quinta-feira, 18 de agosto de 2022

A mobilização geral contra o golpe

Semana de 08 a 14 de agosto de 2022

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Foi de grande simbolismo a manifestação realizada no largo de São Francisco, em São Paulo, onde fica a Faculdade de Direito da USP, para a leitura das duas cartas em defesa da democracia, preparadas pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e pelos professores e estudantes da própria Faculdade. A “Carta aos Brasileiros e Brasileiras pelo Estado Democrático de Direito” organizada pela Faculdade de Direito contou com mais de 956 mil assinaturas de professores, intelectuais, médicos, engenheiros, enfermeiros, motorista, policiais, delegados, dentistas, artistas, estudantes, Ongs etc. A “Carta em defesa da democracia e justiça” encabeçada pela Fiesp contou com a assinatura de organizações sindicais de trabalhadores e empresários e de federações como a Febraban, a Fiesp, a CUT, a Força Sindical, além das assinaturas de sindicalistas, empresários e banqueiros. Desde a campanha pelas “Diretas já” que não se via a união de forças tão diversas. Como afirmou o jurista José Carlos Dias que participou do movimento em 1977 “Capital e trabalho estão juntos em defesa da democracia”.

É lamentável e doloroso constatar até onde vai o retrocesso que estamos presenciando.  Tornou-se válido o lema “burgueses e proletários uni-vos”. Finalmente a sociedade vai acordando e se dando conta que a luta é de todas as forças vivas do progresso contra o fanatismo clerical, a anti ciência do terraplanismo, a grosseria dos preconceitos mais diversos, a ignorância, as formas de exploração mais primitivas e criminosas existentes em modos de produção anteriores ao capitalismo e que caracterizaram o processo de acumulação inicial do capital. O atraso que se pretende instalar pelo bolsonarismo é de tal ordem que começa a entravar o processo atual de acumulação capitalista. O salvador da classe empresarial, tão bem alimentado e protegido pelos capitalistas e militares reacionários para combater o avanço do “comunismo” e das limitadas conquistas do movimento operário, tornou-se um entrave e precisa ser descartado. Seu reacionarismo agora só interessa à classe dos proprietários de terra, grileiros, milicianos, traficantes, e os setores capitalistas mais atrasados, além de uma hierarquia militar golpista que se esquece que no passado já o havia excluído de seus quadros. Apesar de toda a pregação golpista que o governo vinha sistematicamente fazendo, só com a gota d’agua da reunião com os embaixadores, em que Bolsonaro atacou abertamente o processo eleitoral, a sociedade acordou. Foi demais.

A defesa da democracia tornou-se um grande movimento político que, se não for conduzido corretamente, pode ter um resultado desastroso com a reeleição da besta a ser banida e enjaulada.

Na verdade, o governo conta com alguns trunfos. A aprovação da PEC Kamikaze, ou das bondades, criou as condições para a compra de votos em larga escala. O Auxílio Emergencial de R$600, o auxílio caminhoneiro e taxista, o vale gás, representam transferência direta de dinheiro para os mais pobres. A redução dos impostos como o ICMS e fatores internacionais provocaram a queda dos preços dos combustíveis afetando o custo dos transportes. Isto representa o lançamento de bilhões na economia que servem como estímulos ao comércio e à produção. Um dos efeitos já sentido é uma pequena queda no desemprego embora com a criação de empregos de baixa qualidade e remuneração. As estimativas para o crescimento do PIB já foram alteradas para valores entre 1,5% e 2%. Ninguém fala, porém, nas consequências para o orçamento e a economia em 2023. Isto será depois das eleições.

Apesar desta traição do sinistro Guedes aos seus princípios de austeridade fiscal e liberalismo a situação não é das melhores. A inflação continua a corroer os salários pois em julho, cresceu 1,4% no setor de alimentos e 0,8% no de serviços. A produção industrial apresentou queda de 0,4%, em junho, espalhada em 10 dos 15 locais pesquisados.

A evolução da economia deve manter-se com um possível agravamento diante da situação internacional que tende a piorar e da campanha eleitoral que agora se inicia. Também não se espera boa coisa das movimentações bolsonarista. Aguardemos.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan Alves.

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