Semana 10 a 16 de julho de 2023
Nelson Rosas Ribeiro[i]
A primeira etapa da reforma tributária foi
finalmente concluída, mas ainda há muito trabalho pela frente. Mais uma vez foi
demonstrada a grande habilidade do atual governo de formar consensos e
negociar. No entanto é um grande engano pensar que esta reforma representou
algo progressista que contribuiu para reduzir as desigualdades e injustiças
tributárias no país. Foi uma reforma para apenas arrumar a casa e muito ainda
terá de ser feito. Temos de esperar as negociações no Senado, a volta para a
Câmara e a assinatura do presidente. Depois das férias será a finalização do
arcabouço fiscal, e o Legislativo poderá voltar à normalidade. Poderemos nos
ocupar com as decisões a serem tomadas no Judiciário, o andamento das punições
aos golpistas que, esperamos, sejam muito rigorosas e, certamente, com os
movimentos da economia.
Por enquanto as coisas correm bastante bem.
A equipe do governo tem sido capaz de acalmar o “mercado” e o ambiente de
tragédia que a direita anunciava vai sendo levado ao ridículo. A bolsa anda
calma, o dólar se desvaloriza, os investimentos retornam, os agiotas da Faria
Lima baixam a crista e começam a cacarejar e abanar o rabinho. Até conhecidos
reacionários estão tecendo elogios ao governo e, particularmente, ao Haddad,
ministro da Fazenda, o que não deixa de ser um motivo de preocupação. A
desaceleração da inflação está contribuindo para isto e colocando o Banco
Central (BC) em maus lençóis. As justificativas para a manutenção da Selic nos
13,75% atuais estão acabando. Resta apenas a demência ideológica do Campos
Neto.
Além da questão dos juros altos e da
escassez do crédito, o governo central tem três grandes problemas a enfrentar:
a herança maldita do governo anterior, que exige dispêndio de energias com a
reconstrução do Estado, a fase de crise do ciclo econômico e a tumultuada
situação internacional provocada principalmente pela guerra na Ucrânia.
Confesso não partilhar do otimismo do
ministro Haddad que, entusiasmado com o IPCA de junho, que alcançou 3,16% no
acumulado de 12 meses, afirmou: “O Brasil hoje está na melhor situação possível
e nós temos tudo para começar um ciclo novo de desenvolvimento”. Na verdade, o
índice oficial da inflação do país caiu apenas 0,08% em junho. Muito pouco para
justificar o otimismo do ministro que pode ser perdoado diante das teorias
econômicas em voga. Acreditam que são “as expectativas” que levam os
capitalistas ao investimento. Por isto, todos os ministros da Fazenda são mais
ou menos mentirosos. Tem a ilusão de assim criar “expectativas” positivas que
levam naturalmente ao crescimento da economia: ingenuidade, má fé ou cegueira
ideológica.
A queda da inflação não permite muitas
comemorações, pois se deveu fundamentalmente a dois fatores: a queda dos preços
do petróleo, que fez cair os preços dos combustíveis, com repercussão sobre os
preços dos alimentos (-0,7%) e dos transportes (-0,4%) e o programa do governo
com subsídios na compra de veículos (queda de 2,8% nos preços). O IBGE também
identifica a influência da desvalorização do dólar nos preços da alimentação e
dos eletrodomésticos e eletrônicos.
Apesar da desaceleração da inflação as
perspectivas não são muito boas. O Indice de Atividade Econômica Stone Varejo,
calculado pela Stone e pelo Instituto Propague, mostrou uma queda das vendas no
varejo, de 4,2%, no primeiro semestre, e de 0,1% em junho. Os pesquisadores
apontam como causas a inadimplência dos consumidores e a renda das famílias
muito comprometida, problemas que permanecem agravados pelo aperto monetário
provocado pelo BC.
No que se refere à indústria a situação
também não é das melhores. A produção física da indústria de transformação
recuou 1,2% no primeiro trimestre segundo cálculos do Iedi. Para o setor de
máquinas, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimac)
mudou suas projeções para baixo prevendo uma queda de 3,4% para este ano.
Eis as consequências da herança maldita deixada por um desgoverno incompetente, por um lado, e por uma situação econômica adversa, por outro.
[i] Economista,
Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e
Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram
os pesquisadores: Guilherme de Paula, Raquel Lima, Helen Tomaz, Gustavo
Figueiredo e Letícia Rocha.
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