Semana 09 a 15 de janeiro de 2023
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Depois dos brutais acontecimentos da
destruição da praça dos três poderes, as coisas começam a voltar à normalidade.
Se é que se pode falar em normalidade em um país tão anormal como o nosso. As
apurações e inquéritos estão em andamento, com algumas prisões, bloqueios de
recursos, buscas e apreensões e tudo a que se tem direito. Mas, a justiça se
move com a costumeira lentidão. Diz-se por aí que a justiça tarda, mas não
falha. Esperemos que assim seja.
Como costuma acontecer, os baderneiros,
cercados de advogados, choram e protestam pelos seus direitos. Aqueles mesmos
que afirmavam dias atrás que “bandido bom é bandido morto”. Há que se destacar
que a repressão aos vândalos foi branda e educada e tecnicamente muito
bem-feita, sem mortos e poucos feridos. Diferente seria, provavelmente, se eles
fossem estudantes, professores, operários ou gente do MST. Curioso é que a
maior parte dos marginais presos o foi no acampamento do quartel do exército em
Brasília. Conclui-se logicamente que o quartel havia se transformado em um
covil de marginais e o coiteiro era o general comandante, que continua impune.
Até o artefato que deveria explodir em um caminhão de combustíveis lá foi
preparado, quem sabe, com assessoria de técnicos competentes locais. Aliás, não
seria de surpreender, pois até o ex-presidente Bolsonaro já havia usado esta
expertise para promover atentados contra a própria instituição, sendo por isso
reformado, mas acalentado pelos seus algozes e preservado para alguma
oportunidade futura. Quem sabe?
Agora avança-se sobre os financiadores,
mandantes e inspiradores da ação entre os quais se encontram certamente
políticos, empresários, líderes religiosos, ou seja, homens “de bem”, para não
falar de filhos, esposas e parentes de militares, igualmente “gente de
bem”. Mesmo depois da determinação do
Alexandre de Moraes para o desmonte de todos os acampamentos de baderneiros em
frente aos quarteis, em Brasília, o exército impediu, por algum tempo, a
polícia do DF de cumprir a determinação judicial. Quem sabe, se não foi para
dar tempo de fuga aos “cidadãos de bem” bombistas, foragidos da justiça,
usuários de tornozeleiras eletrônicas etc. Uma coisa é certa: até agora, entre
os detidos não apareceram os fardados graduados. Quem vai responder o que
estavam fazendo os dois batalhões sediados no subsolo do palácio do planalto
para defender os poderes da república? Quem são os comandantes do Regimento de
Cavalaria da Guarda e do Batalhão da Guarda Presidencial? Por que não se
moveram? Quem os comandava?
Na verdade, o partido do exército continua
a mostrar sua força. Continuamos a viver sob a tutela militar que existe desde
o início da república e que a sociedade civil ainda não se atreveu a abolir. Na
conjuntura atual, nunca as condições internacionais foram tão propícias.
Internamente, há provas evidentes da corrupção e dos desmandos da caserna que,
vergonhosamente, deixou-se dirigir por um capitão que ela própria excluiu por
incompatibilidade com seus princípios. Que vergonha!
Mas a violência dos bolsominions
ultrapassou os limites da praça dos três poderes e ocorreu em outras áreas.
Foram praticados atos de terrorismo clássicos como o bloqueio de refinarias e
aeroportos e sabotagem derrubando torres de transmissão de energia. Com a
descoberta da minuta do decreto do golpe, na casa do ex-secretário, Anderson
Torres, o quadro ficou ainda mais completo demonstrando que o plano era muito
mais ambicioso. Há muito a investigar. Como bem disse o ex-secretário geral da
Unctad Rubens Ricupero, “atrás disso tem uma inteligência estratégica. Nenhuma
bomba explode sem estopim”.
Na economia também as coisas voltam à normalidade. Como vínhamos falando, a recuperação continua a arrastar-se dificultada pela política econômica do governo anterior e com a colaboração do Banco Central (BC) com sua insensata elevação da taxa de referência Selic. No exterior, enquanto se desenrola o Fórum de Davos na Suíça, a diretora geral do FMI, Kristalina Georgieva, anuncia uma recessão mundial para este ano e o crescimento de 0,5% para os países avançados. Como complemento, o Banco Mundial publica um documento afirmando que a economia mundial “está por um fio”.
[i] Professor
Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia
Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os
pesquisadores: Guilherme de Paula, Mariana Tavares, Nertan Alves e Maria
Cecília Fernandes.
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