Semana 17 a 23 de abril de 2023
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Apesar das promessas do presidente Lula, e
como havíamos previsto, a situação econômica continua a agravar-se. A
divulgação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br),
considerado como prévia do crescimento do PIB, mostrou uma queda de 0,04% em
janeiro. O BC aponta como responsável o declínio do setor de serviços. Isto é
consequência da queda da confiança, da desaceleração do mercado de trabalho, do
endividamento, da demanda fraca e das taxas de juros elevadas. Em fevereiro a
indústria teve uma queda de 0,2%, sendo a terceira queda sucessiva depois de
recuar 0,1% em dezembro e 0,3% em janeiro. Rafael Cagnin do Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) considera que a indústria vem
patinando e que não há sinais de crescimento. Economistas e analistas
consideram que há uma conjuntura adversa para a indústria com a política
monetária apertada, o endividamento das famílias, o investimento fraco e o
cenário internacional difícil. Confirma-se assim a continuação da entrada na fase
de crise do ciclo.
A nível internacional os dados também
apontam na direção da crise. Em entrevista concedida a Edward Luce do Financial
Times, o ex-secretário do Tesouro dos EUA Hank Paulson mostrou sua preocupação
com a crise financeira e com a política de restrições à China feita pelos EUA.
Teme ele que o resultado desta política seja o crescente isolamento americano,
o perigo da guerra e a recessão. “... acho provável que veremos uma recessão se
você olhar para tudo que está acontecendo com o crédito”. E complementou sua
afirmação: “Ela vai demorar um pouco para se manifestar”. Ele afirmou que a
falência dos bancos Silvergate Bank, Silicon Valley Bank, Signature Bank e do
Crédit Suisse “abalou a confiança” e que “jamais poderemos abolir as crises financeiras”.
“Elas sempre acontecerão”.
O agravamento das condições de crédito, a
desorganização do comércio mundial e das cadeias de valor e o aumento das
tensões continuam a comprometer a reestruturação da globalização tão necessária
ao avanço do capitalismo. O FMI preocupado com a situação, estima um
crescimento de 3% para os próximos 5 anos, considerando o período mais fraco em
3 décadas e conclama os países para evitarem a “fragmentação econômica” que
prejudicará a todos.
É com este quadro de fundo que ocorrem as
visitas de Lula à China, Portugal e Espanha. As declarações sobre a guerra
Rússia-Ucrânia, feitas na China eriçou os pelos das velhas hienas da OTAN. EUA
e União Europeia berraram em uníssono ameaças ao Brasil condenando as
declarações do presidente classificando-as como reprodução do discurso russo. A
histeria belicista é de tal ordem que não podem tolerar qualquer posição
independente. Ou entra na guerra com o bloco ou é aliado dos russos.
E o berreiro internacional encontra eco no
Brasil. Não só entre os partidos da oposição, mas também na imprensa. É quando
se manifesta a fragilidade da frente que forma o governo. Não se fala da
política agressiva da Otan, organização que deveria ter desaparecido com o fim
da URSS, pois era uma organização militar para conter o comunismo. Com o fim do
comunismo ela perdeu a razão de existir. O que ocorreu foi o contrário. Não só
não desapareceu como expandiu-se em direção às fronteiras da Rússia. Apesar de
todos os avisos insistiu em integrar a Ucrânia depois de patrocinar um golpe de
Estado que depôs o presidente e instalou um governo pró-ocidental. É evidente
que a Rússia não iria tolerar. Estes antecedentes não são considerados quando
se fala dos culpados pela guerra, resultado das provocações dos EUA e seus aliados
da Otan.
Como consequências temos esta desorganização de toda a ordem mundial além das mortes e destruição. Usam como bucha de canhão o povo ucraniano lançado na fogueira por bandos de fascistas e mercenários que perambulam como lixo pelos países da Europa. É muito cômodo para os belicistas testar suas armas usando os outros e livrando-se do lixo mercenário que aumenta o quadro dos desempregados em seus países.
[i] Economista,
Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e
Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Valentine de Moura, Lucas Tiago de Santos
e Miró Tosaka.