Semana de 03 a 09 de outubro de 2022
Nelson Rosas Ribeiro[i]
O drama das eleições continua. Terminou o
primeiro turno com resultados não muito famosos. Para nossa triste realidade
ficou demonstrado que há uma grande parcela do povo brasileiro extremamente
reacionária e conservadora. Bandidos e fanáticos como Damares Alves e general
Mourão, conseguiram eleição como senadores por grande maioria de votos. O
governo já fez uma grande bancada na Câmara e no Senado e o seu partido, o PL,
passou a ser o maior partido do país. Caminhamos agora para o segundo turno e a
campanha política já recomeçou com toda sua mediocridade.
Torna-se difícil falar de economia diante
deste quadro político muito tenso, mas, vamos cumprir nossa obrigação pois há
acontecimentos interessantes a comentar. Temos falado continuamente na
aproximação da crise mundial. Mesmo sem os acidentes do covid-19 e guerra
Rússia Ucrânia, a economia mundial estava entrando em um novo ciclo de crise.
Previmos isto em nossas Análises. Os dois acontecimentos não econômicos e
casuais, aceleraram a deflagração do fenômeno. Com o caso covid em fase de
superação, com exceção da China onde o vírus causa grandes perturbações, o
problema que se arrasta é a guerra. Tudo indica que ainda teremos de conviver
com ela por algum tempo. O curioso é que as organizações internacionais, embora
destaquem os efeitos, procuram minimizar a verdadeira causa. Temos agora novas
lamentações e denúncias. As empresas de transportes marítimos atestam o
cancelamento de muitos fretes contratados e rotas de navegação. No Pacífico o
preço dos fretes caiu 75% e são canceladas várias rotas na Ásia e na Europa. Em
outubro, na primeira semana, foram canceladas 1/3 da capacidade dos contêineres
e na segunda semana, a metade desta capacidade.
A Agência das Nações Unidas para o Comércio
e o Desenvolvimento (Unctad) afirma que está em marcha uma “recessão global
induzida” deflagrada pelo aumento das taxas de juros dos países desenvolvidos o
que provocará uma “crise em cascata de dívida, saúde e clima”. No Relatório
Anual de Comércio e Desenvolvimento a Unctad afirma que a “política fiscal das
economias avançadas” está criando o “risco de empurrar o mundo para uma
recessão global e estagnação prolongada”. A Unctad alerta que esta crise terá
consequências piores que a crise de 2008 e a crise da covid em 2020. Em 2022 o crescimento mundial não
ultrapassará os 2,5% com uma perda global de US$17 trilhões para o PIB mundial.
A Organização Mundial do Comércio (OMC)
cortou suas projeções para o comércio mundial. Neste ano as trocas crescerão
apenas 3,5% e no próximo não ultrapassa 1%. A OMC estima o crescimento do PIB mundial
em 2,8%, em 2022 e em 2,3% em 2023. Esta situação é causada pela guerra, pela
inflação, pela elevação dos preços dos alimentos e combustíveis, e pela alta
dos juros. Por seu lado o Fundo Monetário Internacional, através de sua
diretora geral Kristalina Georgieva, alertou para o aumento dos riscos de uma
recessão. O Banco Mundial (BM) elevou suas estimativas de crescimento da
América Latina e Caribe de 2,3% para 3%, neste ano, mas baixou de 2,2% para
1,6% os números para 2023. O BM aponta como causas a elevação dos juros, a
desaceleração mundial, os preços dos combustíveis e alimentos e a redução dos
investimentos públicos. Sobre o Brasil, o BM destaca o crescimento da pobreza
afirmando que, em 2020, 1 em cada 5 brasileiros vivia abaixo da linha da miséria
e que em 158 países estudados o Brasil ocupa a 14ª posição entre os de pior
nível de desigualdade.
Há ainda outra notícia internacional preocupante. Para a fúria dos EUA, a Opep, cartel dos países produtores de petróleo, decidiu reduzir a produção em 2 milhões de barris dia como forma de evitar a queda dos preços. Os americanos acusaram a Arábia Saudita, líder do grupo, e aliada deles, de agora aliar-se aos Russos. Biden quer rever suas sanções ao petróleo da Venezuela e anda conversando com o Maduro, além de lançar no mercado parte de suas reservas estratégicas. Mudam os interesses, mudam as amizades, mas a crise inexoravelmente vem aí.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na
Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan Alves.
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