quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Ainda a Nova Indústria Brasil (NIB)

Semana 05 a 11 de fevereiro de 2024

 

Nelson Rosas Ribeiro[i]

            

Continua na pauta o debate sobre a Nova Indústria Brasil (NIB), divulgada em documento, semanas atrás, e de que já tratamos aqui. Como também falamos, fazia falta a elaboração de ações que orientassem a construção de uma política para a neoindustrialização do país. O Brasil já havia alcançado uma posição destacada no campo da agroindústria e como fornecedor de produtos agrícolas e minerais, as chamadas commodities. Tornou-se um dos maiores exportadores mundiais de várias delas. Avançamos em outra posição de destaque no campo do petróleo e derivados, o que foi consagrado com o convite para integrar a OPEP plus. Faz falta assumir, então, uma posição no terreno da produção industrial, onde já estivemos entre os 10 maiores do mundo. Esta posição foi sendo perdida diante da incompetência e subserviência da burguesia nacional e de sucessivos governos. Com o avanço do capitalismo e das tecnologias na agricultura, ganhamos a atual posição de destaque no agronegócio. Há que lamentar a destruição causada nos diferentes biomas, onde a ganância se sobrepõe à racionalidade e práticas predatórias foram disseminadas, provocando danos de difícil reparação. Todos estes fenômenos transcorreram sem despertar grandes celeumas ou controvérsias. Agora a casa de marimbondos foi assanhada. E o que vem provocando tal confusão?

Uma velha discussão, há muito superada, voltou: a discussão sobre o papel do Estado na economia. Falamos disso em uma análise anterior. A discussão divide os economistas em duas correntes: os chamados ortodoxos (liberais, neoclássicos), que defendem a não intervenção do Estado na economia, e a outra corrente, os heterodoxos (keynesianos, desenvolvimentistas, marxistas), que consideram que o Estado deve ter uma função de orientação e coordenação na promoção do crescimento. A predominância dos heterodoxos no governo atual levou à publicação do documento.

Para a realização da NIB, estão destinados recursos da ordem de R$ 300 bilhões a serem gastos em 4 anos. Aí começou o berreiro. Os guardiões do equilíbrio fiscal passaram a criticar a gastança, que terá consequências no aumento do déficit do orçamento. Não se deram conta que no documento não está previsto nenhum tostão do tesouro. Os recursos virão do FNDCT, do FUST, do FAT e de captação internacional. É de notar ainda que, quando o governo reservou R$ 364 bilhões para o Plano Safra gastar em um ano, não houve qualquer protesto. Os críticos nem sequer se dão ao trabalho de olhar para o que ocorre no mundo capitalista desenvolvido neste momento de reestruturação da globalização. As políticas industriais estão dominando o mundo. Para se ter uma ideia, em muitos países desenvolvidos estão sendo praticadas políticas de industrialização e, para isto, são destinados imensos recursos. Somando-se EUA, União Europeia, Reino Unido e Japão, por exemplo, o montante atinge US$ 6,8 trilhões. E é preciso considerar as desvantagens que temos por cá, como o “custo Brasil” que atinge R$ 1,7 trilhão. Além disso, os spreads bancários aqui são de 27,4%, enquanto a média mundial é de 7,3%.

O NIB destacou 4 temas para a ação do governo: inovação, produtividade, descarbonização e exportação, tendo como elemento central a indústria. Pretende-se estimular o combate às emissões dos gases de efeito estufa, a produção de biocombustíveis, a criação de uma matriz energética mais limpa, ações em que já temos experiência.

As propostas visam a nos posicionar melhor nesta nova etapa da globalização, uma vez que já se compreendeu que não há como fugir da integração neste processo. O acirramento das tensões internacionais ameaça interromper os circuitos comerciais que passam pelo mar vermelho. Aumentam as possibilidades de generalização da guerra na região da Palestina, diante dos massacres praticados por Israel em Gaza. Tornaram-se cada vez mais usados os termos como friend-shoring, nearshoring, indicando o deslocamento das relações comerciais do Ocidente para países mais próximos e o enfraquecimento das ligações com os países asiáticos, o que é ainda mais agravado pelas tensões com a China. Torna-se necessário aproveitar o momento.


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Gustavo Figueiredo, Paola Arruda, Raquel Lima e Valentine Moura.

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