Semana de 02 a 08 de janeiro de 2023
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Como
não começar falando do absurdo ocorrido em Brasília no último fim de semana!?
As cenas são as mais lamentáveis e contraditórias já vistas na história recente
do país.
Quem
diria que os defensores de Deus arrancariam símbolos religiosos (que nem
deveriam estar ali, já que o Estado é laico) das paredes dos palácios dos três
poderes? Quem diria que os patriotas arrancariam o Brasão de Armas do Brasil
(brasão símbolo da nossa república) e o exibiriam como troféu, simbolizando,
talvez, a cabeça de um inimigo (a própria democracia). Quem diria que veríamos
as nádegas de um exemplar cidadão de bem, integrante da tradicional família
brasileira, defecando em móveis oficiais?
Apesar
da forma absolutamente peculiar desses fatos, a contradição fundamental das
manifestações está em seu conteúdo. Como é possível pedir intervenção militar
em favor da liberdade? Nem Freud explicaria a (in)consciência de um
bolsominion. Não é nenhum exagero dizer que eles estão se comportando como
gado, seguindo direitinho o berrante do seu algoz e indo em manada para o
abate.
Porém,
Jair Bolsonaro já abandonou o rebanho que reuniu para as eleições de 2018 e que
se manteve fiel em 2022. Não são poucas as figuras públicas e/ou midiáticas que
passaram rechaçá-lo após o Dia do Fujo (para o Orlando). Por isso mesmo,
algumas questões precisam ser levantadas.
Por
que há dois meses existem acampamentos que mais parecem Cracolândias diante de
quarteis? Por que eles estavam recebendo o apoio das próprias Forças Armadas?
Por que essa escória da democracia não dispersou com a fuga do Jair? Por que os
integrantes das Forças Armadas (e seus familiares) passaram a compactuar,
discursar e até ocupar esses ambientes? Seria o Capitão apenas a figura pública
de algo maior e hierarquicamente superior? Não resta dúvidas de que há
militares tentando trazer de volta os velhos tempos da Ditadura.
Contudo,
o poder militar está subordinado ao poder econômico. Certamente, há muitos empresários
financiando as manifestações desde seu início. Mas esta fração da burguesia
brasileira (que, espero, será revelada em breve) não apresentou poder
suficiente para financiar um efetivo golpe. Nesse contexto, a frente amplíssima
costurada por Lula, até aqui, foi capaz de dar um esteio à nossa democracia.
Claro, quanto mais diferentes forem os tecidos, mais difícil será manter essa
colcha de retalhos. As linhas precisam ser devidamente ajustadas. Mesmo assim,
a burguesia que efetivamente manda no país parece estar com Lula, mas,
principalmente, com Alckmin e Tebet.
Além
disso, mostrando que falta poder econômico aos golpistas, não se viu
parlamentares ou grandes políticos defendendo a invasão de 08 de janeiro de
2023. Caso houvesse grandes garantias de que os ganhos (econômicos e políticos)
com um possível golpe fossem maiores do que os ganhos segundo o cenário atual,
certamente veríamos grandes figuras públicas contemporizando e justificando os
atos.
Isto
significa que tudo está tranquilo? É só esperar que as instituições façam sua
parte? É achar que Xandão vai nos salvar sempre? Obviamente que não. Como temos
visto, a democracia burguesa é um processo em permanente transformação. A
disputa pelo poder é uma característica do capitalismo e da formação social que
dele deriva. A história já mostrou que a burguesia é capaz de todo e qualquer
expediente para ter seus interesses atendidos (vide Hitler, Mussolini,
Pinochet, Franco, Salazar e muitos outros).
Se
hoje a situação política está muito melhor do que no ano passado, isto é
resultado da luta política travada por todos e pelo voto das massas. Claro que
dará muito trabalho lavar toda a sujeira bolsonarista. E aí está o nosso papel
nisso tudo: engrossar o caldo e fazê-lo entornar em cima daqueles que querem
destruir nossa frágil democracia.
A barbárie bolsonarista deu sua primeira obrada. Preparemo-nos para a próxima, que, cedo ou tarde, certamente virá. É só alguma fração relevante da burguesia desejar. Os militares já mostraram que ainda estão dispostos a embarcar nesse tipo de aventura.
[i] Professor
do DRI/UFPB e do PPGRI/UEPB; Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares, Cecília Fernandes
e Nertan Gonçalves.
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