Semana de 06 a 12 de maio de 2024
Rosângela Palhano Ramalho [i]
Caro leitor, enquanto esta análise estava
sendo escrita, novas informações e imagens impressionantes vão dando a dimensão
da tragédia climática que se abateu sobre o Rio Grande do Sul. Enquanto o nível
da água do Lago Guaíba em Porto Alegre continua a subir (agora com ondas), o
estado computa 148 mortes, mais de 120 desaparecidos, pouco mais de 600 mil
desabrigados e ainda terá que enfrentar os dias mais frios do ano que estão por
vir. A população brasileira continua a enviar donativos às regiões afetadas, e
os governos se esforçam para apresentar soluções imediatas, abrigando a
população e abrindo frentes para minorar os efeitos dos alagamentos. Por outro
lado, a rede de desinformação alimentada pelo bolsonarismo continua a espalhar
fake news que, de tão abjetas, apenas revelam o caráter desprezível de quem as
dissemina.
A catástrofe do Rio Grande do Sul começa a
ser contabilizada. Estima-se que os prejuízos municipais, públicos e privados,
já alcancem R$ 6,3 bilhões, segundo a Confederação Nacional de Municípios. O
estado tem o quarto maior PIB do país e atingirá negativamente o PIB nacional
entre 0,2 e 0,3 ponto percentual. Mesmo com este impacto, a economia brasileira
continuará se recuperar e provavelmente crescerá acima dos 2%. Nunca é demais
lembrar que as estimativas iniciais do “mercado” para o crescimento do ano passado
eram de apenas 1%. Consolidada a apuração anual, o IBGE registrou em 2023 um
PIB de 2,9%! Ao que parece, foi computado na previsão o ranço que o “mercado”
apresenta contra os governos de viés mais progressista.
Em termos da economia, a notícia que ganhou
destaque esta semana foi o corte de 0,25% da taxa Selic. A taxa caiu de 10,75%
para 10,5% ao ano. Com esta decisão, o Comitê de Política Monetária do Banco
Central interrompeu o ciclo de seis quedas consecutivas de 0,5%. Buscam-se os
motivos. Listam-se dois: os “possíveis impactos” da tragédia gaúcha sobre os
preços e o ambiente externo que “mostra-se mais adverso”, em virtude incerteza
sobre o início da flexibilização da política monetária nos Estados Unidos. Ou seja,
não há nada de concreto que justifique tal decisão. Mas, é necessário lembrar
que em meados de abril, conforme relatado aqui, o presidente do Banco Central,
Roberto Campos Neto, do alto da sua inerente empáfia, já havia bradado aos
quatro cantos, que não havia garantias de um novo corte de 0,5% na taxa de
juros em razão da redefinição da meta fiscal de 2025 pelo governo federal.
Resultado: dos nove votos do Copom, quatro foram para o corte de 0,5% da taxa
de juros e quatro para o corte de 0,25%. Como o voto de minerva ficou nas mãos
de Campos, imagine-se o seu regozijo em votar favorável ao menor corte!
Imediatamente, uma nova polêmica no
espectro das decisões sobre a economia passou a ser alimentada. Resumindo a
definição ao âmbito político, logo se relacionou que os quatro votos favoráveis
ao corte de 0,5% foram de membros da diretoria indicados pelo governo Lula,
enquanto os outros quatro que votaram pelo corte de 0,25% foram indicados pelo
ex-presidente Bolsonaro. Esses “alinhamentos políticos”, dizem os “analistas”,
trazem ainda mais incertezas sobre a política monetária.
Se é assim, onde está a independência, a
autonomia da autoridade monetária, tão elogiada e endossada pelos mandatos
fixos de 4 anos de seu presidente e diretores, não coincidentes com o mandato
do Presidente da República?
O que se presencia no Copom não é uma disputa Lula-Bolsonaro mas uma rivalidade entre teorias econômicas. De um lado, considera-se que o país deve manter a austeridade fiscal e monetária para controlar a inflação. De outro, defende-se que a manutenção de uma taxa de juros baixa estimularia a economia via aumento do emprego, consumo e pagamento de impostos atenuando os efeitos inflacionários. É isso. No fim das contas ganha no Copom quem forma maioria. Simples assim.
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e
pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br,
rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Brenda Tiburtino,
Valentine de Moura, Raquel Lima e Paulo Victor.
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