Semana de 17 a 23 de julho de 2023
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Em
junho passado comentamos os bons dados da economia brasileira nos três
primeiros meses de 2023. Em torno disto, criou-se no governo a expectativa de
que as coisas iriam de vento em popa. Normal, faz parte do pacote os governos
enaltecerem seus ganhos e disseminarem “boas energias”.
Porém,
expectativa não é realidade. Já trouxemos, em textos passados, explicações
sobre aquilo que os economistas chamam de ciclo econômico. Falamos também como
os elementos que causam o movimento alternado de aceleração e desaceleração da
economia sempre se impõem. E isso está acontecendo agora no Brasil, o que pode
ser visto em alguns dados consolidados que indicam uma desaceleração no segundo
trimestre de 2023. Como sempre, é a realidade penalizando as expectativas mais
otimistas.
Atualmente,
o mundo está passando por uma fase “complementar” de crise econômica. Os
elementos que causam a crise atual se instalaram nas economias centrais entre
2018 e 2019. Com a Pandemia, ela foi “deformada” e algumas economias até
cresceram intensamente. Porém, a crise mundial voltou à carga no fim do ano
passado.
No
caso do Brasil, contudo, a coisa foi um pouco diferente. Como estávamos em um
longo período de estagnação, causada por políticas econômicas restritivas, a
vitória de Lula trouxe novo alento ao país. Desde a crise de 2014, nosso
crescimento ficou abaixo do resto do mundo e de outras economias emergentes.
Mesmo quando saímos do fundo do poço, em 2017, isto se manteve. Mas a esperança
de melhora se confirmou nos dados do primeiro trimestre de 2023: na contramão
das principais economias do mundo, o Brasil acelerou seu crescimento.
Com
isto, governo e partidários passaram a acreditar que era só surfar nessa onda
de bonança e manter as expectativas em alta para que a economia acelerasse ao longo
de todo o ano. A ideia era estimular o “espírito animal” dos empresários, para
que estes contratem trabalhadores, encomendem insumos e produzam mais
mercadorias. Assim, a roda da economia voltaria a girar intensamente e
retomaríamos um ciclo virtuoso de crescimento. Com este objetivo, algumas
políticas que visam o aumento do consumo já foram adotadas, como a redução do
preço dos carros e a negociação de dívidas com instituições financeiras.
A
questão é que a realidade se impõe. Apesar de ser papel do governo criar o
“oba-oba”, o empresariado não se deixa enganar. As condições econômicas ainda
não estão suficientemente favoráveis aos investimentos. Mesmo com as
estimativas de desaceleração um pouco mais suave, a economia mundial não se
recuperou. Os dados da China, nossa maior parceira comercial, mostram que por
lá as coisas estão ruins como há muito não se via. O próprio governo brasileiro
está com dificuldades para puxar os investimentos pesados, tendo em vista que o
lançamento do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi adiado
novamente. Mesmo assim, a verba anunciada é pouca, chegando a apenas R$ 60
bilhões por ano.
Os
bancos estão trabalhando com prazos e custos de crédito em patamares
restritivos, porque não sentem confiança na economia. Entre janeiro e maio de
2023, o número de empresas brasileiras que pediram recuperação judicial subiu
50,5%, enquanto as falências cresceram 40,2% e a taxa de inadimplência de
pessoas jurídicas quase dobrou. Segundo sondagem da CNI, a produção industrial se
retraiu em junho de 2023. Além disso, a instituição indica que o emprego
industrial esteve em queda nos últimos 9 meses. Por sua vez, o uso da
capacidade instalada na indústria brasileira ficou em 69% em junho e o
indicador da formação de estoques tem mostrado elevação desde fevereiro.
Diante desses dados, não podemos descartar a influência da criminosa política monetária adotada por Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Porém, a Selic alta é um agravante em meio à crise econômica que o mundo, como totalidade, e o Brasil, como parte, vem passando. O governo tem tomado as medidas corretas, tentando amenizar os efeitos da crise. Porém, realisticamente, não devemos nos empolgar muito, afinal, o capitalismo tem seu movimento próprio. O máximo que podemos fazer é surfar, ou não, nesta onda que inevitavelmente vai quebrar na praia.
[i] Professor
do DRI/UFPB, PPGCPRI/UFPB e PPGRI/UEPB. Coordenador do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram os pesquisadores: Gustavo Figueiredo, Helen Tomaz, Letícia Rocha, Lucas
Santos e Valentine Moura.
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