sexta-feira, 16 de junho de 2023

Por que a economia brasileira vai bem?

Semana de 05 a 11 de junho de 2023

 

Lucas Milanez de Lima Almeida [i]

 

Nas últimas semanas as notícias dão conta de uma melhora “surpreendente” nos dados sobre a economia brasileira. Como já foi dito em análises passadas, este comportamento era esperado. O motivo, tento explicar, brevemente, a seguir.

Como principal pilar das nossas análises de conjuntura, admitimos que as economias capitalistas se desenvolvem através de movimentos alternados de maior e menor intensidade de crescimento. Em outras palavras, o crescimento econômico passa por uma espécie de montanha russa, hora subindo, hora descendo.

Isso não é mera opinião. Na realidade, há vários economistas, de diferentes vertentes, que comprovaram estatisticamente a existência desse movimento repetitivo, que ocorre desde o começo do século XIX. A regularidade e periodicidade das oscilações é tal que o fenômeno ganhou até um nome: ciclo econômico.

Basicamente, o ciclo econômico é composto por quatro fases distintas, que se repetem de forma sequencial: 1) crise, quando o crescimento econômico começa a desacelerar de forma generalizada e consistente; 2) depressão (ou fundo do poço), quando o crescimento atinge o patamar mais baixo (em alguns casos há um decrescimento da economia) e há um processo generalizado de destruição de capitais (falências, fechamento de fábricas, aumento do desemprego, etc.); 3) reanimação, quando a economia volta a crescer, pois os capitais sobreviventes se reacomodam e se expandem nos espaços deixados no mercado; e 4) auge, quando o crescimento atinge o ponto máximo, devido à euforia com os ganhos de renda e aos altos investimentos. Depois disso, ocorre uma nova crise. Dentre outros fatores, a desaceleração chega como resultado do potencial produtivo excessivo criado com a retomada da economia.

Por trás desse movimento estão alguns elementos: o caráter sempre expansivo da produção; a concentração da renda nas mãos de uma parcela cada vez menor da população; o aumento da exclusão social; a falta de planejamento da produção a partir das necessidades socialmente estabelecidas (anarquia nas decisões de produção); dentre outros. Como essas são características que não podem ser eliminadas do capitalismo, o ciclo econômico se torna, ele próprio, uma caraterística desse sistema.

Pois bem, no fim dos anos 2000, o mundo foi atingido pela famosa “Crise do Subprime”. Quase todas as economias nacionais de relevância passaram por maus bocados, sendo que algumas delas apresentaram decrescimento entre um ano e outro (entre 2007, 2008 ou 2009). Pelas estatísticas, o Brasil só veio sentir essa crise no ano de 2009, quando nossa economia decresceu 0,1%. Nesse período, todos os governos de todos os países adotaram medidas de redução de danos, incluindo o Brasil.

No resto do mundo, a fase de reanimação se iniciou em meados dos anos 2010, mesmo com taxas de crescimento menores do que as da década anterior. O auge do crescimento mundial se deu entre 2018 e 2019. Por sua vez, em 2020 chegou a Pandemia de Covid-19 e o ciclo foi “deformado”, com a crise voltando apenas em 2022.

Porém, no Brasil foi diferente. Em 2014 entramos em um fundo do poço quase sem fim, do qual só saímos em 2017. Mesmo assim nossa reanimação foi muito fraca, com crescimento máximo de 2%. Na Pandemia, também passamos por uma “deformação” no ciclo. Mas em 2021 não crescemos tanto quanto os principais países do mundo. Ou seja, desde 2014 a economia brasileira vem “andando de lado”, seja por questões externas, seja por questões internas.

O fato é que os governos desde Michel Temer, passando pela dupla Bolsonaro-Paulo Guedes, vêm sufocando a atividade econômica com políticas restritivas. O que estamos vendo agora (e ainda mal) é apenas uma folga na corda no pescoço dos brasileiros, mesmo com os cabrestos do Congresso e do Banco Central. Ou seja, o que o governo Lula está fazendo é pouco mais que o mínimo necessário para dar dignidade ao brasileiro que tem sofrido há quase 10 anos com políticas neoliberais arcaicas. Resta saber se nessa queda de braço o presidente sairá vencedor.


[i] Professor do DRI/UFPB, PPGCPRI/UFPB e PPGRI/UEPB. Coordenador do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Lucas Tiago, Letícia de Almeida, Helen Thomaz, Valentine de Moura e Guilherme de Paula.

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