quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Além de guerra... Milei

Semana 13 a 19 de novembro de 2023

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

           

Não temos como iniciar esta análise sem fazer referências ao massacre do povo palestino, que continua implacável diante da passividade dos países do mundo. Os protestos começam a aumentar, diante da expansão das perversidades cometidas pelo estado sionista de Israel. Como já referimos, em análise anterior, os métodos utilizados por Israel aproximam-se dos métodos usados pelos exércitos nazistas e, em alguns aspectos, ultrapassam em crueldade. A propaganda sionista conseguiu vender a ideia do “direito de defesa de Israel” (o agressor tem direito de se defender), do direito de o “povo de deus” voltar para a “terra prometida”, além de explorar a culpa pelo holocausto. A consigna de “uma terra sem povo para um povo sem terra”, diante do fato da terra ter um povo, para ser realizada, precisa que o povo da terra seja retirado. É o que eles estão fazendo. Com ingenuidade ou má fé agem os que ainda não conseguiram entender, que este é o objetivo do Estado sionista de Israel: remover ou exterminar a população palestina, da Palestina, para que ela se transforme em “uma terra sem povo”.

Diante disto, é legítimo supor que o ataque do Hamas ocorreu em um momento oportuno e pode ter tido por trás o dedo da inteligência israelita. Eles já foram capazes de treinar e armar o próprio Hamas, contra o Fatah e a OLP, quando isto lhes foi conveniente. E continuam a fomentar todas as divergências entre árabes fornecendo dinheiro e armas a diferentes grupos rivais, sempre escudados no poderio dos EUA. Na atual guerra, mantendo-se fiel a sua tradição truculenta, Israel, mais uma vez, não cumpre as decisões da ONU e muito menos do Conselho de Segurança negando-se a dar uma trégua e suspender os bombardeios para a retirada das populações. Netanyahu recusa negociar a libertação dos reféns, em Gaza, apesar dos protestos internos. Os prognósticos continuam muito negativos, mesmo com as pressões vindas de todos os lados.

Estava a terminar esta análise quando foi divulgada a informação de que serão feitas negociações para a troca de prisioneiros e o estabelecimento de uma trégua de alguns dias, para que isto seja possível. Esperamos que os entendimentos tenham êxito. Parece que o governo Netanyahu foi obrigado a ceder diante dos protestos da população, dentro do país e no exterior.

Outro importante acontecimento da semana foi a eleição do presidente da Argentina. Para decepção geral o eleito foi o demente Javier Milei, que consegue ser pior que o Bolsonaro. Com um discurso histérico e desequilibrado, conquistou o eleitorado desesperado com a difícil situação econômica do país e a descrença nos políticos. Espera-se agora o pior, embora se saiba que as promessas tresloucadas feitas por ele, dificilmente serão implementadas. Mais uma fonte de tensões e desequilíbrios para nossa tão sofrida América do Sul e que compromete o Mercosul, já condenado pelo novo presidente.

A atenção provocada por estes dois acontecimentos tirou do foco todas as demais preocupações, que tumultuam o panorama mundial. Voltemos então a atenção para as questões internas.

Continua a luta pelo orçamento com o centrão e a direita procurando inviabilizar, de todos os modos, as iniciativas do governo, em sua tentativa de fazer crescer a economia. O esforço para manter o déficit primário zero é permanentemente sabotado. Há forte resistência em aprovar medidas para aumentar a receita, o que compromete o prometido equilíbrio fiscal. O parlamento tenta de todas as maneiras manter o controle sobre o orçamento, através das “emendas individuais e de bancada”. Querem agora criar mais um tipo de emenda: a de “bancadas temáticas”. Para isto será preciso transferir recursos de outros títulos para pagar estas emendas, considerada de execução obrigatória.

As perspectivas para o crescimento da economia já não são muito boas e a situação tende a deteriorar-se no terceiro trimestre. Um dos sinais para isto é a queda da arrecadação de 0,34%, em setembro, e desaceleração do setor de serviços, a queda sazonal do agronegócio, a redução dos investimentos e da produção industrial que, em setembro, cresceu apenas 0,1%. No acumulado do ano até setembro houve um recuo de 0,2%. Os únicos sinais favoráveis vieram do mercado de trabalho, que registrou uma taxa de desocupação de 7,7%, e do comportamento da inflação, que caiu para 0,24% em outubro, chegando o acumulado no ano a 4,82%, perto do teto da meta

As perspectivas para 2024 pioraram. Teremos dificuldades.


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Gustavo Figueiredo, Helen Tomaz e Raquel Lima.

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