Semana de 10 a 16 de outubro de 2022
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
No
começo do mês de setembro, escrevi uma análise afirmando que a economia
brasileira estava “saindo do buraco” (link). O contexto foi a divulgação do PIB
brasileiro no 2º trimestre de 2022. No mesmo texto (e no texto da semana
seguinte, escrito pelo prof. Nelson Rosas - link), porém, foi destacado o fato de que
este crescimento registrado estava na corda bamba. Alguns dados revelados em
outubro confirmam nossas suspeitas.
Como
vimos registrando nas últimas semana, cada vez mais entidades, instituições e
organizações internacionais vêm alertando para a crise global que se avizinha.
Para além dos problemas típicos dessa fase do ciclo econômico, já vimos que a
crise será agravada pela atual política de elevação dos juros dos EUA.
Somado
a isso, segundo a Agência Internacional de Energia e a Secretaria do Tesouro
Americano, há outro agravante para o cenário internacional: o corte da produção
de petróleo pelo cartel da OPEP+. Isto vai gerar um aumento no preço do
produto, seguido da dificuldade de manutenção do consumo e uma redução da
produção de energia. Outro resultado é o aumento do preço dos derivados do
petróleo, o que pressiona os custos e a inflação. Isto, claro, dá mais “razão”
para a atuação do Fed (banco central dos EUA) no aumento da sua taxa básica de
juros. A situação está tão conturbada que os EUA estão acusando a Arábia
Saudita (seu aliado de longa data) de se alinharem com a Rússia e se
beneficiarem do aumento do preço do petróleo. Até o fim de 2022, a expectativa
é de que o preço do barril tipo Brent fique em torno dos US$ 100, levemente
acima do nível atual.
Por
falar em petróleo, aqui no Brasil algumas das medidas desesperadas de Jair
Bolsonaro estão dando certo, para ele. Vimos a redução nos preços se
generalizar para todos níveis de renda analisados pelo IPEA, com exceção das
famílias que recebem mais de R$ 17 mil por mês. Isto foi possível graças à
famosa redução do ICMS de combustíveis e energia imposta por Brasília aos entes
da federação.
Porém,
as medidas desesperadas do presidente Bolsonaro não foram capazes de reverter
outros dados negativos. As falências decretadas por empresas nunca foram tão
altas desde o início da pandemia, em 2020. Além disso, em agosto de 2022 havia
6,2 milhões de empresas negativadas, enquanto em agosto de 2021 este número era
de 5,8 milhões. Pelo lado do consumidor, segundo pesquisa da Confederação
Nacional do Comércio (CNC), a inadimplência está em seu maior patamar desde
2010. Em setembro de 2022, 79,3% das famílias se declararam endividadas e 30%
estavam com dívidas em atraso. Há um ano esse percentual era de 74% de
endividamento e 25,5% de atraso.
Por
sua vez, segundo a Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, a produção industrial
brasileira caiu 0,6% entre agosto e julho de 2022. Por categoria de uso, os
bens intermediários (-1,4%) e os bens semi e não-duráveis (-1,4%) puxaram esses
dados para baixo. Amenizando a situação, a produção de bens de capital (5,2%) e
bens duráveis (6,1%) subiram. Entre junho e agosto de 2022, a indústria reduziu
em 0,4% sua produção. O motivo, segundo analistas do IBGE, foi o esgotamento da
antecipação do 13º salário e dos saques extraordinários do FGTS, liberados
ainda no primeiro semestre.
Para
fechar, o Banco Central (BC) está fazendo o maior aperto monetário dos últimos
20 anos. Segundo o Banco Santander, a taxa de juros atual (de 13,75%) já é
superior à inflação atual (7,2% nos últimos 12 meses, pelo IPCA) e à inflação
que se espera para o futuro próximo (expectativas de inflação em queda). A
estimativa é de que os juros estão 8,7 pontos percentuais mais elevados do que
a inflação ponderada.
Não à
toa o IBC-BR, indicador do BC que é considerado como prévia do PIB, apresentou
queda de 1,13% entre agosto e julho de 2022. As cartadas econômicas de
Bolsonaro e Paulo Guedes foram dadas e melhoraram um pouco a economia. Porém,
seus efeitos parecem ter se esgotado. Talvez por isso a campanha tenha
desembocado na baixaria e nas fake news que estamos vendo atualmente.
Fazer o quê? Cada um vai à luta com as armas que domina...
[i] Professor
do DRI/UFPB e do PPGRI/UEPB; Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares e Nertan
Gonçalves.
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