sexta-feira, 9 de junho de 2023

Contra todos os prognósticos a economia cresce

Semana 29 de maio a 04 de junho de 2023

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

            

Já falamos que a situação atual se caracteriza por uma “polycrisis” e esta continua a se agravar. A globalização ainda está em desagregação e o rearranjo das cadeias produtivas enfrenta o dilema de escolher entre “nearshoring”, “friendshoring”, “re-shoring” etc. A questão divide-se entre a economia, a política, a geoestratégia, a desagregação das alianças e formação de novas parcerias. A nível da guerra tudo continua com os generais da OTAN, cada vez mais histéricos e dispostos a lutar até o último ucraniano e, possivelmente, depois destes, até o último mercenário. Na Ucrânia, convencidos de que não conseguirão derrotar a Rússia, parte-se para a sabotagem, os atos de terrorismo como a explosão dos gasodutos Nord-stream, da represa que inundou parte do sudeste do país, o envio de mísseis ou drones sobre o território da Rússia, ou mesmo pequenas incursões nas regiões de fronteira. Nesta área só podemos esperar o agravamento.

Por outro lado, a proximidade entre Rússia e China se fortalece, bem como os BRICS, a colaboração Sul-Sul, com o avanço da influência chinesa nos países do Pacífico e da América Latina. Com a ameaça de crise nas economias da União Europeia (UE) e dos EUA, a situação do chamado “mundo livre ocidental” não parece muito confortável, o que torna os generais ainda mais agressivos. O panorama internacional não deve ser muito favorável nos próximos tempos.

 Para o atual governo, navegar neste mar revolto não é muito agradável. O presidente tem dispendido muitas energias tentando recuperar o espaço que o país havia conquistado e vem obtendo algum sucesso, apesar de ter enfrentado difíceis situações. Todos os grandes querem empurrar o país para os compromissos com a guerra. O governo encontrou uma saída fortalecendo a aproximação com Índia, China, África do Sul, Indonésia e outros que assumem uma posição de neutralidade.

O lado negativo é que enquanto gasta energias no exterior, as ratazanas internas saem dos esgotos para criar dificuldades aos projetos do governo. Já dissemos que a “oposição” não tem nenhuma proposta ou projeto alternativo. Sua única função é criar dificuldades, atrapalhar, criar ruídos, na tentativa de impedir o governo de governar, ajudados por alguns aliados e mesmo por membros do PT. Parece que parte da grande frente que ajudou a derrubar o Bolsonaro não se deu conta de que a situação hoje é diferente e que uma batalha maior está sendo travada. Os golpistas não estão totalmente derrotados. Cada investigação feita descobre mais sujeira debaixo do tapete e ainda há bolsominions que acreditam em alguma virada e seguem conspirando com a esperança de que os americanos mudem de estratégia, o que pode de fato ocorrer. A independência do Lula no panorama externo pode irritá-los, a ponto de promover esta virada. São atrevidas as posições, não só em relação à guerra, mas no campo econômico, com a tentativa de derrubar o dólar e a criação de canais de comércio internacional independentes.

Apesar de todas as dificuldades a economia interna está finalmente reagindo. Todo o derrame de recursos para estimular o consumo afinal funcionou. Contrariando os prognósticos de todas as carpideiras do velório anunciado, o IBGE divulgou as estatísticas. O Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de toda a riqueza produzida no país, no primeiro trimestre cresceu 1,9% em relação ao trimestre anterior. É o maior crescimento em um trimestre nos últimos 15 anos. Este dado, se anualizado, corresponderia a um crescimento de 4%. Toda a cantilena do caos que a vitória de Lula representaria foi inútil. O esforço da política econômica distributiva deu resultado. Certo que o clima e o mercado internacional colaboraram pois o agro foi o grande responsável pelo crescimento, colaborando com 21,6% de crescimento para o resultado. A indústria decresceu apenas 0,1% e os serviços cresceram 0,6%. O ponto mais lamentável foi a queda de 3,4% nos investimentos. Agora correm as bruxas carpideiras para reestimar seus prognósticos torcendo para que haja uma queda na economia que os salvem, contando com a colaboração do Banco Central que, com sua taxa de juros de 13,75%, rema furiosamente em sentido contrário querendo derrubar os salários e a economia, aumentando o desemprego.

Força Roberto Campos Neto! Até quando?


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Helen Tomás, Tomás Cisneiros, Gustavo Figueiredo e Letícia de Almeida.

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