Semana de 18 a 24 de dezembro de 2023
Lucas Milanez de Lima Almeida [i]
Penúltima semana do ano e é bom fazermos
uma retrospectiva. Nossas análises de dezembro já trouxeram alguns comentários
do que faltou para o PIB brasileiro decolar. Baixo investimento, juros altos e,
principalmente, a crise complementar para sanear uma economia (mundial) afetada
pela pandemia são os grandes culpados. Porém, para ilustrar, vale a pena
destacar alguns fatos ocorridos ao longo do ano. Tivemos de tudo, desde
tentativa de Golpe de Estado a discurso aclamado de Lula na ONU.
Na economia, ano começou com as piores
expectativas possíveis. O Boletim Focus, que reúne a opinião de um conjunto de
“analistas” de mercado, dizia que nosso PIB cresceria apenas 0,79% em 2023. Por
sua vez, o câmbio seria US$ 5,25; a inflação, 5,75%, e os juros, 12,5%. Não
precisamos repetir que, com exceção da Selic (mas aí é culpa do Banco Central),
todas essas previsões falharam miseravelmente. E nós havíamos previsto boa
parte disso, ainda em dezembro de 2022 (link).
Falando em taxa de juros, todo o primeiro
trimestre de 2023 foi pautado pelo embate entre Planalto e Banco Central.
Enquanto Fernando Haddad se virou para organizar o orçamento aloprado deixado
por Paulo Guedes, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, bateu o pé e manteve
o Brasil com a maior taxa real de juros do mundo. Dentre outras coisas, a
equipe de Lula recriou um conjunto de programas que tinham sido extintos ou
desfigurados pela “gestão” Bolsonaro. Isto exigia dinheiro do orçamento e tinha
como resultado a expansão do consumo. Na cabeça enviesada de Campos Neto,
apesar das evidências indicarem que o aumento dos preços naquele momento tinha
origem fora do país, isto causaria mais inflação.
O segundo trimestre de 2023 se iniciou com
os debates sobre o famoso (e agora esquecido) arcabouço fiscal. Pela ótica do
“tecnicismo”, esse foi o nome pomposo dado às novas regras que limitam as
despesas do governo federal, em substituição ao teto dos gastos. Pela ótica da
economia política, foi a sinalização de que o terceiro mandato de Lula
garantiria uma gorda fatia do dinheiro público para atender os interesses da
fração rentista das burguesias nacional e, principalmente, internacional.
Não que, na prática, seja um bom sinal, mas
o resultado não poderia ser outro: com a entrada de dólares no país, a taxa de
câmbio saiu de US$ 5,25 em março para US$ 4,74 em junho de 2023. Nesse mesmo
período o índice Ibovespa entrou em trajetória de crescimento, saindo de 97,9
mil para 120,4 mil pontos. Além disso, nesse meio tempo começaram a sair os
primeiros dados sobre a economia nacional, que apontavam um crescimento bem
acima das expectativas iniciais. Foi o suficiente para governo e apoiadores tocarem
as trombetas.
Porém, quando o terceiro trimestre de 2023
começou, os ares de bonança começaram a se esvair. Externamente, a economia
mundial manteve-se em desaceleração, não apenas os EUA, mas, principalmente,
Europa e China. Os bancos centrais pelo mundo reforçaram a política de elevação
dos juros para conter a inflação, o que reverteu a queda no dólar. Isso levou o
câmbio novamente a um patamar superior a US$ 5.
Internamente, alguns setores perderam
força. Por conta disto, no terceiro trimestre se aprofundou o debate sobre
políticas que estimulassem os investimentos pesados no país. Esse era (e é)
nosso calcanhar de Aquiles e, diante das mudanças na globalização e nas cadeias
produtivas mundiais, o Brasil precisava de uma “neoindustrialização”. Para
enfrentar o problema, no começo de agosto foi lançado o Novo PAC, que prometeu
um investimento total de R$ 1,7 trilhão até 2026. Na prática, não saiu do
papel.
Além disso, o governo brasileiro se
esforçou para iniciar a tramitação da reforma tributária, que promete
simplificar a cobrança de tributos que incidem sobre o consumo. Será o fim do
ICMS, ISS, PIS/COFINS, etc. É o sonho do empresariado brasileiro. Mas, ficou
para depois o sonho dos que querem ver um Brasil mais justo: a reforma do
imposto sobre a renda.
Neste quarto e último trimestre de 2023,
tivemos o proveito dos ainda fracos, mas bons ventos que sopraram com a volta
de Lula ao poder. Estamos numa situação infinitamente melhor que a dos últimos
4 anos, pois a esperança voltou. Porém, isso não quer dizer que está tudo bem.
Muito pelo contrário. Dentre outros fatores, só para exemplificar, o Congresso
Nacional ainda mantém o Poder Executivo numa relação tóxica.
Enfim, em 2023 houve o que comemorar, pois tiramos a cabeça da lama que foi o Brasil na última década. O problema é que, do pescoço pra baixo, ainda estamos submersos. É aquecer a esperança e reforçar a luta, até porque ano que vem tem eleições municipais. Esse é o nosso Feliz Ano Novo.
[i] Professor do DRI/UFPB, do PPGCPRI/UFPB e do PPGRI/UEPB;
Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com).
Colaboraram: Guilherme de Paula, Valentine de Moura, Helen Tomaz, Gustavo
Figueiredo, Letícia Rocha e Paola Arruda.