Semana de 05 a 11 de junho de 2023
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Nas
últimas semanas as notícias dão conta de uma melhora “surpreendente” nos dados
sobre a economia brasileira. Como já foi dito em análises passadas, este
comportamento era esperado. O motivo, tento explicar, brevemente, a seguir.
Como
principal pilar das nossas análises de conjuntura, admitimos que as economias
capitalistas se desenvolvem através de movimentos alternados de maior e menor
intensidade de crescimento. Em outras palavras, o crescimento econômico passa
por uma espécie de montanha russa, hora subindo, hora descendo.
Isso
não é mera opinião. Na realidade, há vários economistas, de diferentes
vertentes, que comprovaram estatisticamente a existência desse movimento
repetitivo, que ocorre desde o começo do século XIX. A regularidade e
periodicidade das oscilações é tal que o fenômeno ganhou até um nome: ciclo
econômico.
Basicamente,
o ciclo econômico é composto por quatro fases distintas, que se repetem de
forma sequencial: 1) crise, quando o crescimento econômico começa a desacelerar
de forma generalizada e consistente; 2) depressão (ou fundo do poço), quando o
crescimento atinge o patamar mais baixo (em alguns casos há um decrescimento da
economia) e há um processo generalizado de destruição de capitais (falências,
fechamento de fábricas, aumento do desemprego, etc.); 3) reanimação, quando a
economia volta a crescer, pois os capitais sobreviventes se reacomodam e se
expandem nos espaços deixados no mercado; e 4) auge, quando o crescimento
atinge o ponto máximo, devido à euforia com os ganhos de renda e aos altos
investimentos. Depois disso, ocorre uma nova crise. Dentre outros fatores, a
desaceleração chega como resultado do potencial produtivo excessivo criado com
a retomada da economia.
Por
trás desse movimento estão alguns elementos: o caráter sempre expansivo da
produção; a concentração da renda nas mãos de uma parcela cada vez menor da
população; o aumento da exclusão social; a falta de planejamento da produção a
partir das necessidades socialmente estabelecidas (anarquia nas decisões de
produção); dentre outros. Como essas são características que não podem ser
eliminadas do capitalismo, o ciclo econômico se torna, ele próprio, uma
caraterística desse sistema.
Pois
bem, no fim dos anos 2000, o mundo foi atingido pela famosa “Crise do
Subprime”. Quase todas as economias nacionais de relevância passaram por maus
bocados, sendo que algumas delas apresentaram decrescimento entre um ano e
outro (entre 2007, 2008 ou 2009). Pelas estatísticas, o Brasil só veio sentir
essa crise no ano de 2009, quando nossa economia decresceu 0,1%. Nesse período,
todos os governos de todos os países adotaram medidas de redução de danos,
incluindo o Brasil.
No
resto do mundo, a fase de reanimação se iniciou em meados dos anos 2010, mesmo
com taxas de crescimento menores do que as da década anterior. O auge do
crescimento mundial se deu entre 2018 e 2019. Por sua vez, em 2020 chegou a
Pandemia de Covid-19 e o ciclo foi “deformado”, com a crise voltando apenas em
2022.
Porém,
no Brasil foi diferente. Em 2014 entramos em um fundo do poço quase sem fim, do
qual só saímos em 2017. Mesmo assim nossa reanimação foi muito fraca, com
crescimento máximo de 2%. Na Pandemia, também passamos por uma “deformação” no
ciclo. Mas em 2021 não crescemos tanto quanto os principais países do mundo. Ou
seja, desde 2014 a economia brasileira vem “andando de lado”, seja por questões
externas, seja por questões internas.
O fato é que os governos desde Michel Temer, passando pela dupla Bolsonaro-Paulo Guedes, vêm sufocando a atividade econômica com políticas restritivas. O que estamos vendo agora (e ainda mal) é apenas uma folga na corda no pescoço dos brasileiros, mesmo com os cabrestos do Congresso e do Banco Central. Ou seja, o que o governo Lula está fazendo é pouco mais que o mínimo necessário para dar dignidade ao brasileiro que tem sofrido há quase 10 anos com políticas neoliberais arcaicas. Resta saber se nessa queda de braço o presidente sairá vencedor.
[i] Professor
do DRI/UFPB, PPGCPRI/UFPB e PPGRI/UEPB. Coordenador do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Lucas Tiago, Letícia de Almeida, Helen Thomaz,
Valentine de Moura e Guilherme de Paula.
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