Semana 22 a 28 de janeiro
de 2024
Nelson Rosas Ribeiro[i]
Não resta dúvida de que um dos mais
importantes acontecimentos da semana foi a publicação do documento intitulado a
Nova Indústria Brasil (NIB). Nele está esboçada uma política industrial para o
país. Estava fazendo falta. Temos sofrido com o fenômeno da
desindustrialização, já há algumas décadas, sem que nenhuma reação tenha sido
esboçada. A incompetência e debilidade de nossa burguesia dificilmente
torná-lo-ia protagonista desta iniciativa. Seu comprometimento com o sistema
financeiro, com o agronegócio e com o capital internacional a torna caudatária
destes outros segmentos. Só o Estado teria a capacidade de lançar este projeto.
Infelizmente, depois da deposição da Presidente Dilma, passamos por um
tenebroso período de incompetência e desgovernos que paralisou o país. Com a
eleição do novo governo, esta iniciativa tornou-se possível. Esperamos, agora,
que os setores empresariais deem sua colaboração. Por enquanto, apenas a CNI
declarou apoio. A poderosa Fiesp mostra-se reticente. Consultorias e economistas
ligados ao setor financeiro e a conhecidos centros de pesquisa e universidades
já vieram a campo para desferir ataques ideológicos ao projeto.
Alguns órgãos da imprensa entraram no
combate. O problema é que mexeram com uma grande questão teórica que divide os
economistas em duas grandes correntes. É um debate antigo sobre o papel do
Estado na economia. Os chamados ortodoxos (liberais, neoclássicos) defendem a
não intervenção do Estado nas questões econômicas, pois, as forças do mercado,
espontaneamente, orientam os agentes econômicos, levando ao equilíbrio na
utilização dos fatores de produção. A outra corrente, os heterodoxos
(keynesianos, desenvolvimentistas, marxistas), consideram que o Estado deve ter
uma função de orientação e coordenação na utilização dos fatores econômicos e
que o mercado, por si só, não consegue conduzir um processo de desenvolvimento
equilibrado. No governo atual, predominam os economistas heterodoxos que,
finalmente, saíram a campo para aplicar suas teorias. Curiosamente, desta vez
estão recebendo um grande suporte da situação internacional e das políticas
econômicas, que estão sendo praticadas em muitos países desenvolvidos.
Temos destacado, em análises anteriores,
que a atual situação econômica do mundo atravessa um momento muito delicado.
Fenômenos de ordem não econômica têm interferido nas relações entre os países e
contribuído para desorganizar a produção. Para não falar no aquecimento global,
com as catástrofes que vem provocando, já mencionamos a pandemia do Covid-19
como um dos fatores de grande impacto. Ainda não bem superado este impacto,
outro acontecimento, igualmente não econômico, abalou o panorama europeu: a guerra
Rússia Ucrânia. Estes dois fenômenos atingiram em cheio o processo de
recuperação da economia mundial, que vinha saindo de mais uma crise cíclica.
Houve uma ruptura geral dos processos produtivos, das cadeias de valor, das
comunicações, do comércio mundial, das rotas de navegação, do fornecimento de
matérias primas e insumos os mais diversos. O processo de globalização, que
vinha atravessando uma fase de reestruturação, sofreu um grande impacto. Agora,
como se não fosse já suficiente, a nova guerra Israel Gaza voltou a levar as
relações internacionais a um ponto ainda mais elevado de tensão.
O envolvimento dos EUA e da União Europeia
no massacre brutal, que ocorre em Gaza e no resto da Palestina, tem levado à
revolta e reação de várias organizações árabes fazendo surgir o perigo de
generalização da guerra em toda a área. A navegação pelo Mar Vermelho já começa
a ser atingida pelos ataques efetuados pelos Houtis do Iêmen, que passou a ser
bombardeado por ingleses e americanos. O sul do Líbano já está em estado de
guerra e os ataques chegaram à Jordânia. Surge a ameaça de fechamento total da área,
com o bloqueio do Canal de Suez, e o consequente deslocamento da navegação para
o contorno do sul da África, o que acarretará o aumento dos fretes e do tempo
de viagem dos navios. Se o processo de globalização vinha sofrendo uma
reestruturação, agora a situação agravou-se ainda mais.
Tornam-se, portanto, urgentes as medidas que possam buscar soluções, para a nossa industrialização, a fim de que possamos nos colocar em posição mais vantajosa dentro deste processo de grande ebulição na conjuntura mundial.
[i] Economista, Professor Emérito da UFPB e Vice Coordenador do
Progeb – Projeto Globalização e Crise na Economia Brasileira;
nelsonrr39@hotmail.com; (www.progeb.blogspot.com).
Colaboraram os pesquisadores: Guilherme de Paula, Gustavo Figueiredo, Raquel
Lima, Maria Vitória Freitas, Brenda Tiburtino e Paola Arruda.
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