sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Uma política para a neoindustrialização

Semana 22 a 28 de janeiro de 2024

 

Nelson Rosas Ribeiro[i] 

           

Não resta dúvida de que um dos mais importantes acontecimentos da semana foi a publicação do documento intitulado a Nova Indústria Brasil (NIB). Nele está esboçada uma política industrial para o país. Estava fazendo falta. Temos sofrido com o fenômeno da desindustrialização, já há algumas décadas, sem que nenhuma reação tenha sido esboçada. A incompetência e debilidade de nossa burguesia dificilmente torná-lo-ia protagonista desta iniciativa. Seu comprometimento com o sistema financeiro, com o agronegócio e com o capital internacional a torna caudatária destes outros segmentos. Só o Estado teria a capacidade de lançar este projeto. Infelizmente, depois da deposição da Presidente Dilma, passamos por um tenebroso período de incompetência e desgovernos que paralisou o país. Com a eleição do novo governo, esta iniciativa tornou-se possível. Esperamos, agora, que os setores empresariais deem sua colaboração. Por enquanto, apenas a CNI declarou apoio. A poderosa Fiesp mostra-se reticente. Consultorias e economistas ligados ao setor financeiro e a conhecidos centros de pesquisa e universidades já vieram a campo para desferir ataques ideológicos ao projeto.

Alguns órgãos da imprensa entraram no combate. O problema é que mexeram com uma grande questão teórica que divide os economistas em duas grandes correntes. É um debate antigo sobre o papel do Estado na economia. Os chamados ortodoxos (liberais, neoclássicos) defendem a não intervenção do Estado nas questões econômicas, pois, as forças do mercado, espontaneamente, orientam os agentes econômicos, levando ao equilíbrio na utilização dos fatores de produção. A outra corrente, os heterodoxos (keynesianos, desenvolvimentistas, marxistas), consideram que o Estado deve ter uma função de orientação e coordenação na utilização dos fatores econômicos e que o mercado, por si só, não consegue conduzir um processo de desenvolvimento equilibrado. No governo atual, predominam os economistas heterodoxos que, finalmente, saíram a campo para aplicar suas teorias. Curiosamente, desta vez estão recebendo um grande suporte da situação internacional e das políticas econômicas, que estão sendo praticadas em muitos países desenvolvidos.

Temos destacado, em análises anteriores, que a atual situação econômica do mundo atravessa um momento muito delicado. Fenômenos de ordem não econômica têm interferido nas relações entre os países e contribuído para desorganizar a produção. Para não falar no aquecimento global, com as catástrofes que vem provocando, já mencionamos a pandemia do Covid-19 como um dos fatores de grande impacto. Ainda não bem superado este impacto, outro acontecimento, igualmente não econômico, abalou o panorama europeu: a guerra Rússia Ucrânia. Estes dois fenômenos atingiram em cheio o processo de recuperação da economia mundial, que vinha saindo de mais uma crise cíclica. Houve uma ruptura geral dos processos produtivos, das cadeias de valor, das comunicações, do comércio mundial, das rotas de navegação, do fornecimento de matérias primas e insumos os mais diversos. O processo de globalização, que vinha atravessando uma fase de reestruturação, sofreu um grande impacto. Agora, como se não fosse já suficiente, a nova guerra Israel Gaza voltou a levar as relações internacionais a um ponto ainda mais elevado de tensão. 

O envolvimento dos EUA e da União Europeia no massacre brutal, que ocorre em Gaza e no resto da Palestina, tem levado à revolta e reação de várias organizações árabes fazendo surgir o perigo de generalização da guerra em toda a área. A navegação pelo Mar Vermelho já começa a ser atingida pelos ataques efetuados pelos Houtis do Iêmen, que passou a ser bombardeado por ingleses e americanos. O sul do Líbano já está em estado de guerra e os ataques chegaram à Jordânia. Surge a ameaça de fechamento total da área, com o bloqueio do Canal de Suez, e o consequente deslocamento da navegação para o contorno do sul da África, o que acarretará o aumento dos fretes e do tempo de viagem dos navios. Se o processo de globalização vinha sofrendo uma reestruturação, agora a situação agravou-se ainda mais.

Tornam-se, portanto, urgentes as medidas que possam buscar soluções, para a nossa industrialização, a fim de que possamos nos colocar em posição mais vantajosa dentro deste processo de grande ebulição na conjuntura mundial.


[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira; nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com). Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Gustavo Figueiredo, Raquel Lima, Maria Vitória Freitas, Brenda Tiburtino e Paola Arruda.

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