Semana de 19 a 25 de junho de 2023
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Nas
duas últimas semanas fizemos uma análise da economia brasileira com base
naquilo que o “economês” chama de ciclos econômicos: a alternância de fases de
forte e fraco crescimento das economias capitalistas. Complementando, aqui
vamos olhar para outra dimensão do problema: a nossa estrutura produtiva muito
dependente de um setor.
Como
temos visto, o governo brasileiro vem se esforçando para dar andamento a um
acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Tido como muito importante
para nós, os latino-americanos, este acordo busca apenas dar novos ares a uma
situação que já é ruim para o Brasil. Entre janeiro e maio de 2011, 38,8% do
total das exportações brasileiras para a UE foram de produtos não
industrializados. Já nos primeiros meses de 2023, esse percentual subiu para
47,7%, tendo passado pelo pico de 51,5% em 2021. Pelas pretensões do acordo,
serão criadas melhores condições para a exportação de produtos primários do Brasil
e importação de manufaturados vindos da Europa. Isto não é novidade na história
do país, que sempre teve uma economia fortemente baseada na venda de insumos
minerais e agropecuários para o mundo. Hoje não é muito diferente.
O
Índice de Produção Agroindustrial (PIMAgro), da Fundação Getúlio Vargas (FGV),
apresentou crescimento em cinco dos seis meses, entre outubro de 2022 e março
de 2023. Subdividido em dois componentes, um deles foi muito bem e o outro
muito mal no período. Para os produtos agroindustriais não alimentícios
(atividades agrícola e de beneficiamento de produtos agrícolas, como os
têxteis, por exemplo), nesses seis meses citados, o índice só apresentou
crescimento em março de 2023. Já o índice de alimentos e bebidas só não cresceu
em fevereiro de 2023. Para reforçar a importância do setor, pesquisadores da
FGV estimaram que mais de 30% do crescimento do PIB do primeiro trimestre de
2023 veio da agropecuária. Para todo o ano de 2023, a estimativa é que o
cultivo de soja (excluindo o beneficiamento) contribua com mais de 20% do
crescimento total do PIB brasileiro. Apenas entre janeiro e abril de 2023, o
setor foi responsável pela contratação de mais de 41 mil pessoas.
Este
setor claramente é muito importante para a economia brasileira. Porém, a questão
que se deve levantar é: por que dependemos tanto dele? Por que insistir em
acordos e medidas que não contemplam uma diversificação da nossa economia?
Naturalmente,
dado seu poder econômico, um dos motivos é o fato de que os interesses do
agronegócio são muito bem acolhidos pela superestrutura política, em especial a
bancada do boi na Câmara e no Senado. A diversidade de seus defensores é tanta
que bolsonaristas e até petistas compõem a Frente Parlamentar da Agropecuária.
Além disso, é claro que o Poder Executivo também atende os desejos do agro.
O que
o Brasil precisa, para além disso, é diversificar o número de setores que
participam ativamente no nosso crescimento. Desde o começo do atual século XXI,
diversos são os estudos que demonstram como a indústria instalada no nosso
território (seja nacional ou multinacional) perdeu espaço na dinamização da
atividade econômica em geral. A literatura chama este fenômeno de
desindustrialização e ele é observado em vários países mundo afora. Porém, o
caso brasileiro é tipificado como uma desindustrialização negativa, pois é
precoce e não há uma compensação da redução da produção industrial em outros
setores, como nos serviços intensivos em tecnologia, ou via investimento
estrangeiro direto, que garantiria o aumento da renda nacional para além do que
é produzido internamente.
Não são poucos os argumentos para defender uma possível industrialização brasileira, pois este é o setor mais dinâmico e com maior potencial de influenciar o restante da economia, seja como demandante e ofertante de mercadorias, seja como propagador de tecnologia e inovação. A fórmula é velha e parece ultrapassada, pois esses também eram os anseios de grande parte dos economistas preocupados com o atraso brasileiro no século passado. Porém, se ainda não superamos a nossa dependência e nosso presente ainda se assemelha ao passado, o que é velho, na verdade, se torna ainda mais urgente no tempo.
[i] Professor
do DRI/UFPB, PPGCPRI/UFPB e PPGRI/UEPB. Coordenador do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Helen Tomaz, Raquel Lima, Letícia Rocha, Miró
Miranda e Thomaz Cisneros.
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