quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Caminhando para as eleições e para a crise

Semana de 03 a 09 de outubro de 2022

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

O drama das eleições continua. Terminou o primeiro turno com resultados não muito famosos. Para nossa triste realidade ficou demonstrado que há uma grande parcela do povo brasileiro extremamente reacionária e conservadora. Bandidos e fanáticos como Damares Alves e general Mourão, conseguiram eleição como senadores por grande maioria de votos. O governo já fez uma grande bancada na Câmara e no Senado e o seu partido, o PL, passou a ser o maior partido do país. Caminhamos agora para o segundo turno e a campanha política já recomeçou com toda sua mediocridade.

Torna-se difícil falar de economia diante deste quadro político muito tenso, mas, vamos cumprir nossa obrigação pois há acontecimentos interessantes a comentar. Temos falado continuamente na aproximação da crise mundial. Mesmo sem os acidentes do covid-19 e guerra Rússia Ucrânia, a economia mundial estava entrando em um novo ciclo de crise. Previmos isto em nossas Análises. Os dois acontecimentos não econômicos e casuais, aceleraram a deflagração do fenômeno. Com o caso covid em fase de superação, com exceção da China onde o vírus causa grandes perturbações, o problema que se arrasta é a guerra. Tudo indica que ainda teremos de conviver com ela por algum tempo. O curioso é que as organizações internacionais, embora destaquem os efeitos, procuram minimizar a verdadeira causa. Temos agora novas lamentações e denúncias. As empresas de transportes marítimos atestam o cancelamento de muitos fretes contratados e rotas de navegação. No Pacífico o preço dos fretes caiu 75% e são canceladas várias rotas na Ásia e na Europa. Em outubro, na primeira semana, foram canceladas 1/3 da capacidade dos contêineres e na segunda semana, a metade desta capacidade.

A Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) afirma que está em marcha uma “recessão global induzida” deflagrada pelo aumento das taxas de juros dos países desenvolvidos o que provocará uma “crise em cascata de dívida, saúde e clima”. No Relatório Anual de Comércio e Desenvolvimento a Unctad afirma que a “política fiscal das economias avançadas” está criando o “risco de empurrar o mundo para uma recessão global e estagnação prolongada”. A Unctad alerta que esta crise terá consequências piores que a crise de 2008 e a crise da covid em 2020.  Em 2022 o crescimento mundial não ultrapassará os 2,5% com uma perda global de US$17 trilhões para o PIB mundial.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) cortou suas projeções para o comércio mundial. Neste ano as trocas crescerão apenas 3,5% e no próximo não ultrapassa 1%. A OMC estima o crescimento do PIB mundial em 2,8%, em 2022 e em 2,3% em 2023. Esta situação é causada pela guerra, pela inflação, pela elevação dos preços dos alimentos e combustíveis, e pela alta dos juros. Por seu lado o Fundo Monetário Internacional, através de sua diretora geral Kristalina Georgieva, alertou para o aumento dos riscos de uma recessão. O Banco Mundial (BM) elevou suas estimativas de crescimento da América Latina e Caribe de 2,3% para 3%, neste ano, mas baixou de 2,2% para 1,6% os números para 2023. O BM aponta como causas a elevação dos juros, a desaceleração mundial, os preços dos combustíveis e alimentos e a redução dos investimentos públicos. Sobre o Brasil, o BM destaca o crescimento da pobreza afirmando que, em 2020, 1 em cada 5 brasileiros vivia abaixo da linha da miséria e que em 158 países estudados o Brasil ocupa a 14ª posição entre os de pior nível de desigualdade.

Há ainda outra notícia internacional preocupante. Para a fúria dos EUA, a Opep, cartel dos países produtores de petróleo, decidiu reduzir a produção em 2 milhões de barris dia como forma de evitar a queda dos preços. Os americanos acusaram a Arábia Saudita, líder do grupo, e aliada deles, de agora aliar-se aos Russos. Biden quer rever suas sanções ao petróleo da Venezuela e anda conversando com o Maduro, além de lançar no mercado parte de suas reservas estratégicas. Mudam os interesses, mudam as amizades, mas a crise inexoravelmente vem aí.


[i] Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan Alves.

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