Semana 12 a 18 de junho de 2023
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Na Análise passada o Professor Lucas
Milanez deu uma oportuna lição sobre o desenvolvimento capitalista que se dá
por ciclos de crescimento e desaceleração. Este movimento é afetado pela
política econômica, que pode deformá-lo acelerando cada fase ou retardando e
mesmo alterando sua intensidade. Não pode, entretanto, abolir o movimento.
Nossas Análises baseiam-se nesta teoria e é por isto que, apesar de desejar
muito o sucesso do governo, não podemos fugir da realidade. O que ocorreu é que
o longo período de desaceleração que atravessamos, agravado pela política
econômica do governo passado, causou uma grande destruição na economia o que
sempre acontece e é uma característica das fases de crise e depressão. Este é o
legado maldito deixado pela incompetência do desgoverno Bolsonaro. Pior do que
isto foi o desmantelo do aparelho de Estado, o instrumento para se fazer
política econômica. Infelizmente somos obrigados a passar por uma fase de
reestruturação do Estado para poder cuidar da economia e do país. É um precioso
tempo perdido, mas necessário.
No entanto, a destruição causada pelo
tsunami Bolsonaro tem seu lado positivo. Permite uma política econômica capaz
de produzir resultados de recuperação mais rápidos. No entanto, o consumo das
famílias, embora esteja sendo estimulado, levará algum tempo para crescer
diante da situação de endividamento dos consumidores. O programa “Desenrola”
será muito útil para melhorar este quadro. A retomada das obras do Estado
também será outra fonte de estímulos. Igual contribuição virá da queda da
inflação, do aumento do salário-mínimo e do Bolsa Família. Mais lenta será a
contribuição do investimento privado. Isto só ocorrerá quando os estímulos ao
consumo tiverem cumprido sua função. Apesar de tudo isto a Fundação Getúlio Vargas
(FGV) estima que o crescimento do consumo das famílias será de apenas 0,5%
neste ano. Evidentemente, seria de grande ajuda um aumento da oferta de
crédito.
É neste terreno do crédito que teremos de
enfrentar as maiores dificuldades. Enquanto escrevemos estas linhas foi
divulgado o resultado da reunião do Conselho de Política Monetária (Copom),
órgão do Banco Central (BC). A decisão sobre a taxa de juros Selic foi a
esperada: manutenção dos atuais 13,75%,
a mais alta taxa de juros do mundo. Muita razão tem o jornalista Reinaldo
Azevedo quando em seu programa o “É da coisa” afirmou que a diretoria do BC é
“Um bando de fanáticos endossados por outros idiotas que perderam o discurso e
agora não sabem o que falar”. Como já afirmamos em outas análises, o presidente
do BC, Bob Fields Neto, continua servindo aos seus senhores e remando contra as
intenções do governo e contra o crescimento do país. Foi para isto que o Senado
aprovou a “independência do BC”. É preciso garantir a maior lucratividade para
os especuladores financeiros. E o “bando de fanáticos” segue em frente não
ouvindo os clamores das maiores autoridades do país nem as opiniões de
representantes ilustres do setor produtivo como a carta aberta assinada por 51
membros do Conselho de Desenvolvimento Sustentável, ligado à presidência da
República, entre os quais estão Luiza Trajano, do Magazine Luiza, e Josué
Gomes, presidente da Fiesp.
Em relação à indústria a situação também
não é das melhores. Em abril, em relação a março, a indústria teve uma contração
de -0,6% segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM Regional), feita pelo IBGE.
10 dos 15 locais pesquisados seguiram a média nacional de queda. Dos 25 ramos
pesquisados 16 tiveram recuo.
Enquanto isso a situação internacional continua turbulenta. O Instituto de Finanças Internacionais (IIF) prevê “um pouso suave” para as economias dos EUA e a economia global. Na zona do euro o crescimento seria 0,6%. A China vem adotando estímulos para conter a desaceleração em curso. As taxas de juros continuam a crescer, as dívidas dos países a aumentar, mas os apelos pela guerra e gastos militares se mantêm. Eis o que temos a destacar na semana que findou. É preocupante!
[i] Economista,
Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e
Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Tomás Cisneiros, Gustavo Figueiredo, Lucas
Santos, Valentine de Moura e Miró Miranda.
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