Semana de 10 a 16 de junho de 2024
Lucas Milanez de Lima
Almeida [i]
Caro
leitor, semana passada tivemos alguns fatos de grande relevância no cenário
nacional. Contudo, antes de tratarmos de alguns desses temas, decidi fazer um
breve relato do que vi nesse período.
Entre
os dias 12 e 14 de junho de 2024, ocorreu o XXIX Encontro Nacional de Economia
Política (ENEP), promovido pela Sociedade Brasileira de Economia Política. O
evento aconteceu na cidade de Marabá, especificamente na sede da Universidade
Federal do Sul e Sudeste do Pará. Como não poderia ser de outra forma, o tema
central das atividades foi o meio ambiente, sob o título: “O Capital na
Berlinda: emergência climática e o lugar da Pan-Amazônia para o futuro da
humanidade”. Em breve, as gravações estarão disponíveis no canal da SEP TV no
YouTube.
Como
já sugere o slogan do evento, as discussões giraram em torno dos elementos
essenciais do sistema capitalista e como eles têm afetado o planeta Terra.
Evidentemente, o destaque foi nossa maior floresta e os povos que nela habitam.
A grande conclusão a que se chegou foi: o processo de acumulação de capitais é,
inevitavelmente, um processo de destruição da natureza. A realidade tem
mostrado que uma das consequências fundamentais deste processo, incessante e
insaciável, é a piora nas condições de manutenção de todos os tipos de vida.
As
chuvas e as secas extremas são algumas das manifestações disto. Outro
indicativo é o fato de que já estamos há 12 meses seguidos batendo recordes de
calor em todo o planeta. Dizendo de outra forma, desde junho de 2023, todos os
meses que passaram foram os meses mais quentes da nossa história: o junho mais
quente, o julho mais quente, o agosto mais quente, até chegarmos em maio de
2024, o mês de maio mais quente da história. Nesse período, o ar atmosférico
esteve 1,63ºC acima do registrado entre 1850 e 1900. Segundo estudos recentes,
o chamado “limite seguro das mudanças climáticas” é de 1,5ºC (acima da média de
1850-1900) e seria prudente atingirmos esse patamar apenas no fim do século
XXI.
Outro
destaque no XXIX ENEP foram os diversos relatos de indígenas, acerca da violência por eles sofrida ao longo
dos anos. Povos originários, eles foram encurralados por grileiros e, sempre
que preciso, assassinados das mais diversas formas. As histórias retratam,
desde o uso de armas de fogo, ao de armas químicas pulverizadas de aviões sobre
as aldeias. Além disso, ficou flagrante a absorção das culturas tradicionais
pela lógica do capital, o que alterou a forma como os indígenas se relacionam
entre si e com a natureza.
Contudo,
na mesma semana em que ocorria o evento, entrou em pauta o PL do estuprador
(1904/2024) na Câmara Federal, de autoria do deputado Sóstenes Cavalcante
(PL-RJ). Não há muito o que se discutir sobre esta proposta, completa e
absolutamente perversa. Apresentado por autointitulados liberais, o projeto de
lei é uma ingerência sobre a vida dos indivíduos. Mas não são quaisquer
indivíduos, em abstrato. Na realidade, são o machismo e a misoginia ingerindo
sobre as mulheres. Além disso, essa interposição não incide apenas nas mulheres
em geral, mas especificamente sobre as que foram violadas da pior forma que
possa existir, as que foram engravidadas por estupradores. Mais uma vez, a
sociedade discrimina e impõe às mulheres o que elas devem fazer com seus próprios
corpos.
Infelizmente,
o grupo político que idealizou esta aberração representa uma parcela
significativa dos brasileiros. Desde as eleições de 2018, a pauta do Congresso
Nacional tem funcionado como uma verdadeira nuvem de fumaça, em vários
sentidos. O primeiro deles é figurado e corresponde às dificuldades que muitos
estamos tendo de contemplar um futuro mais civilizado. A bancada da bíblia
(incluindo evangélicos e católicos) tentam impor os seus próprios “valores” e
costumes a todos. Essa é uma pauta própria e de interesse dos integrantes da
bancada. A questão é que esta fumaça turva não só nosso horizonte de
civilidade, mas nos distrai. Enquanto gastamos energia com temas de ordem
moral, nos é requerido força para enfrentar os projetos das bancadas da bala e
do boi, que querem “passar a boiada”.
É aí
que voltamos ao início da análise. Na prática, essa tríade BBB (bíblia, bala e
boi) existe para atender aos interesses daqueles que estão a destruir não só a
Amazônia e seus povos, mas daqueles que sonham em privatizar nossas praias e
daqueles que desejam ainda mais austeridade. Enfim, eles apenas dão cara aos
que buscam lucrar a todo custo.
O terror em que vivemos no Brasil não é um acaso do destino, mas o resultado de um processo histórico de desenvolvimento, o desenvolvimento capitalista. A realidade tem sido cada vez mais clara: sem o seu rompimento, não há saída.
[i] Professor do DRI/UFPB, do PPGCPRI/UFPB e do PPGRI/UEPB;
Coordenador do PROGEB. (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; @almeidalmilanez; lucasmilanez@hotmail.com). Colaboraram: Ryann Félix, Guilherme de Paula, Lara
Souza, Valentine de Moura, Gustavo Figueiredo e Paola Arruda.
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