quinta-feira, 22 de junho de 2023

Um bando de fanáticos

Semana 12 a 18 de junho de 2023

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Na Análise passada o Professor Lucas Milanez deu uma oportuna lição sobre o desenvolvimento capitalista que se dá por ciclos de crescimento e desaceleração. Este movimento é afetado pela política econômica, que pode deformá-lo acelerando cada fase ou retardando e mesmo alterando sua intensidade. Não pode, entretanto, abolir o movimento. Nossas Análises baseiam-se nesta teoria e é por isto que, apesar de desejar muito o sucesso do governo, não podemos fugir da realidade. O que ocorreu é que o longo período de desaceleração que atravessamos, agravado pela política econômica do governo passado, causou uma grande destruição na economia o que sempre acontece e é uma característica das fases de crise e depressão. Este é o legado maldito deixado pela incompetência do desgoverno Bolsonaro. Pior do que isto foi o desmantelo do aparelho de Estado, o instrumento para se fazer política econômica. Infelizmente somos obrigados a passar por uma fase de reestruturação do Estado para poder cuidar da economia e do país. É um precioso tempo perdido, mas necessário. 

No entanto, a destruição causada pelo tsunami Bolsonaro tem seu lado positivo. Permite uma política econômica capaz de produzir resultados de recuperação mais rápidos. No entanto, o consumo das famílias, embora esteja sendo estimulado, levará algum tempo para crescer diante da situação de endividamento dos consumidores. O programa “Desenrola” será muito útil para melhorar este quadro. A retomada das obras do Estado também será outra fonte de estímulos. Igual contribuição virá da queda da inflação, do aumento do salário-mínimo e do Bolsa Família. Mais lenta será a contribuição do investimento privado. Isto só ocorrerá quando os estímulos ao consumo tiverem cumprido sua função. Apesar de tudo isto a Fundação Getúlio Vargas (FGV) estima que o crescimento do consumo das famílias será de apenas 0,5% neste ano. Evidentemente, seria de grande ajuda um aumento da oferta de crédito.

É neste terreno do crédito que teremos de enfrentar as maiores dificuldades. Enquanto escrevemos estas linhas foi divulgado o resultado da reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central (BC). A decisão sobre a taxa de juros Selic foi a esperada:  manutenção dos atuais 13,75%, a mais alta taxa de juros do mundo. Muita razão tem o jornalista Reinaldo Azevedo quando em seu programa o “É da coisa” afirmou que a diretoria do BC é “Um bando de fanáticos endossados por outros idiotas que perderam o discurso e agora não sabem o que falar”. Como já afirmamos em outas análises, o presidente do BC, Bob Fields Neto, continua servindo aos seus senhores e remando contra as intenções do governo e contra o crescimento do país. Foi para isto que o Senado aprovou a “independência do BC”. É preciso garantir a maior lucratividade para os especuladores financeiros. E o “bando de fanáticos” segue em frente não ouvindo os clamores das maiores autoridades do país nem as opiniões de representantes ilustres do setor produtivo como a carta aberta assinada por 51 membros do Conselho de Desenvolvimento Sustentável, ligado à presidência da República, entre os quais estão Luiza Trajano, do Magazine Luiza, e Josué Gomes, presidente da Fiesp.

Em relação à indústria a situação também não é das melhores. Em abril, em relação a março, a indústria teve uma contração de -0,6% segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM Regional), feita pelo IBGE. 10 dos 15 locais pesquisados seguiram a média nacional de queda. Dos 25 ramos pesquisados 16 tiveram recuo.

Enquanto isso a situação internacional continua turbulenta. O Instituto de Finanças Internacionais (IIF) prevê “um pouso suave” para as economias dos EUA e a economia global. Na zona do euro o crescimento seria 0,6%. A China vem adotando estímulos para conter a desaceleração em curso. As taxas de   juros continuam a crescer, as dívidas dos países a aumentar, mas os apelos pela guerra e gastos militares se mantêm. Eis o que temos a destacar na semana que findou. É preocupante!


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Tomás Cisneiros, Gustavo Figueiredo, Lucas Santos, Valentine de Moura e Miró Miranda.

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