Semana de 15 a 21 de agosto de 2022
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Em
outubro do ano passado, publicamos uma análise de conjuntura intitulada “O
capitalismo e a fome” (https://progeb.blogspot.com/2021/10/o-capitalismo-e-fome.html).
Nela, o leitor pode ver argumentos que mostram como a fome é um elemento que
está na base do capitalismo. É o medo de passar fome que obriga uma pessoa a
submeter seu trabalho a outras, tais como, Luciano Hang, popularmente conhecido
como “véi da Havan”, e Marco Aurélio Raymundo, o “famoso” Morango da Mormaii.
No
texto de hoje, vale a pena focar nos sintomas que atualmente influenciam, não
só a fome no Brasil, mas a insegurança alimentar em geral.
O
primeiro é um “velho” e indesejado conhecido, a inflação. Mesmo com a queda no
índice de inflação entre junho e julho passados (queda de 0,68% no IPCA), o
total da cesta de alimentos que são consumidos em casa (cereais, legumes,
farinhas, frutas, verduras, carnes etc.) teve aumento de preço (1,47%). Este
movimento se confirma com a divulgação do IPCA-15 (que é uma prévia do IPCA)
pelo IBGE. O indicador registrou uma redução geral de 0,73% nos preços
consultados entre os dias 16 de julho e 15 de agosto. Porém, no item
Alimentação no domicílio, a subida de preços foi de 1,24%. Pelo IPCA-15, os
alimentos consumidos em casa ficaram 17,4% mais caros em 12 meses.
O
segundo fator que influencia o bolso e a barriga dos brasileiros são as
negociações salariais. De acordo com o DIEESE, 47,3% dos reajustes salariais
celebrados no mês passado foram menores do que a inflação (medida pelo INPC).
De janeiro a julho de 2022, apenas 20,7% das negociações foram capazes de
trazer ganhos reais para os trabalhadores (nesses casos, o salário aumentou
mais que a inflação). No mesmo período, em 43,9% das negociações o aumento
salarial foi menor do que o aumento dos preços. Como agravante, já que o setor
é o maior em termos de emprego e PIB, os trabalhadores do setor de Serviços
tiveram perdas reais de salário em 52,6% das negociações.
O
terceiro fator que gera insegurança alimentar na população é a informalidade.
Como mostrou a última PNAD Contínua, há 34,7 milhões de pessoas na
informalidade. Isto significa que elas não estão resguardadas por qualquer
direito trabalhista, tais como férias, seguro-desemprego, FGTS, previdência,
13º salário e outros mais. Isso corresponde a 40% dos trabalhadores
brasileiros. Para além destes, tem os microempreendedores individuais, que são
pessoas com CNPJ, mas que na maioria das vezes tem renda próxima de um ou dois
salários-mínimos, não emprega ninguém além dele próprio e não goza de direitos
trabalhistas.
Por
fim, mas não menos importante, estão os beneficiários dos programas
assistenciais, em especial os do Auxílio Brasil. São pessoas que estão em
situação de pobreza ou extrema pobreza e que têm de se virar com um recurso
que, por enquanto, é de R$ 600. Nas capitais analisadas pela Pesquisa Nacional
da Cesta Básica de Alimentos do DIEESE, apenas em Aracaju (R$ 542,50), João
Pessoa (R$ 572,63), Salvador (R$ 586,54) e Natal (R$ 587,58) este valor é
suficiente para comprar a cesta básica de alimentos. Mesmo assim, não devemos
esquecer que esse dinheiro também serve para pagar aluguel, água, energia,
transporte, medicamentos, vestuário etc.
Por sua vez, em outras 13 capitais pesquisadas, a cesta básica de alimentos
custa mais do que o benefício (sendo a mais cara em São Paulo, que sai por R$
760,45).
Voltando
à análise que citei no início do texto. Lá meu argumento foi de que o medo da
fome (não só de alimentos, mas de não consumir tudo o mais que precisamos para
viver) impele os trabalhadores a venderem sua força de trabalho. Isto faz parte
do capitalismo em qualquer lugar do planeta. Mas, no Brasil a coisa é pior. Por
aqui, para além dessa característica comum aos demais países, a atividade
econômica não é capaz de gerar oportunidades para uma sobrevivência digna de
seus trabalhadores.
Para completar, parte da elite econômica fica aí, tentando armar golpe em grupo de zap. Será que o projeto deles é melhorar a vida do trabalhador?
[i] Professor
do DRI/UFPB e do PPGRI/UEPB; Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan
Gonçalves.
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