqueles que veem o preço de outros produtos se elevarem, porque o custo com transporte tá mais caro (mas não só o frete, todos os derivados do petróleo).

Porém, outra coisa que chamou a atenção esta semana foi o lucro dos cinco maiores bancos do país: Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa. No Brasil, sempre houve uma reclamação generalizada sobre o quanto os bancos ganham a cada ano. Mesmo quando o PIB brasileiro caiu em mais de 3% por dois anos seguidos, em 2015 e 2016, esses cinco bancos lucraram R$ 70 bilhões e R$ 60 bilhões, respectivamente. Agora, nos três primeiros meses do ano de 2022, o lucro somado dessas instituições já chegou a R$ 27 bilhões. Apesar disso, o valor sequer chega perto do lucro da Petrobrás no mesmo período, que foi de R$ 45 bilhões. Sinal claro de que o descaramento do Governo Bolsonaro está maior do que o dos banqueiros.

Esses dados mostram valores obtidos pelas empresas nos três primeiros meses de 2022, período em que boa parte dos indicadores apontam, na melhor das projeções, um crescimento mísero, de 1,5%, no PIB brasileiro. Isto pode ser visto no Boletim Focus, uma publicação semanal do Banco Central, que reúne a previsão de algumas instituições sobre o futuro de variáveis econômicas selecionadas. Na mediana, é esperado um crescimento de 0,7% para a economia do Brasil em 2022.

O problema é que este mesmo Boletim Focus traz, pela 16º semana seguida, o aumento nas projeções da inflação brasileira para 2022. Segundo a última pesquisa divulgada pelo BC, a inflação medida pelo IPCA deve fechar o ano em 7,89%. No mercado de títulos, já estão apostando em inflação de 8,73%. Há quem fale em 9,5%.

Naturalmente, tudo isso são expectativas sobre o que pode, ou não, acontecer. Porém, quando se trata de um relatório divulgado pela autoridade monetária de um país, o Banco Central do Brasil, no caso, significa que essas expectativas do mercado irão interferir na política monetária do presente. Ou seja, o que essas instituições acham sobre o futuro irá influenciar o que o BC faz hoje, pensando nesse possível futuro. Dentre essas decisões, está a taxa de juros Selic, que já foi aumentada na última reunião e, espera-se, deve aumentar até o fim do ano.

Agora, voltamos à atividade econômica e ao PIB, que até apresenta recuperação, mas longe de um retorno pujante da geração de emprego e renda. Os serviços, em março, foram melhores do que se podia imaginar. Cresceram 1,7%. Com isso, de uma forma geral, os serviços já superaram o período pré-pandemia (7,2% acima) e estão quase tão bons quanto no começo de 2015 (que fechou com uma grave crise). Dentro dos serviços, só não se recuperaram dos prejuízos causados pela pandemia os Serviços Prestados às Famílias, que ainda estão com valores 12% abaixo do observado no início de 2020.

Por um lado, os serviços são importantes para o país e é bom que eles sejam retomados, pois correspondem a cerca de 70% do PIB brasileiro. Porém, é péssimo que uma economia como a brasileira dependa tanto do setor terciário. Não é de hoje que a literatura e a realidade econômica mostram a importância da existência de um setor industrial dinâmico, que seja capaz de gerar efeitos sobre si e sobre os demais setores da economia. Até para a qualidade dos serviços isto é fundamental, afinal, só é possível prestar serviços de qualidade e elevado nível de qualificação se o contratante necessitar deles.

Mantendo essa política econômica como está, nada vai mudar. Quem está satisfeito, se isente no pleito de 2022. Quem não, prepare-se!


[i] Professor do Departamento de Relações Internacionais da UFPB e Coordenador do PROGEB – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira. (www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Maria Cecília Fernandes, Nertan Gonçalves e Alan Gomes.

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