quarta-feira, 15 de maio de 2024

Catástrofe gaúcha e redução no corte dos juros

Semana de 06 a 12 de maio de 2024

 

Rosângela Palhano Ramalho [i]

           

Caro leitor, enquanto esta análise estava sendo escrita, novas informações e imagens impressionantes vão dando a dimensão da tragédia climática que se abateu sobre o Rio Grande do Sul. Enquanto o nível da água do Lago Guaíba em Porto Alegre continua a subir (agora com ondas), o estado computa 148 mortes, mais de 120 desaparecidos, pouco mais de 600 mil desabrigados e ainda terá que enfrentar os dias mais frios do ano que estão por vir. A população brasileira continua a enviar donativos às regiões afetadas, e os governos se esforçam para apresentar soluções imediatas, abrigando a população e abrindo frentes para minorar os efeitos dos alagamentos. Por outro lado, a rede de desinformação alimentada pelo bolsonarismo continua a espalhar fake news que, de tão abjetas, apenas revelam o caráter desprezível de quem as dissemina.

A catástrofe do Rio Grande do Sul começa a ser contabilizada. Estima-se que os prejuízos municipais, públicos e privados, já alcancem R$ 6,3 bilhões, segundo a Confederação Nacional de Municípios. O estado tem o quarto maior PIB do país e atingirá negativamente o PIB nacional entre 0,2 e 0,3 ponto percentual. Mesmo com este impacto, a economia brasileira continuará se recuperar e provavelmente crescerá acima dos 2%. Nunca é demais lembrar que as estimativas iniciais do “mercado” para o crescimento do ano passado eram de apenas 1%. Consolidada a apuração anual, o IBGE registrou em 2023 um PIB de 2,9%! Ao que parece, foi computado na previsão o ranço que o “mercado” apresenta contra os governos de viés mais progressista.

Em termos da economia, a notícia que ganhou destaque esta semana foi o corte de 0,25% da taxa Selic. A taxa caiu de 10,75% para 10,5% ao ano. Com esta decisão, o Comitê de Política Monetária do Banco Central interrompeu o ciclo de seis quedas consecutivas de 0,5%. Buscam-se os motivos. Listam-se dois: os “possíveis impactos” da tragédia gaúcha sobre os preços e o ambiente externo que “mostra-se mais adverso”, em virtude incerteza sobre o início da flexibilização da política monetária nos Estados Unidos. Ou seja, não há nada de concreto que justifique tal decisão. Mas, é necessário lembrar que em meados de abril, conforme relatado aqui, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, do alto da sua inerente empáfia, já havia bradado aos quatro cantos, que não havia garantias de um novo corte de 0,5% na taxa de juros em razão da redefinição da meta fiscal de 2025 pelo governo federal. Resultado: dos nove votos do Copom, quatro foram para o corte de 0,5% da taxa de juros e quatro para o corte de 0,25%. Como o voto de minerva ficou nas mãos de Campos, imagine-se o seu regozijo em votar favorável ao menor corte!

Imediatamente, uma nova polêmica no espectro das decisões sobre a economia passou a ser alimentada. Resumindo a definição ao âmbito político, logo se relacionou que os quatro votos favoráveis ao corte de 0,5% foram de membros da diretoria indicados pelo governo Lula, enquanto os outros quatro que votaram pelo corte de 0,25% foram indicados pelo ex-presidente Bolsonaro. Esses “alinhamentos políticos”, dizem os “analistas”, trazem ainda mais incertezas sobre a política monetária.

Se é assim, onde está a independência, a autonomia da autoridade monetária, tão elogiada e endossada pelos mandatos fixos de 4 anos de seu presidente e diretores, não coincidentes com o mandato do Presidente da República?

O que se presencia no Copom não é uma disputa Lula-Bolsonaro mas uma rivalidade entre teorias econômicas. De um lado, considera-se que o país deve manter a austeridade fiscal e monetária para controlar a inflação. De outro, defende-se que a manutenção de uma taxa de juros baixa estimularia a economia via aumento do emprego, consumo e pagamento de impostos atenuando os efeitos inflacionários. É isso. No fim das contas ganha no Copom quem forma maioria. Simples assim.


[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br, rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Brenda Tiburtino, Valentine de Moura, Raquel Lima e Paulo Victor.

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