Semana 29 de maio a 04 de junho de
2023
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Já falamos que a situação atual se
caracteriza por uma “polycrisis” e esta continua a se agravar. A globalização
ainda está em desagregação e o rearranjo das cadeias produtivas enfrenta o
dilema de escolher entre “nearshoring”, “friendshoring”, “re-shoring” etc. A
questão divide-se entre a economia, a política, a geoestratégia, a desagregação
das alianças e formação de novas parcerias. A nível da guerra tudo continua com
os generais da OTAN, cada vez mais histéricos e dispostos a lutar até o último
ucraniano e, possivelmente, depois destes, até o último mercenário. Na Ucrânia,
convencidos de que não conseguirão derrotar a Rússia, parte-se para a
sabotagem, os atos de terrorismo como a explosão dos gasodutos Nord-stream, da
represa que inundou parte do sudeste do país, o envio de mísseis ou drones
sobre o território da Rússia, ou mesmo pequenas incursões nas regiões de
fronteira. Nesta área só podemos esperar o agravamento.
Por outro lado, a proximidade entre Rússia
e China se fortalece, bem como os BRICS, a colaboração Sul-Sul, com o avanço da
influência chinesa nos países do Pacífico e da América Latina. Com a ameaça de
crise nas economias da União Europeia (UE) e dos EUA, a situação do chamado
“mundo livre ocidental” não parece muito confortável, o que torna os generais
ainda mais agressivos. O panorama internacional não deve ser muito favorável
nos próximos tempos.
Para
o atual governo, navegar neste mar revolto não é muito agradável. O presidente
tem dispendido muitas energias tentando recuperar o espaço que o país havia
conquistado e vem obtendo algum sucesso, apesar de ter enfrentado difíceis
situações. Todos os grandes querem empurrar o país para os compromissos com a
guerra. O governo encontrou uma saída fortalecendo a aproximação com Índia,
China, África do Sul, Indonésia e outros que assumem uma posição de
neutralidade.
O lado negativo é que enquanto gasta
energias no exterior, as ratazanas internas saem dos esgotos para criar
dificuldades aos projetos do governo. Já dissemos que a “oposição” não tem
nenhuma proposta ou projeto alternativo. Sua única função é criar dificuldades,
atrapalhar, criar ruídos, na tentativa de impedir o governo de governar,
ajudados por alguns aliados e mesmo por membros do PT. Parece que parte da
grande frente que ajudou a derrubar o Bolsonaro não se deu conta de que a
situação hoje é diferente e que uma batalha maior está sendo travada. Os
golpistas não estão totalmente derrotados. Cada investigação feita descobre
mais sujeira debaixo do tapete e ainda há bolsominions que acreditam em alguma
virada e seguem conspirando com a esperança de que os americanos mudem de
estratégia, o que pode de fato ocorrer. A independência do Lula no panorama
externo pode irritá-los, a ponto de promover esta virada. São atrevidas as
posições, não só em relação à guerra, mas no campo econômico, com a tentativa
de derrubar o dólar e a criação de canais de comércio internacional
independentes.
Apesar de todas as dificuldades a economia
interna está finalmente reagindo. Todo o derrame de recursos para estimular o
consumo afinal funcionou. Contrariando os prognósticos de todas as carpideiras
do velório anunciado, o IBGE divulgou as estatísticas. O Produto Interno Bruto
(PIB), que é a soma de toda a riqueza produzida no país, no primeiro trimestre
cresceu 1,9% em relação ao trimestre anterior. É o maior crescimento em um
trimestre nos últimos 15 anos. Este dado, se anualizado, corresponderia a um
crescimento de 4%. Toda a cantilena do caos que a vitória de Lula representaria
foi inútil. O esforço da política econômica distributiva deu resultado. Certo
que o clima e o mercado internacional colaboraram pois o agro foi o grande
responsável pelo crescimento, colaborando com 21,6% de crescimento para o
resultado. A indústria decresceu apenas 0,1% e os serviços cresceram 0,6%. O
ponto mais lamentável foi a queda de 3,4% nos investimentos. Agora correm as
bruxas carpideiras para reestimar seus prognósticos torcendo para que haja uma
queda na economia que os salvem, contando com a colaboração do Banco Central
que, com sua taxa de juros de 13,75%, rema furiosamente em sentido contrário
querendo derrubar os salários e a economia, aumentando o desemprego.
Força Roberto Campos Neto! Até quando?
[i] Economista,
Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e
Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Helen Tomás, Tomás Cisneiros, Gustavo
Figueiredo e Letícia de Almeida.
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