Semana de 27 de maio a 02 de junho de
2024
Rosângela Palhano Ramalho [i]
Que o governo Lula enfrenta dificuldades é
fato, pois, ao mesmo tempo em que providencia soluções para as consequências do
desastre climático do Rio Grande do Sul, lida com os mais variados boicotes. O
país elegeu um Congresso Nacional extremamente reacionário e a formação da
maioria parlamentar para os projetos governistas no plenário é um desafio
diário. A oposição tenta desgastar o governo, priorizando a pauta de costumes
para alimentar os devaneios e a intolerância da súcia bolsonarista. Pôs-se fim à
saída temporária de presos, e quando o atual presidente vetou o trecho que
proibia, inclusive, a saída dos detentos para visitar a família e para praticar
atividades que contribuam para o retorno ao convívio social, derrubou-se o
veto, como se aqueles seres, humanos não fossem. Por outro lado, os
parlamentares mantiveram o veto do ex-presidente à criminalização da propagação
de notícias falsas. Ou seja, aos presos negou-se a reabilitação social, mas os
nobres deputados receberam o aval para continuar a cometer crimes impunemente,
através das fake news. Nos próximos dias, espera-se mais agitação. A Comissão
de Constituição e Justiça da Câmara discutirá a criminalização de qualquer
volume para o porte de drogas, o Senado debaterá projeto visando derrubar decisão
do governo que endureceu o acesso a armas, e a regulamentação do Ministério do
Trabalho sobre a lei de igualdade salarial entre homens e mulheres também está
ameaçada. Até mesmo o Plano Nacional de Educação está na mira reacionária, pois
levantou “suspeitas” dos “imaculados” evangélicos.
No âmbito econômico também brotam
tentativas de encurralamento. Polêmicas relativas ao arcabouço fiscal e à
política monetária (diga-se, definição da taxa de juros) continuam sendo
alimentadas. O “mercado” e os que o representam, que vão desde os chamados
“estrategistas”, especuladores, analistas financeiros, economistas a serviço,
até o presidente do Banco Central, “analisam neutralmente” a economia. Roberto
Campos Neto, em almoço com empresários em São Paulo, disse haver uma
“desancoragem em andamento”, ou seja, aumentou a expectativa de que a inflação
está se distanciando da meta. Novamente culpou as decisões da ala fiscal e se
armou com os juros.
O curioso é que, em maio, o IPCA-15 (Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, mensurado do dia 16 do mês de abril ao
dia 15 do mês de maio), subiu 0,44%. O indicador, considerado a prévia da
inflação oficial, ficou abaixo do esperado pela mediana apurada pela projeção
do Valor Data. Os resultados econômicos que Campos Neto finge não ver, agradou
ao FMI. A inflação controlada foi um dos motivos pelos quais o órgão revisou a
taxa de crescimento do PIB brasileiro para 2,1% este ano. Destacando a “notável
resiliência” da economia brasileira nos últimos dois anos e “inflação recuando
para o intervalo da meta” o FMI também destoou da projeção do Boletim Focus que
apresentou recuo do PIB em 2024 de 2,1% para 2,05%.
Enquanto as víboras se movem ambicionando a
aplicação de juros altos para atender quem lhes remunera, pesquisas dão conta
que o setor produtivo planeja continuar investindo no país. A pesquisa Agenda
da Deloitte foi realizada com 411 empresas responsáveis por uma receita que
equivale a 20% do PIB do país, em valores de 2023. Em termos de investimentos,
82% das empresas lançarão produtos ou serviços, 33% pretendem ampliar os pontos
de venda para seus produtos, 21% aumentarão o parque fabril, 16% abrirão novas
unidades de produção e 17% pretendem adquirir novas empresas. Em outra
pesquisa, agora realizada pelo jornal Valor Econômico, junto aos 24 empresários
que receberam o Prêmio Executivo Valor deste ano, grandes empresas da área do
saneamento, energia, construção, telecomunicações, infraestrutura, motores e
celulose, quando consultadas em relação aos seus planos produtivos para 2024 e
2025, confirmaram a manutenção e a criação de novos investimentos, apesar dos
juros elevados.
Por fim, na oportunidade em que este texto era finalizado, o IBGE divulgava os números do PIB para o 1º trimestre deste ano. O indicador cresceu 0,8%. E de novo, o resultado está acima do que foi projetado pelas principais agências de pesquisa. A realidade censura mais uma vez as prospectivas do caos. Por outro lado, os que desejam a política do quanto pior, melhor, devem estar em êxtase, afinal poderão prescrever o remédio amargo para o crescimento econômico.
[i] Professora do Departamento de Economia da UFPB e
pesquisadora do PROGEB (@progebufpb, www.progeb.blogspot.com; rospalhano@yahoo.com.br,
rosangelapalhano31@gmail.com). Colaboraram os pesquisadores: Ryann Félix,
Valentine de Moura e Gustavo Figueiredo.
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