Semana de 16 a 22 de maio de 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Nada mais apropriado para o momento do que
a famosa frase do senador romano Marcio Porcio Catão que terminava seus
discursos com a expressão “delenda est Cartago”. Cartago deve ser destruída. E
efetivamente isto foi conseguido à custa de violência e traições. Não restou
pedra sobre pedra. Entre os anos 264 e 146 antes de cristo as guerras púnicas
tiveram este resultado. A cidade de Cartago foi totalmente destruída não
restando pedra sobre pedra. Agora assistimos a uma histeria nunca vista a
partir dos Estados Unidos, mobilizando todo ocidente para a santa cruzada
contra a Rússia. É a luta do “mundo livre” contra a despótica Rússia
(igualmente capitalista). Além de toda a mobilização feita na UE e na NATO o
assunto foi levado para o Fórum de Davos na Suíça, e ocupa o centro dos
debates. Já discursaram o ator Zelensky, representando o papel de presidente da
Ucrânia e o diretor geral da OTAN, Jens Stoltenberg representando o militarismo
ocidental. Estão presentes 300 chefes de estado e 1.250 empresários. Claro que
não estão a Rússia, não convidada, e a China que se recusou a ir. Além da
destruição da besta do apocalipse discute-se a crise mundial e o perigo da
estagflação e da fome. Com sua fúria anti-russa os americanos esqueceram que
seu verdadeiro inimigo é a China, como diz William Burns, diretor da Cia.
O Brasil está bem representado em Davos
pelos sinistros Guedes da economia e Marcelo Queiroga da saúde. O presidente
não se atreveu a ir. A posição do Brasil em relação à Rússia é delicada pois
ela é o quinto maior exportador de produtos para o Brasil e responsável por 70%
dos fertilizantes que consumimos. As exportações russas cresceram 89% de
janeiro a abril.
Preocupado com seu isolamento os EUA
fizeram várias tentativas para contornar esta situação. Uma delas foram as
visitas feitas a vários países da Asia como Japão, Coreia do Sul e países da
Asean. Aí ele tentou negociar acordos que infelizmente não agradaram os
parceiros. Outra tentativa está sendo tentada para salvar a Cúpula das
Américas, ameaçada de fracasso, com a ameaça de boicote do México, Peru e
Bolívia, caso os americanos não revisem as restrições a Cuba e Venezuela e
Nicarágua. A pressão já deu resultados pois já foram removidas algumas
restrições à Venezuela e Cuba.
A ameaça de fome levou os países do G7 a
preparar um plano de emergência. Foi constatado que 23 países já tomaram
medidas restritivas para a exportações de produtos agrícolas, entre eles a
Índia e o Egito com o trigo. Como os dois outros maiores produtores Rússia e
Ucrânia que respondem por 27% do abastecimento estão impossibilitados, a
situação torna-se muito grave. O Banco da Inglaterra (BoE) preocupa-se com os
preços apocalípticos dos alimentos e começaram os apelos para que a Rússia abra
corredores no mar Negro para escoamento do trigo da Ucrânia, já respondidos
pelos russos: depois de retirarem as restrições dos ocidentais.
Este é o panorama mundial. Tudo caminha
loucamente para a crise, a fome, a estagflação e a guerra. Escaparemos do
apocalipse?
Desanimado e irritado com seu isolamento
Bolsonaro resolve disputar as eleições mesmo continuando a preparar o golpe que
não conta com grandes apoios internacionais. Mas, então vale tudo. Todos os
métodos da velha política que ele tão bem praticou na sua passagem como
deputado do baixo clero, até os métodos das velhas raposas do centrão agora
aderentes aos seus planos. As perspectivas econômicas não são boas. PIB não
terá crescimento de 2,1%, mas de 1,8%. O desemprego, em março, continua em
11,1%, e a inflação subiu de 4,7% para 6,5%. Para o ano a previsão é de 7,9%
quando a meta é de 3,5%. No desespero o governo tenta de todos os modos conter
a elevação dos preços. A Petrobras é apontada como culpada pelos combustíveis o
que tem levado à demissão sucessiva dos presidentes e a Eletrobrás pela
energia. Ninguém sabe como conter os preços são propostas soluções para
empurrar com a barriga. É preciso deixar os aumento para depois das eleições. É
o vale tudo. A bomba vai estourar nas mãos do ganhador. Mesmo com a
possibilidade de ter uma bomba nas mãos é melhor. Ou? ...
Vamos ao golpe.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Ana Isadora Maneguetti, Mariana Araújo e
Nertan Alves.
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