Semana de 25 a 31 de julho de 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Na crise de 2008, conhecida como crise
financeira do “sub prime”, tornou-se famoso o economista americano Nouriel
Roubini que passou a ser conhecido como “doutor catástrofe”. O grande feito de
Roubini foi afirmar que a crise que se aproximava seria catastrófica. Roubini
teve razão. Tivemos aqui no Progeb a satisfação de observar que as previsões do
profeta já tinham sido feitas alguns meses antes e publicadas nas nossas
análises. Infelizmente, neste cantinho do mundo que é a Paraíba. Até
brincávamos que o Nouriel estava lendo as publicações do Progeb. (Quem duvidar
vá ao blog e pesquise nos arquivos dos idos de 2008.)
O Roubini voltou às manchetes. O doutor
catástrofe fala novamente: “Desta vez temos uma confluência de estagflação e de
uma grave crise da dívida”. E segue a nova profecia: “Então pode ser pior do
que os anos 70 e que a crise de 2008”. Parece que o profeta voltou a ler as
nossas Análises. O leitor que nos tem acompanhado já sabe que a estagflação
está de volta, o que vem sendo reconhecido cada vez mais, embora a contragosto,
pois a ideologia econômica oficial não tem explicação para ela. É uma vergonha
que precisa ser ocultada. Outra vergonha é a violência da crise que, desta vez,
vem associada a dois fenômenos extraeconômicos: o covid-19 e a guerra.
Isto é demais. Não basta uma ideologia
econômica furada e aparecem dois fenômenos que não cabem dentro dela. O vírus
vai sendo superado pela ciência com as vacinas. Para a guerra não há soluções
econômicas ou científicas. O problema vai para o campo da política e da
geopolítica. Eis a grande questão. Continua-se a falar da crise como se fosse
apenas um problema econômico. Agora aparecem os arautos da antiglobalização
como se ela fosse a culpada. Tenta-se inutilmente o combate à inflação com
medidas de política monetária. Às vezes aparece um iluminado para chamar a
atenção, como o presidente do Federal Reserve (Fed) de Atlanta nos EUA, que
sugere que as causas do fenômeno são não monetárias. Nada adianta. A bíblia
monetarista deles tem de ser seguida e os bancos centrais de todo o mundo
continuam a subir os juros o que, certamente contribuirá para agravar a crise.
O próprio Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) (equivalente ao nosso Copom),
órgão do Fed, banco central americano, para esfriar a economia, elevou em 0,75%
os juros do país que passaram para o intervalo de 2,25% e 2,50%. O pior é que,
apesar da Secretária do Tesouro dos EUA Janet Yellen negar, o país já está em
“recessão técnica”, segundo os critérios criados por eles mesmos. Há dois trimestres
seguidos que o PIB cai: -1,6% no primeiro e -0,9% no segundo. A economia dos
EUA está desacelerando e vai piorar, com graves consequências para o Brasil. Na
Europa a situação também se complica. A Rússia reduziu o volume de fornecimento
de gás pelo Nord Stream a apenas 20%, o que pode acelerar a recessão na
Alemanha, Itália e Hungria e os preços dos alimentos e energia continuam a
subir.
A nível internacional temos outros
dissabores com a redução das compras de petróleo pela China e Índia, que
passaram a importar da Rússia. Tudo indica que o nosso saldo positivo da
balança comercial vai acabar. Por outro lado, a pressão sobre os preços dos
alimentos e combustíveis deve continuar o que alimenta a nossa estagflação
teimosamente combatida com elevação de juros, que por seu lado, continuarão a
subir.
Apesar da PEC das bondades, que está
provocando uma certa reanimação na economia e no emprego, a volta do cipó de
aroeira é esperada para 2023 com manifestações iniciais já em dezembro. A crise
vai agravar-se.
Apenas para registrar, as consequências da reunião com os embaixadores estão sendo trágicas para o governo. Provocou o alerta da sociedade civil e está conseguindo, em um manifesto, unir burgueses e proletários em defesa da democracia, diante das pregações golpistas desesperadas do presidente, que já marcou nova data e local para o golpe: 7 de setembro no Rio de Janeiro. Quase todas as federações de trabalhadores e empresários juntamente com milhares de cientistas, artistas, políticos, empresários, professores etc. já assinaram. Espera-se a leitura no dia 11 de agosto, em São Paulo, na faculdade de Direito.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan Alves.
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